A vida não lhe sorriu como ele sonhava em Paris, antes pelo contrário, como não tinha ninguém conhecido, a quem se dirigir, nem que o acolhesse, pode-se dizer que António comeu o pão que o diabo amassou. Trabalhou em tudo o que lhe aparecia, como moço de recados, como trolha, em diversas obras, e até durante meio ano, foi coveiro no cemitério de Montmartre. Dormiu na rua, depois nas próprias obras onde trabalhava, até que já a trabalhar num café, travou conhecimento com Júlio Correia, colega de trabalho, que por questões económicas, o convidou a partilhar o seu pequeno apartamento, no último andar de um prédio antigo dos arredores. Júlio era um jovem português, emigrante como ele, irmanado no mesmo sonho, senão de fortuna, pelo menos procurando uma vida melhor do que aquela que a sua pátria lhes oferecia.
Durante onze anos, António foi um verdadeiro escravo do trabalho. Chegou a trabalhar de dia nas obras e de noite em cafés e bares, roubando ao corpo o descanso que lhe era necessário, mas o sonho de ser rico era cada vez mais uma esperança perdida.
Durante onze anos, António foi um verdadeiro escravo do trabalho. Chegou a trabalhar de dia nas obras e de noite em cafés e bares, roubando ao corpo o descanso que lhe era necessário, mas o sonho de ser rico era cada vez mais uma esperança perdida.
Todo o fim de mês mandava à mãe, dinheiro para que ela e a
irmã não passassem necessidades. Pagava a sua parte no apartamento, alguma comida e o que lhe restava, algumas "migalhas", eram guardadas religiosamente, na mira de um futuro melhor. Um dia porém a irmã casou e
esse casamento levou-lhe o pouco que à custa de grande sacrifício, tinha conseguido amealhar.
António estava prestes a entrar em desespero. Tinham
passado quase doze anos de trabalho intenso, o corpo começava a envelhecer, e
não via no horizonte perspetivas da fortuna que perseguia. Até a fé que sempre
o acompanhara de um dia ter poder suficiente para se vingar do seu ex-patrão,
estava prestes a abandoná-lo naquele final de Novembro, o décimo segundo desde
que chegara a França. Naquele dia, Júlio, o seu colega de quarto
propusera-lhe jogar no Euromilhões. Era um sorteio especial estavam em jogo
cento e oitenta milhões. Muito dinheiro para não arriscarem uns míseros euros
num boletim. Nada, eles já sabiam que era certo, mas quem sabe lhes saía alguma
coisa. "Nem que dê só para uma ceia de Natal melhorada já vale o
investimento" , - dissera Júlio perante a sua resistência. Preencheram uma única aposta, com os números em que cada um tinha mais fé.
Primeiro os cinco números depois as duas estrelas. Foi ele quem registou o
boletim e o guardou. No dia seguinte ao sorteio, descobriram pelo jornal que a
sorte tinha bafejado dois apostadores, um no Reino Unido e outro ali em Paris.
Cada aposta tinha sido contemplada com noventa milhões. Verificado o boletim, nem
queriam acreditar que a sorte lhes batera à porta, com aquela aposta.
No mesmo dia
entraram em contacto com a central de lotarias, estiveram com um advogado,
assinaram uma declaração de sociedade no prémio, abriram conta no banco, onde a
importância seria depositada, e saíram com muitas sugestões do que fazer e como
fazer com os quarenta e cinco milhões que cada um ia receber.
Doze anos depois, António votava a Portugal, muito mais
rico do que aquilo que algum dia sonhara, passava de novo o Natal com a
família, conhecia o seu cunhado e Pedro
o seu pequeno sobrinho.
Não tinha contado nada à família sobre a sua nova
condição de milionário. Disse-lhes na noite de Natal, depois de conhecer Eduardo
Soares, o seu cunhado, um bom advogado, com quem ele simpatizou de imediato.
