Eram oito e trinta e cinco quando Paula tocou a campainha
da casa do pai.
-Bom dia, menina,- saudou a velha empregada que a
conhecia desde que nascera.
-Bom dia, Teresa. Como tens passado?
-Como Deus quer e o reumático deixa. Mas entre. Os
senhores estão à sua espera?
- Não, mas não te preocupes. Eu conheço bem a casa e os
costumes do meu pai. Estão na sala?
- A tomar o pequeno-almoço. A menina toma alguma coisa?
-Não, obrigada. Podes voltar aos teus afazeres.
Esperou que a empregada se afastasse na direção da
cozinha e então encaminhou-se para a sala.
- Bons dias, - saudou ao entrar. Avançou para o pequeno
Miguel que se voltara na cadeira e lhe estendia os braços.
- Como está o irmão mais querido do planeta, - perguntou
abraçando-o. Mas porque estás já levantado? É sábado, não tens aulas hoje pois não?
-A turma vai acampar. A mãe vai levar-me à escola, e daí
vamos de camioneta com o professor, - respondeu o garoto,
- Lembraste-te hoje, que tens família? – perguntou o
pai com amargura.
Paula olhou-o e admirou-se. Não voltara a vê-lo desde que estivera no seu escritório, e estava muito diferente. Tinha perdido a arrogância natural, era agora um homem triste, amargurado.
Paula olhou-o e admirou-se. Não voltara a vê-lo desde que estivera no seu escritório, e estava muito diferente. Tinha perdido a arrogância natural, era agora um homem triste, amargurado.
- Embora não acredites, lembro-me de vós todos os dias.
Infelizmente não posso vir sempre que me lembro ou teria de me mudar para cá, -
respondeu sentando-se à mesa junto do irmão. -Vim porque tenho um assunto urgente
para tratar contigo.
- Hoje é mau dia para tratar de qualquer assunto. Mas
enfim, desembucha.
- No escritório, depois de tomares o pequeno-almoço,-
respondeu enquanto apertava carinhosamente a mão de Cidália, o que fez com que
a mesma calasse a intervenção que se preparava para ter na conversa.
O pai não respondeu. Acabou de beber o café, afastou a
cadeira e levantou-se. Sem uma palavra dirigiu-se ao escritório.
- Eu não me demoro, e depois levo-te à escola , -
sussurrou ao irmão antes de se levantar e seguir o pai.
- O que tens de tão importante para me dizer, -perguntou
o pai assim que ela fechou a porta. – Espero que não venhas pedir dinheiro,
estou completamente arruinado.
- E desde quando é que te peço dinheiro?- respondeu
Abriu a mala, retirou o envelope e atirou-o para cima da
mesa.
- Vim trazer-te isto. Reconheces o envelope?
- Vim trazer-te isto. Reconheces o envelope?
O rosto de Jorge tornou-se lívido. Pegou no envelope, e
despejou o seu conteúdo em cima da mesa. Com mãos trémulas, pegou no cheque,
verificou a quantia, viu o documento da hipoteca com o carimbo de liquidado e
os restantes documentos.
- Que quer isto dizer? – perguntou encarando a filha.
-Quer dizer que a “Casa Nova” é tua de novo. A hipoteca
no Banco foi saldada e o cheque é o teu fundo de maneio, para que a empresa
volte a ser o que era.
- Vais casar com ele?
-Não.
- Então como o conseguiste? Ele estava cheio de ódio, não
te daria isto a troco de nada.
- Podia dizer-te que o bom julgador por si se julga, mas
prefiro pensar que a tua capacidade para julgar as pessoas é nula. Bom, vou-me
embora. Prometi ao Miguel que o ia levar à escola. Mas um dia ainda vou querer
saber, o que lhe fizeste.
- Ele não te contou?
-Não. Disse-me para te dizer, que o resgate da hipoteca e
o cheque te indemnizam de todos os prejuízos que possa ter-te causado e que a
partir de hoje estás por conta própria, ele não interferirá mais nos teus negócios.
Voltou-se e saiu fechando a porta atrás de si. Quando
chegou à sala disse a Cidália.
-Vai ter com ele. Eu levo o Miguel à escola.
19 comentários:
Não gosto de fazer juízos de valor, mas este pai da Paula é mesmo um homem obtuso! Insinuar à filha que não tinha dinheiro para lhe emprestar... Até parece!!
No fundo, a vida até nem foi nada má para ele pondo-lhe no caminho uma boa esposa - que não recordo o nome - e uma criança adorável.
Agora é tempo de António ser feliz, já que ser rico nunca lhe trouxe felicidade, nem a ele nem a ninguém, vá. Só ajuda.
Um abraço, Elvira. :)
A leitura está nos surpreendendo. Mas estou gostando bastante! beijos, tudo de bom, ótima noite! chica
Este homem, tem pouco de pai, pelo menos com esta filha a quem não teve o menor pejo de insinuar maldade, é cão que não conhece o dono, nem mesmo quando lhe dão de comer.
Boa noite, Elvira
A tal diferença profunda entre pai e progenitor, não é?
Bfds
Uma bofetada de luva!!!
Bj
Bom dia
O que é que vem aí ?
JAFR
Sempre acompanhando, deixo-lhe o meu fraterno abraço, Elvira.
Maria João
Voltei para acompanhar esta série.
Um abraço e bom fim-de-semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
A passar por cá para acompanhar a história!
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Mas... a paixão vai fluindo :))
HOJE, DO NOSSO GIL ANTÓNIO :-Meu amor: Eu estou aqui.
Bjos
Votos de uma óptima Sexta - Feira
As pessoas mudam de ideias. Mas, nem sempre pela positiva. Mas a do António foi positiva. No sentido de não se vingar, embora não esqueça a acusação injusta de que foi alvo, segundo diz?
Bom fim de semana amiga Elvira. Um abraço.
Por vezes, a cabeça faz coisas que o coração não quer! Amei!!
Agora o amor...
*
Guardo-te...até ao fim da minha vida. {POETIZANDO}
Beijos e um excelente fim de semana.
Gostei de passar no "Sexta" à sexta!
Bom fim de semana.
Opa, coisas boas vêm pela frente... O perdão quando acontece faz milagres...
Bom fim de semana... Um forte abraço
Não gosto nada do Pai da Paula!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Dito e feito, agora vamos ver o Casalinho.
Bjs
Estou agarrado a esta belíssima historia
Bjs
Kique
Hoje em Caminhos Percorridos - Quando uma mulher fica sem fôlego
Boa noite Elvira,
Muito emocionante este capítulo.
A história está linda.
Beijinhos,
Ailime
Acho que o pai de Paula acabou de aprender uma lição.
Abraço Elvira
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