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14.1.17

UMA HISTÓRIA DE AMOR -- PARTE XIV


Aproximou-se perigosamente dele.  
-Que se passa contigo, Simão? O que foi que eu te fiz? Porque me odeias? Desde menina, sempre foste o meu irmão preferido. Aquele em quem confiava de olhos fechados. Depois já adolescente, eras o meu ídolo. Ficava tão feliz quando nos ias buscar à escola e nos trazias para casa. Imaginas o que choramos, eu e Matilde quando foste para Paris? O quanto nos sentimos desamparadas sem ti?
A Marta não. A Marta era muito extrovertida, tinha muitos amigos, uma legião de admiradores, primeiro na escola, depois na Universidade. Ela não deve ter sentido a tua falta. Eu e a Matilde eramos diferentes. Mais tímidas. Tínhamos um certo receio de nos juntarmos aos outros. Tu eras a nossa tábua de salvação. E deixaste-nos à deriva.
As últimas palavras foram como um lamento. Simão amaldiçoou-se em silêncio. Queria consolá-la e não o podia fazer. Se lhe tocasse, não ia resistir. 
Ela revoltou-se. Porque não dizia nada? Sentiu vontade de lhe bater:
- Porquê, Simão? Porque o fizeste? E porque o fazias hoje? Fala pelo amor de Deus. Desde quando começaste a odiar-me?
- Eu não te odeio.- A sua voz soou rouca. Pelo esforço em se conter, ou pela emoção? Ele não sabia. Do que tinha a certeza é que estava utilizando todas as suas forças para resistir à tentação de a apertar nos braços e a beijar até à exaustão.
- Não? Então o que é? Desprezas-me? É isso? Porquê?
“Meu Deus fá-la calar. Não aguento mais” – implorou ele mentalmente
- Não sei de onde tiraste essas ideias absurdas, Ana. Porque não vives a tua vida e me deixas em paz?
- Vês? O Simão de antigamente, nunca me falaria assim.
Ia começar a chorar. E ele não ia conseguir conter-se.
- Por Deus Ana. Deixa de remoer o passado. O tempo não passa incólume por ninguém. Todos mudamos.
Semicerrou os olhos. Não queria que ela surpreendesse aquilo que ele teimava em esconder.
De súbito ela voltou-se para a janela. Estava cansada. E muito triste. A sua vida era um desastre. Precisava de se ausentar rapidamente. Ver outras terras, conhecer outras gentes. Para não sentir aquele terrível vazio no peito.
Deixou escapar um soluço.


12 comentários:

Tintinaine disse...

É resistente o nosso apaixonado!
Bastava um abraço apertadinho e tudo acabaria bem.

António Querido disse...

Era assim no nosso tempo, quanto mais se fizesse sofrer, mais se descobria o verdadeiro amor! Hoje a diferença de pensamento dos jovens, é rápida demais, daí o nº de divórcios a aumentar todos os dias, outros passam a fazer uma vida a dois já para não terem o trabalho de haver divórcio, é a evolução dos tempos!
Da Figueira para o Barreiro, vai o meu abraço.

Socorro Melo disse...


Muito difícil para o Simão, mas, ele deveria ter uma atitude menos severa, afinal, ela não sabe dos seus sentimentos.Não sei.

Fátima Pereira Stocker disse...

Cara Elvira

Embora me não manifeste, tenho acompanhado a sequela dos filhos de um casal de anterior história. Neste, a Elvira levanta um problema de todos os tempos: as proibições afectivas. Estou curiosa de ver como o soluciona.

Um grande abraço

aluap disse...

Ana devia lembrar-se da expressão "quem desdenha quer comprar", não que o Simão fale mal dela ou lhe aponte defeitos, mas finge não ligar ao que ela lhe diz, só p'ra disfarçar seus sentimentos.
Após o soluço já é capaz de lhe dar mais atenção.
Beijo/bom fds.

Fá menor disse...

Ui! Isto está a ficar empolgante! :)

Bjinhos

Prata da casa disse...

"Cheira-me" que ainda vai haver muitas lágrimas e frustração...
Bjn
Márcia

Edum@nes disse...

Lutar contra um amor impossível, não será nada fácil não. Se eles são irmãos, não podem estar apaixonados um pelo outro, como que se o não fossem!

Tenha uma boa noite de sábado, e um bom dia de domingo amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

O meu pensamento viaja disse...

Cada vez mais intrigante. O que virá por aí? Bj

Maria do Mundo disse...

Muito, muito bom! Estou completamente absorvida!

maria disse...

Pobre Ana... realmente o Simão deveria explicar o se comportamento... é mesmo muito estranho :D

Lua Singular disse...

Nossa Elvira, eu não aguentaria. Eu falava e pronto.
Beijos
Lua Singular