-Que se passa contigo, Simão? O que foi que eu te fiz?
Porque me odeias? Desde menina, sempre foste o meu irmão preferido. Aquele em
quem confiava de olhos fechados. Depois já adolescente, eras o meu ídolo. Ficava
tão feliz quando nos ias buscar à escola e nos trazias para casa. Imaginas o
que choramos, eu e Matilde quando foste para Paris? O quanto nos sentimos
desamparadas sem ti?
A Marta não. A Marta era muito extrovertida, tinha muitos
amigos, uma legião de admiradores, primeiro na escola, depois na Universidade.
Ela não deve ter sentido a tua falta. Eu e a Matilde eramos diferentes. Mais
tímidas. Tínhamos um certo receio de nos juntarmos aos outros. Tu eras a nossa
tábua de salvação. E deixaste-nos à deriva.
As últimas palavras foram como um lamento. Simão
amaldiçoou-se em silêncio. Queria consolá-la e não o podia fazer. Se lhe
tocasse, não ia resistir.
Ela revoltou-se. Porque não dizia nada? Sentiu vontade
de lhe bater:
- Porquê, Simão? Porque o fizeste? E porque o fazias
hoje? Fala pelo amor de Deus. Desde quando começaste a odiar-me?
- Eu não te odeio.- A sua voz soou rouca. Pelo esforço em
se conter, ou pela emoção? Ele não sabia. Do que tinha a certeza é que estava
utilizando todas as suas forças para resistir à tentação de a apertar nos
braços e a beijar até à exaustão.
- Não? Então o que é? Desprezas-me? É isso? Porquê?
“Meu Deus fá-la calar. Não aguento mais” – implorou ele
mentalmente
- Não sei de onde tiraste essas ideias absurdas, Ana. Porque não
vives a tua vida e me deixas em paz?
- Vês? O Simão de antigamente, nunca me falaria
assim.
Ia começar a chorar. E ele não ia conseguir conter-se.
- Por Deus Ana. Deixa de remoer o passado. O tempo não
passa incólume por ninguém. Todos mudamos.
Semicerrou os olhos. Não queria que ela surpreendesse
aquilo que ele teimava em esconder.
De súbito ela voltou-se para a janela. Estava cansada. E
muito triste. A sua vida era um desastre. Precisava de se ausentar rapidamente.
Ver outras terras, conhecer outras gentes. Para não sentir aquele terrível
vazio no peito.
Deixou escapar um soluço.
12 comentários:
É resistente o nosso apaixonado!
Bastava um abraço apertadinho e tudo acabaria bem.
Era assim no nosso tempo, quanto mais se fizesse sofrer, mais se descobria o verdadeiro amor! Hoje a diferença de pensamento dos jovens, é rápida demais, daí o nº de divórcios a aumentar todos os dias, outros passam a fazer uma vida a dois já para não terem o trabalho de haver divórcio, é a evolução dos tempos!
Da Figueira para o Barreiro, vai o meu abraço.
Muito difícil para o Simão, mas, ele deveria ter uma atitude menos severa, afinal, ela não sabe dos seus sentimentos.Não sei.
Cara Elvira
Embora me não manifeste, tenho acompanhado a sequela dos filhos de um casal de anterior história. Neste, a Elvira levanta um problema de todos os tempos: as proibições afectivas. Estou curiosa de ver como o soluciona.
Um grande abraço
Ana devia lembrar-se da expressão "quem desdenha quer comprar", não que o Simão fale mal dela ou lhe aponte defeitos, mas finge não ligar ao que ela lhe diz, só p'ra disfarçar seus sentimentos.
Após o soluço já é capaz de lhe dar mais atenção.
Beijo/bom fds.
Ui! Isto está a ficar empolgante! :)
Bjinhos
"Cheira-me" que ainda vai haver muitas lágrimas e frustração...
Bjn
Márcia
Lutar contra um amor impossível, não será nada fácil não. Se eles são irmãos, não podem estar apaixonados um pelo outro, como que se o não fossem!
Tenha uma boa noite de sábado, e um bom dia de domingo amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.
Cada vez mais intrigante. O que virá por aí? Bj
Muito, muito bom! Estou completamente absorvida!
Pobre Ana... realmente o Simão deveria explicar o se comportamento... é mesmo muito estranho :D
Nossa Elvira, eu não aguentaria. Eu falava e pronto.
Beijos
Lua Singular
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