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3.1.17

UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE III





Francisca ficou uns momentos indecisa, olhando a porta fechada. Naquela manhã de Sábado, tomavam o pequeno-almoço, quando Ana chegou. Era sempre assim. Trabalhavam juntos no mesmo escritório, mas quando a filha queria falar das suas coisas, procurava o pai em casa. Tinham-se encerrado no escritório, e Afonso continuava lá após a saída da filha. Sabia que ele não gostava de ser interrompido quando lá estava. Tinha-lho dito há quase vinte e cinco anos, logo após o casamento, e ela sempre respeitara essa regra. Mas também sabia que naquele momento, se estaria a debater com sentimentos contraditórios, e a precisar dela. Pousou o livro e levantou-se. Alisou a saia justa que lhe moldava o corpo, ainda esbelto, passou a mão pelos cabelos e dirigiu-se ao escritório.
Deu uma pancada com os nós dos dedos na porta e girou o puxador.
Afonso, levantou a cabeça quando a porta se abriu e viu Francisca, na ombreira esperando um convite para entrar. Esboçou um sorriso.
- Entra. Que milagre te traz aqui?
- Pensei que precisavas de conversar, -disse ela sorrindo.
Ele levantou-se, colocou-lhe um braço à roda da cintura e conduziu-a até ao sofá.
-Já sabes, a última da Ana?
Assentiu com um movimento de cabeça.
-Desorienta-me. Não sei o que se passa com ela. Profissionalmente é uma excelente advogada, capaz de competir com os melhores do país. Mas na vida pessoal é um desastre. Gostava de vê-la casada. Três vezes anunciou que ia casar, para desistir pouco tempo depois. Não é como os irmãos. Não sei a quem sai. Tu não és assim.
- Não tem de ser como eu, - disse com suavidade, ao mesmo tempo que a sua mão tocou o rosto do marido numa terna carícia. Não sou a sua mãe biológica.
- Mas és a única que ela conhece. E depois, Olga também não era assim.
- Não te preocupes. Ela ainda não conheceu o amor. Quando o conhecer casará e será muito feliz, vais ver. Não podes pressioná-la. Um casamento sem amor é um inferno em vida.
-Mas se estava entusiasmada com o Paulo, algum encanto lhe achou. E o amor também pode nascer depois do casamento. Connosco foi assim.
- É demasiado arriscado. É como voar num trapézio sem rede. Nós arriscamos por causa das crianças. Pensa, ter-te-ias casado com uma desconhecida, se não precisasses dela para criar as miúdas? Claro que não. Eu também não o teria feito, se não fosse por igual motivo. O destino foi bom connosco. Apaixonamo-nos e somos felizes. Mas imagina que isso não tinha acontecido? Ou pior, que um de nós se tinha apaixonado por outra pessoa? O que teria sido a nossa vida? Ana é jovem, não tem filhos nem necessidades materiais. Não tem porque correr esse risco. É melhor ter acabado agora, do que daqui a meio ano, com um divórcio que acarreta sempre sofrimento.
Afonso segurou-lhe o rosto, entre as mãos, mergulhou os seus olhos no olhar cálido da mulher.
- És sempre tão doce, tão sensata. Não sei o que faria sem ti.
Sem desviar o olhar inclinou-se para ela e os seus lábios buscaram a boca feminina.


E então amigos, já descobriram qual a particularidade desta história?




17 comentários:

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Interessante e continuo a acompanhar.
Um abraço e Bom Ano de 2017.
Andarilhar

Os olhares da Gracinha! disse...

Mais um belo conto onde sua escrita flui com magia!
Bj

Socorro Melo disse...


Hum! Ainda não. Ficou claro que ambos têm filhos de outros relacionamentos. A Ana não é filha do Afonso... Não dá pra adivinhar, vamos acompanhar pra ver, rsrs.


Rui disse...

eheheh... Neste episódio começa a fazer-se luz sobre essa "particularidade"! ... Os nomes (que já me chamaram a atenção nos posts anteriores) são-nos agora mais familiares e os "pormenores" encaixam" como uma luva !

Foi uma ideia brilhante, Elvira !!!

Um Grande Abraço renovado ! :)

Edum@nes disse...

No jardim uma flor,
nos perfuma a vida
saúde, carinho e amor
a gente bem precisa!

No rio corre água turva,
o fundo não se consegue ver
ainda a noite está escura
mais episódios terei de ler!

Para descobrir a particularidade,
não estou vendo onde é que ela assenta
entre o céu e a terra tapando a claridade
do sol, existe uma extensa nuvem cinzenta!

Tenha uma boa tarde amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

Anete disse...

Elvira, vendo a sua nova inspiração por aqui...
O amor faz proezas!... Sempre e sempre...
Obrigada pelas visitas por lá neste início de ano... Valeram...
Um abraço

Prata da casa disse...

Ahhhhhhhh, agora fez-se luz. Penso que é a continuação de uma outra história , Estranho contrato, penso eu. Será? As crianças cresceram, não foi?
Bjn
Márcia

Tintinaine disse...

Dou razão à Prata da Casa. Os personagens parecem ser os mesmos da outra história.
Vamos ao resto da história!

maria disse...

Interessante...a particularidade? Olga... Francisca não é mãe biológica...lembra-me uma história de que gostei muito... será? :D

Rogério G.V. Pereira disse...

Numa leitura (indesculpavelmente) rápida, arrisco afirmar haverem várias particularidades:

- A Ana, que aparenta ser um pinga-amor, na realidade pode não o ser;
- O amor e a paixão têm a mesma definição;
- Um casamento sem amor pode vir a sê-lo.


Pedro Coimbra disse...

É uma continuação da anterior, não é?
apesar de só agora começar a acompanhar é isso que salta à vista.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

sim...eu já cheguei lá...
é a continuação daquele outro conto que eu achava estava encerrado...

interessante


;)


vou ler o outro post


;)

Dorli Ramos disse...

Oi Elvira
A bela contista.
Estou gostando, principalmente quando tem amor
Beijos
Minicontista2

aluap disse...

Sim!
São os personagens do "Estranho Contrato" e se bem me lembro no fim da história comentei que a história deveria continuar! Obrigada ;-)

Beijinhos.

Gaja Maria disse...

Começa a "encaixar" :)
Abraço Elvira

Odete Ferreira disse...

A iniciar a leitura... Claro que os indícios me lembraram a linda história do contrato. Que ideia interessante!
Estou a gostar, amiga.
Bjinho 😊

Roselia Bezerra disse...

Boa noite, querida Elvira!
Ainda não percebi particularidades... mas sei que vai ter um enredo magnífico pelo seu dom de escever...
A mãe não é biológica mas a ama, que lindo!
Bjm muito fraterno