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3.4.19

UM HOMEM DIVIDIDO - PARTE XVI



Não era verdade. Tinha telefonado à mãe a dizer que a ia buscar às oito para jantarem juntos. E queria relembrar a entrevista dessa tarde. Paula era uma mulher muito bonita, empreendedora e muito frontal. Mas mantivera uma relação de quatro anos estivera de casamento marcado, e a poucos dias do enlace, tudo acabou. Claro, ela devia ter descoberto que estava a ser traída. 
Desde que a vira no Banco, pouco tempo depois do seu regresso, que sempre que imaginava uma companheira para a sua vida, lhe dava o nome e o rosto de Paula. Conseguiria algum dia, fazer com que ela olhasse para ele com amor? Depois do que ele lhe fizera ao pai ? Decerto que não. Mas podia ele esquecer o que tinha sofrido por causa da acusação do pai dela? A mãe, a irmã e o cunhado, pensavam que ele devia esquecer. Afinal se não fora essa acusação ele teria ficado no País, levado uma vida medíocre, não conheceria o Júlio, não teria sido desafiado a jogar e não teria a vida que tinha. A mãe costumava dizer que há males que vem por bem. Talvez tivessem razão mas ele não pensava assim. Como a polícia não encontrara os meliantes que o tinham assaltado nem recuperara o dinheiro, a suspeição ia sempre pesar sobre o seu nome.E um nome sem mácula, era para ele mais importante do que todo o dinheiro do mundo. Olhou o relógio. Quase sete e meia. Fechou o computador, e levantou-se. Vestiu o casaco, verificou se tinha as chaves no bolso, e saiu fechando a porta atrás de si. Os empregados já tinham saído todos. Saudou o segurança ao passar pelo átrio e entrou no seu carro que era o único ainda no parque.
Dez minutos depois tocava a campainha da casa da mãe. Um modesto andar num prédio antigo, a casa da sua infância. Anos atrás, quando regressara, quisera comprar-lhe uma casa nova com outras condições de habitabilidade num bairro mais moderno, perto da filha. Ela porém recusou, como recusou viver com a filha ou com ele. Naquela casa vivera os momentos mais felizes e os mais dolorosos da sua vida. Conhecia-a de olhos fechados. Cada recanto tinha uma memória. Não, ali nascera, ali havia de morrer. Depois de muita conversa lá conseguiu convencê-la a deixar que ele mandasse fazer obras na cozinha e casa de banho de modo a torna-la mais confortável. Também lhe comprou novos sofás e um moderno televisor, mas não conseguiu convencê-la a trocar a velha mobília de quarto.
-Boa noite, mãe. Pronta para sair?- Perguntou abraçando e beijando a progenitora.
- Estou pronta, sim filho, embora não veja a necessidade de ir jantar fora. Podia preparar um dos teus pratos preferidos e ficávamos aqui os dois a conversar.
- Eu sei que a mãe não se importava, - disse abrindo a porta e dando passagem à idosa. Mas eu não quero dar-lhe trabalho. Já trabalhou demais em toda a sua vida, e podemos conversar na mesma no restaurante.
Abriu a porta do carro, esperou que se sentasse, sem no entanto tentar ajudá-la, pois sabia que a mãe era muito independente, e não gostava de ser ajudada. Fechou a porta, quando a senhora já punha o cinto de segurança e só depois contornou o automóvel para se sentar.
Pôs o carro em marcha, dizendo:
- No fim do mês a Gabi festeja o aniversário de casamento. Vou oferecer-lhe a festa que não pôde ter quando casou. Falei hoje com o Eduardo e disse-lhe que lhes vou oferecer a festa e uma semana de lua-de-mel. Ele ficou preocupado por causa do Pedro. A mãe importava-se de ficar com ele uma semana? Claro que eu ia levá-lo e buscá-lo à escola.
- Ter o meu neto comigo é sempre uma alegria. Só penso que em vez de te preocupares com a tua irmã, que já está casada, e é feliz, devias preocupar-te contigo. A vida passa a correr, um dia acordas olhas-te ao espelho e descobres que estás velho. Arranja uma boa mulher e casa-te. Decerto que deves conhecer alguma que te agrade.
- Chegámos, - disse António estacionando junto ao restaurante. Prometo-lhe que vou pensar nisso, depois da festa da Gabi,
Saiu do carro abriu a porta à mãe, e dando-lhe o braço encaminharam-se para a porta do restaurante.


