Francisca ficou uns momentos indecisa, olhando a porta fechada. Naquela manhã de Sábado, tomavam o pequeno-almoço, quando Ana chegou. Era sempre assim. Trabalhavam juntos no mesmo escritório, mas quando a filha queria falar das suas coisas, procurava o pai em casa. Tinham-se encerrado no escritório, e Afonso continuava lá após a saída da filha. Sabia que ele não gostava de ser interrompido quando lá estava. Tinha-lho dito há quase vinte e cinco anos, logo após o casamento, e ela sempre respeitara essa regra. Mas também sabia que naquele momento, se estaria a debater com sentimentos contraditórios, e a precisar dela. Pousou o livro e levantou-se. Alisou a saia justa que lhe moldava o corpo, ainda esbelto, passou a mão pelos cabelos e dirigiu-se ao escritório.
Deu uma pancada com os nós dos dedos na porta e girou o
puxador.
Afonso, levantou a cabeça quando a porta se abriu e viu
Francisca, na ombreira esperando um convite para entrar. Esboçou um sorriso.
- Entra. Que milagre te traz aqui?
- Pensei que precisavas de conversar, -disse ela
sorrindo.
Ele levantou-se, colocou-lhe um braço à roda da cintura e
conduziu-a até ao sofá.
-Já sabes, a última da Ana?
Assentiu com um movimento de cabeça.
-Desorienta-me. Não sei o que se passa com ela.
Profissionalmente é uma excelente advogada, capaz de competir com os melhores
do país. Mas na vida pessoal é um desastre. Gostava de vê-la casada. Três vezes
anunciou que ia casar, para desistir pouco tempo depois. Não é como os irmãos.
Não sei a quem sai. Tu não és assim.
- Não tem de ser como eu, - disse com suavidade, ao mesmo
tempo que a sua mão tocou o rosto do marido numa terna carícia. Não sou a sua
mãe biológica.
- Mas és a única que ela conhece. E depois, Olga também
não era assim.
- Não te preocupes. Ela ainda não conheceu o amor. Quando
o conhecer casará e será muito feliz, vais ver. Não podes pressioná-la. Um
casamento sem amor é um inferno em vida.
-Mas se estava entusiasmada com o Paulo, algum encanto
lhe achou. E o amor também pode nascer depois do casamento. Connosco foi assim.
- É demasiado arriscado. É como voar num trapézio sem rede. Nós arriscamos por causa das crianças. Pensa, ter-te-ias casado com uma
desconhecida, se não precisasses dela para criar as miúdas? Claro que não. Eu
também não o teria feito, se não fosse por igual motivo. O destino foi bom
connosco. Apaixonamo-nos e somos felizes. Mas imagina que isso não tinha
acontecido? Ou pior, que um de nós se tinha apaixonado por outra pessoa? O que
teria sido a nossa vida? Ana é jovem, não tem filhos nem necessidades
materiais. Não tem porque correr esse risco. É melhor ter acabado agora, do que
daqui a meio ano, com um divórcio que acarreta sempre sofrimento.
Afonso segurou-lhe o rosto, entre as mãos, mergulhou os
seus olhos no olhar cálido da mulher.
- És sempre tão doce, tão sensata. Não sei o que faria
sem ti.
Sem desviar o olhar inclinou-se para ela e os seus lábios buscaram a boca feminina.
E então amigos, já descobriram qual a particularidade desta história?
E então amigos, já descobriram qual a particularidade desta história?
17 comentários:
Interessante e continuo a acompanhar.
Um abraço e Bom Ano de 2017.
Andarilhar
Mais um belo conto onde sua escrita flui com magia!
Bj
Hum! Ainda não. Ficou claro que ambos têm filhos de outros relacionamentos. A Ana não é filha do Afonso... Não dá pra adivinhar, vamos acompanhar pra ver, rsrs.
eheheh... Neste episódio começa a fazer-se luz sobre essa "particularidade"! ... Os nomes (que já me chamaram a atenção nos posts anteriores) são-nos agora mais familiares e os "pormenores" encaixam" como uma luva !
Foi uma ideia brilhante, Elvira !!!
Um Grande Abraço renovado ! :)
No jardim uma flor,
nos perfuma a vida
saúde, carinho e amor
a gente bem precisa!
No rio corre água turva,
o fundo não se consegue ver
ainda a noite está escura
mais episódios terei de ler!
Para descobrir a particularidade,
não estou vendo onde é que ela assenta
entre o céu e a terra tapando a claridade
do sol, existe uma extensa nuvem cinzenta!
Tenha uma boa tarde amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.
Elvira, vendo a sua nova inspiração por aqui...
O amor faz proezas!... Sempre e sempre...
Obrigada pelas visitas por lá neste início de ano... Valeram...
Um abraço
Ahhhhhhhh, agora fez-se luz. Penso que é a continuação de uma outra história , Estranho contrato, penso eu. Será? As crianças cresceram, não foi?
Bjn
Márcia
Dou razão à Prata da Casa. Os personagens parecem ser os mesmos da outra história.
Vamos ao resto da história!
Interessante...a particularidade? Olga... Francisca não é mãe biológica...lembra-me uma história de que gostei muito... será? :D
Numa leitura (indesculpavelmente) rápida, arrisco afirmar haverem várias particularidades:
- A Ana, que aparenta ser um pinga-amor, na realidade pode não o ser;
- O amor e a paixão têm a mesma definição;
- Um casamento sem amor pode vir a sê-lo.
É uma continuação da anterior, não é?
apesar de só agora começar a acompanhar é isso que salta à vista.
sim...eu já cheguei lá...
é a continuação daquele outro conto que eu achava estava encerrado...
interessante
;)
vou ler o outro post
;)
Oi Elvira
A bela contista.
Estou gostando, principalmente quando tem amor
Beijos
Minicontista2
Sim!
São os personagens do "Estranho Contrato" e se bem me lembro no fim da história comentei que a história deveria continuar! Obrigada ;-)
Beijinhos.
Começa a "encaixar" :)
Abraço Elvira
A iniciar a leitura... Claro que os indícios me lembraram a linda história do contrato. Que ideia interessante!
Estou a gostar, amiga.
Bjinho 😊
Boa noite, querida Elvira!
Ainda não percebi particularidades... mas sei que vai ter um enredo magnífico pelo seu dom de escever...
A mãe não é biológica mas a ama, que lindo!
Bjm muito fraterno
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