22 comentários:
Também, ainda, não perdi a esperança de um dia me sair euromilhões eheheheh.
Boa noite, Elvira
Uma história de vida de muito que tanto trabalharam fora em condições degradáveis.
Felizmente veio o euromilhões.
Abraço Elvira
Também eu sonho com o Euromilhões, mas ultimamente não tenho jogado e assim não me sai nada!
Mas a alguém tem que sair!
Bom dia
A sorte por vezes bate á porta de quem a procura !!
JAFR
Eu também sonho que um dia vou ser rico. Mas se calhar o melhor ´+e ir trabalhando no dia a dia, lol
.
Um Sábado feliz
.
** Lágrimas, frios pingos de saudade ( Poetizando e Encantando ) **
Nada mal um prêmio assim pra mudar a vida!!1 Legal! bjs, chica
Será que o rico homem que passou a homem rico. Abandonou a ideia de se vingar do ex-patrão, ou será que a reforçou. Esquecendo-se de que a vingança não o iliba das suspeitas de que foi alvo?
Bom fim de semana amiga Elvira. um abraço.
Por vezes a vida é dura mas Deus dá a recompensa! E assim António começa a sua vida que tanto sonhou em Portugal!
AMEI!
Fazes-me, reviver, e saborear a felicidade. [Poetizando e Encantando]
Beijo e um bom fim de semana!
Quem sabe, um dia... Estou de regresso em serviços mínimos que a saúde está primeiro.
Abraço do Zé
Li as três partes desta história de uma só vez, devo dizer que a Elvira tem uma forma muito especial de escrever, com muitos pormenores, o que a mim me agrada especialmente, e uma forma também ela especial de prender as pessoas de forma a querer saber qual o passo seguinte. Gostei bastante.
Tenha um bom fim-de-semana.
Abraço.
(as suas melhoras)
OH...que bela história de sacrificio com o final do Euro milhões....
Um Bom fim de semana
Beijinhos
A acompanhar, Elvira. Os dados já estão quase lançados para se começar a entender o primeiro episódio ! :)
Tudo de bom ! :)
Goste de ler
Nem sempre a vida é fácil
Bjs
Kique
Hoje em Caminhos Percorridos - Alimentos que reduzem a vontade de comer doces
Vida difícil, mas desta vez a sorte a acompanhar António.
Vamos ver o que o futuro lhe reserva.
Beijinhos e uma boa noite.
Ailime
Olá amiga Elvira.
Cá estou eu lendo tudo de uma só vez, como tanto adoro.
Adorando claro, a amiga sabe tão bem como nos prender às histórias.
Bjs
Agora é milionário, mas quem olhar para o passado pode sempre pensar que ficou milionário a roubar "não há bela sem senão". Aguardemos...
... Então, de repente ficou milionário! Que virada deu na vida...
Vamos ver como ficará daqui pra frente... Qual será a sensação de adquirir dinheiro dessa forma?!
O meu abraço...
Eu logo vi que deveria haver aí um golpe de sorte, já que só a trabalhar ninguém enriquece e como, ao que parece, o rapaz é sério, só poderia ser sorte ao jogo.
Pena essa ideia de vingança, depois de tanto tempo passado.
Mas limpar a honra, isso sim, deve ser feito...:)
Um abraço e boa semana, Elvira
Mas que sorte a dele :)
Uauuuu que sorte!! Mas ele mereceu, agora pode ter uma vida nova e dar condições a sua família de melhorar o viver. Quanto a vingança, vamos ver no que vai dar.
Beijos!
E o novelo está a desenrolar-se bem. Júlio é um homem bom que dá guarida ao amigo e António é um bom trabalhador, amigo da família e amigo do seu amigo. A sorte bafejou-os e agora resta-me esperar pela aplicação da fortuna.
Beijinhos
Acho muito interessante que nas famílais, sempre se tem alguém em quem confiar. Boito esse parecer no conto...
Bjm carinhoso e fraterno
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