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26.4.19

UM HOMEM DIVIDIDO - PARTE XXXII




Eram oito e trinta e cinco quando Paula tocou a campainha da casa do pai.
-Bom dia, menina,- saudou a velha empregada que a conhecia desde que nascera.
-Bom dia, Teresa. Como tens passado?
-Como Deus quer e o reumático deixa. Mas entre. Os senhores estão à sua espera?
- Não, mas não te preocupes. Eu conheço bem a casa e os costumes do meu pai. Estão na sala?
- A tomar o pequeno-almoço. A menina toma alguma coisa?
-Não, obrigada. Podes voltar aos teus afazeres.
Esperou que a empregada se afastasse na direção da cozinha e então encaminhou-se para a sala.
- Bons dias, - saudou ao entrar. Avançou para o pequeno Miguel que se voltara na cadeira e lhe estendia os braços.
- Como está o irmão mais querido do planeta, - perguntou abraçando-o. Mas porque estás já levantado? É sábado, não tens aulas hoje pois não?
-A turma vai acampar. A mãe vai levar-me à escola, e daí vamos de camioneta com o professor, - respondeu o garoto,
- Lembraste-te hoje, que tens família? – perguntou o pai  com amargura.
Paula olhou-o e admirou-se. Não voltara a vê-lo desde que estivera no seu escritório, e estava muito diferente. Tinha perdido a arrogância natural, era agora um homem triste, amargurado. 
- Embora não acredites, lembro-me de vós todos os dias. Infelizmente não posso vir sempre que me lembro ou teria de me mudar para cá, - respondeu sentando-se à mesa junto do irmão. -Vim porque tenho um assunto urgente para tratar contigo.
- Hoje é mau dia para tratar de qualquer assunto. Mas enfim, desembucha.
- No escritório, depois de tomares o pequeno-almoço,- respondeu enquanto apertava carinhosamente a mão de Cidália, o que fez com que a mesma calasse a intervenção que se preparava para ter na conversa.
O pai não respondeu. Acabou de beber o café, afastou a cadeira e levantou-se. Sem uma palavra dirigiu-se ao escritório.
- Eu não me demoro, e depois levo-te à escola , - sussurrou ao irmão antes de se levantar e seguir o pai.
- O que tens de tão importante para me dizer, -perguntou o pai assim que ela fechou a porta. – Espero que não venhas pedir dinheiro, estou completamente arruinado.
- E desde quando é que te peço dinheiro?- respondeu
Abriu a mala, retirou o envelope e atirou-o para cima da mesa. 
- Vim trazer-te isto. Reconheces o envelope?
O rosto de Jorge tornou-se lívido. Pegou no envelope, e despejou o seu conteúdo em cima da mesa. Com mãos trémulas, pegou no cheque, verificou a quantia, viu o documento da hipoteca com o carimbo de liquidado e os restantes documentos.
- Que quer isto dizer? – perguntou encarando a filha.
-Quer dizer que a “Casa Nova” é tua de novo. A hipoteca no Banco foi saldada e o cheque é o teu fundo de maneio, para que a empresa volte a ser o que era.
- Vais casar com ele?
-Não.
- Então como o conseguiste? Ele estava cheio de ódio, não te daria isto a troco de nada.
- Podia dizer-te que o bom julgador por si se julga, mas prefiro pensar que a tua capacidade para julgar as pessoas é nula. Bom, vou-me embora. Prometi ao Miguel que o ia levar à escola. Mas um dia ainda vou querer saber, o que lhe fizeste.
- Ele não te contou?
-Não. Disse-me para te dizer, que o resgate da hipoteca e o cheque te indemnizam de todos os prejuízos que possa ter-te causado e que a partir de hoje estás por conta própria, ele não interferirá mais nos teus negócios.
Voltou-se e saiu fechando a porta atrás de si. Quando chegou à sala disse a Cidália.
-Vai ter com ele. Eu levo o Miguel à escola.

19 comentários:

Janita disse...

Não gosto de fazer juízos de valor, mas este pai da Paula é mesmo um homem obtuso! Insinuar à filha que não tinha dinheiro para lhe emprestar... Até parece!!
No fundo, a vida até nem foi nada má para ele pondo-lhe no caminho uma boa esposa - que não recordo o nome - e uma criança adorável.
Agora é tempo de António ser feliz, já que ser rico nunca lhe trouxe felicidade, nem a ele nem a ninguém, vá. Só ajuda.

Um abraço, Elvira. :)

chica disse...

A leitura está nos surpreendendo. Mas estou gostando bastante! beijos, tudo de bom, ótima noite! chica

noname disse...

Este homem, tem pouco de pai, pelo menos com esta filha a quem não teve o menor pejo de insinuar maldade, é cão que não conhece o dono, nem mesmo quando lhe dão de comer.

Boa noite, Elvira

Pedro Coimbra disse...

A tal diferença profunda entre pai e progenitor, não é?
Bfds

Os olhares da Gracinha! disse...

Uma bofetada de luva!!!
Bj

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
O que é que vem aí ?
JAFR

Anónimo disse...

Sempre acompanhando, deixo-lhe o meu fraterno abraço, Elvira.


Maria João

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Voltei para acompanhar esta série.
Um abraço e bom fim-de-semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história!

Isabel Sá
Brilhos da Moda

Larissa Santos disse...

Mas... a paixão vai fluindo :))

HOJE, DO NOSSO GIL ANTÓNIO :-Meu amor: Eu estou aqui.

Bjos
Votos de uma óptima Sexta - Feira

Edum@nes disse...

As pessoas mudam de ideias. Mas, nem sempre pela positiva. Mas a do António foi positiva. No sentido de não se vingar, embora não esqueça a acusação injusta de que foi alvo, segundo diz?

Bom fim de semana amiga Elvira. Um abraço.

Cidália Ferreira disse...

Por vezes, a cabeça faz coisas que o coração não quer! Amei!!
Agora o amor...
*
Guardo-te...até ao fim da minha vida. {POETIZANDO}
Beijos e um excelente fim de semana.

António Querido disse...

Gostei de passar no "Sexta" à sexta!

Bom fim de semana.

Anete disse...


Opa, coisas boas vêm pela frente... O perdão quando acontece faz milagres...
Bom fim de semana... Um forte abraço

Teresa Isabel Silva disse...

Não gosto nada do Pai da Paula!

Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram

Cantinho da Gaiata disse...

Dito e feito, agora vamos ver o Casalinho.
Bjs

Kique disse...

Estou agarrado a esta belíssima historia
Bjs

Kique

Hoje em Caminhos Percorridos - Quando uma mulher fica sem fôlego

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Muito emocionante este capítulo.
A história está linda.
Beijinhos,
Ailime

Gaja Maria disse...

Acho que o pai de Paula acabou de aprender uma lição.
Abraço Elvira