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15.4.19

UM HOMEM DIVIDIDO - PARTE XXV



Meia hora mais tarde os dois despediam-se de Alice a governanta, depois de António ter dado o código de acesso à jovem e ter dado ordens à governanta para acatar os pedidos dela como se fossem ordens suas, seguindo para a igreja cada um no seu carro.
Paula não conseguiu demover António de ir à igreja e ele não a conseguiu convencer a deixar ali o automóvel e ir com ele no seu veículo.
Na Igreja, procuraram pelo pároco, e uma velhota disse-lhes que o Padre  estava na sacristia, pelo que se dirigiram para lá. O Padre Celso  era um homem jovem que os acolheu com cordialidade, e posto ao corrente do que pretendiam aceitou imediatamente dizendo que numa época, em que os jovens, cada vez mais fugiam do sacramento do matrimónio, e na maior parte dos casos aqueles que a ele recorriam, não o conseguiam manter por muito tempo, era sempre com enorme alegria que ele fazia a confirmação de votos vários anos depois. Tudo tratado, com dia e hora marcados e depois de ter recebido uma boa contribuição para as obras paroquianas, os dois despediram-se do pároco, e saíram despedindo-se à porta da igreja.
-A que horas, queres que eu esteja no teu escritório amanhã?
- Se puder ser por volta das duas, ótimo. Como te disse depois de amanhã, vamos a Faro tratar de uns negócios e seria bom que falasses com o meu cunhado antes.
-Vou tentar ter tudo pronto esta mesma noite. Até amanhã, - disse estendendo-lhe a mão, no tradicional gesto de despedida.
António, segurou-lhe os dedos e depositou-lhe um cálido beijo na palma da mão que a estremeceu da cabeça aos pés. Depois sem uma palavra abriu-lhe a porta do carro, esperou que entrasse e colocasse o cinto, e só depois a fechou. Afastou-se um pouco, quando a jovem arrancou, esperou que o carro desaparecesse na curva e voltou a entrar na igreja. Sentou-se num banco quase junto à porta, e inclinando-se para a frente apoiou os cotovelos no joelhos e meteu a cabeça entre as duas mãos abertas. Fechou os olhos e fez uma retrospetiva da sua vida. Lembrou da doença do pai, da acusação de Jorge Maldonado, do seu despedimento, da ida para França, dos sacrifícios do desejo de vingança, de tudo o que tinha passado até aí. De súbito sentiu uma mão que lhe pousava suavemente no ombro. Abriu os olhos, e viu o rosto jovial do Padre Celso que o olhava com bondade.
- Precisa de ajuda, meu amigo? Quer conversar?
- Como assim, padre? Uma confissão?
- Não tem que ser necessariamente uma confissão, pode ser só uma conversa, se achar que lhe faz bem desabafar.
- Padre eu tive uma educação religiosa, mas desde que deixei os escuteiros aos dezoito anos, não voltei a entrar numa igreja até hoje. Meu pai adoeceu quando me preparava para entrar na Universidade, tive que abandonar todos os meus sonhos e procurar emprego para ajudar em casa, já que a minha irmã era pequena e minha mãe deixou de trabalhar, para cuidar do meu pai. Mais tarde fui acusado de roubo, despedido, e não conseguindo arranjar outro trabalho, vi-me obrigado a emigrar, depois de ter visto meu pai morrer sem lhe poder provar que não era um ladrão. Revoltado, pensei que Deus era injusto, que me tinha abandonado e afastei-me da igreja e d' Ele. Durante anos, trabalhei como um condenado, para conseguir uma vida melhor.
Doze anos depois, um colega de trabalho com quem partilhava a casa convidou-me a fazer o Euromilhões, numa dessas semanas de muito dinheiro. Nunca tinha jogado, e não acreditava que nos saísse alguma coisa de jeito, mas o Júlio convenceu-me e fizemos uma única aposta. Estavam em jogo cento e oitenta milhões, e houve apenas duas apostas certas. Uma delas era a nossa.


Aviso, dada a solenidade que se aproxima esta semana só serão publicados três capítulos desta história.


19 comentários:

noname disse...

Bem, vamos ver o que dá, esta história.

Como vão os seus olhos, Elvira, há melhoras?
Abraço

Pedro Coimbra disse...

A mim só me saíram 1600 há já muitos anos.
E não foi nada mau.
Boa semana

Cantinho da Gaiata disse...

Bom dia Elvira.
Passando para ler mais um pouco desta história maravilhosa.
Como vai a amiga da recuperação da vista?
Beijinho e uma boa semana.

Anónimo disse...

Acompanhando, deixo-lhe um abraço apertado, Elvira.


Maria João

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
É sempre bom um conselho de alguém que está com Deus .
Falo por experiencia própria .
JAFR

chica disse...

Tu sabes muito bem nos prender...Lindos "recheios" sabes dar à história! beijos,tudo de bom,chica

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história e desejar uma ótima semana!

Isabel Sá
Brilhos da Moda

Meu Velho Baú disse...

Mais um belo romance que estou acompanhando...
Espero que a nivel de saúde a Elvira se sinta melhor
Beijinhos e uma Santa Páscoa para si e Familia

Tintinaine disse...

Vai dar tempo para ele ir ao Algarve e voltar. Sem ele a história não anda nem desanda, portanto não há outro remédio senão esperar.
Boa semana, Elvira!

Cidália Ferreira disse...

Muito bom! Uma confissão que vai esperar por bons conselhos!

Queria sentir-me leve como uma flor
e
Alguns dos momentos que me enchem o coração
.
Beijos e um excelente semana.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Continuo a acompanhar com interesse.
Um abraço e uma Feliz e Santa Páscoa.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

António Querido disse...

Amiga Elvira, diga-me se o meu "Figueira Minha", está curado!

Santa e feliz Páscoa.

Janita disse...

Apesar dos pesares que mulher não gostaria de ter por perto um homem como o António, sedutor, sim, mas extremamente cativante?

E ainda a rir com o comentário do Tintinaine, digo o mesmo.
Esperemos...que remédio!

Boa semana e um abraço.

Teresa Isabel Silva disse...

A mim nunca saiu nada no euromilhões!

Bjxxx
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Duarte disse...

Interessante. Estou intrigado.
Já o comentei com a malta e estão desejosos de conhecer-te.
Um grande abraço nosso.

Edum@nes disse...

Estou a acreditar de que vai haver casamento. Se algum obstáculo não atrapalhar. A vingança será impedida pelo amor que António, a ser verdade, sente por Paula?

Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.

Kique disse...

A acompanhar esta interessante historia
Bjs

Kique

Hoje em Caminhos Percorridos - Mulher tímida

Roselia Bezerra disse...

Sabe querida, não sei se dará certo esse romance, mas posso estar redondamente enganada e, por isso, tenho grande interesse em acompanhar e ver o desfecho, com interesse. Você escreve muito bem e cativa seus leitores até o fim do conto.
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

Gaja Maria disse...

Teve de facto uma vida difícil, merecia algum amor para o completar :)
ABraço