Quanto ao meu olho, ele está a abrir e um dia destes eu mostro uma foto. Mas ainda está muito vermelho, e não vê. a não ser luzes, sombras e vultos difusos.  Tem dias que não tenho dores e outros que é um desespero. Continuo com as gotas de cortisona e orando para que a córnea vá recuperando. Os posts vão continuando a sair há publicações programadas até meados de Maio.  


18 comentários:

Tintinaine disse...

Ah, valente Elvira, mesmo com o olho em obras continua a fornecer-nos a habitual leitura diária.
As melhoras!

Pedro Coimbra disse...

As mães têm o dom de adivinhar o que vai no coração dos filhos.

A sua recuperação total não é rápida, Elvira.
Calma que é normal ser assim.

Abraço

Cantinho da Gaiata disse...

Passando para ler mais umas linhas da história, o coração de mãe advinha muita coisa.
Continuação das melhoras com o tempo tudo vai ficar bem.
Bjs

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Um capitulo com o carinho entre mãe e filho , que hoje é pouco usual !!
JAFR

Os olhares da Gracinha! disse...

Mãe atenta... em bom momento de leitura!
...
Que fica bom esse olho o mais rápido possível! Bj

chica disse...

Mãe, sempre mãe...Lindo capítulo! bjs, e que teus olhos fiquem bem logo! bjs, chica

noname disse...

Bom dia, Elvira
Tome conta de si, ninguém o fará melhor :)

Abraço

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Continuo a acompanhar e desejo as melhoras à minha amiga.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Larissa Santos disse...

As Mães com o seu sentido apurado :))

Rápida recuperação...

Hoje:- O mar tem alma, tem aroma e tranquilidade.

Bjos
Votos de uma óptima Quarta - Feira

Isa Sá disse...

Espero que isso melhore rápido...não há bem maior do que a saúde.

Cidália Ferreira disse...

Mais um maravilhoso capitulo!

Desejo-lhe de coração que tudo fique bem com o seu olho.

*
Primavera agreste ...
Beijo e uma execlente tarde...

Janita disse...

Um homem de coração nobre, este António.
Pena essa ideia obsessiva em arruinar o homem que não acreditou na sua palavra.

Quanto ao olho, amiga Elvira, devagar, devagarinho lá chegará o dia em que nos dará a feliz notícia de se encontrar totalmente recuperada.
É preciso calma.

Um abraço.

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Um capítulo de que gostei muito. É lindo ver o amor entre filho e mãe.
Um diálogo enternecedor.
Desejo-lhe as melhores e que o seu olho recupere bem.
Ailime

Edum@nes disse...

Então, depois da festa da Gabi, António disse para sua mãe. Vou pensar nisso. Será que ela ainda não sabe que ele anda de olha na Paula Maldonado?

Desejo-lhe boa noite amiga Elvira e as sua melhoras. Um abraço.

Edum@nes disse...

Corrijo: Não de olha, mas sim de olho!

Kique disse...

Mãe que é mãe sabe
Bjs

Kique

Hoje em Caminhos Percorridos - Preso por tráfico

Gaja Maria disse...

A mãe está ansiosa para o ver casado :)
As melhoras do seu olho Elvira.
Abraço

Roselia Bezerra disse...

Gostei muito da imagem que ilustra seu post pois mães ficam simplesmente felizes quando encontram seu filho pródigo... por onde seja, em qualquer parte do mundo é assim, amiga.
Bjm carinhoso e fraterno