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15.3.19

UM HOMEM DIVIDIDO - PARTE II





Assim que ficou só, António levantou-se e caminhou até à janela. Precisava esticar as pernas, libertar a tensão em que estivera, durante a reunião com o seu inimigo.
António nem sempre fora um homem rico. Seus pais vinham de famílias pobres, não tinham grandes estudos. O pai trabalhava nas obras, a mãe, nas limpezas em várias lojas no bairro. Ainda assim queriam dar aos filhos os estudos que eles não puderam ter. António terminara o Secundário com boas notas e preparava-se para entrar na Universidade, quando o pai adoeceu gravemente. Se o seu ordenado não era grande coisa, o subsídio de doença era bem mais pequeno. Por outro lado a mãe para poder tratar do pai, não podia sair de casa, e deixou de poder trabalhar, limitando-se a aceitar alguns trabalhos que podia fazer em casa, como levantar umas bainhas, ou pôr um fecho numas calças. Como filho mais velho, António viu-se obrigado a abandonar os seus sonhos de entrar para a faculdade e a procurar um trabalho que lhe permitisse ajudar a sustentar a casa. Foi assim que conheceu, Jorge Maldonado em cujo escritório se empregou. Tinha dezanove anos.
Um ano mais tarde, António foi assaltado quando voltava à empresa, depois de ter efetuado uma venda e ter recebido a importância que sinalizava o negócio.
O patrão não acreditou no assalto e acusou-o de ter simulado o roubo para ficar com o dinheiro.
Despediu-o e denunciou-o à polícia. O jovem foi interrogado pelos agentes de autoridade vezes sem conta, mas nunca se  desviou um milímetro do que contara a primeira vez, pois isso fora o que acontecera, essa era a verdade.
Entretanto, o pai sofreu uma violenta recidiva do AVC anterior e faleceu três meses depois. A mãe levava os dias a chorar, e os amigos deixaram de lhe falar. Por mais que António, procurasse um trabalho que pudesse ajudar na sobrevivência da família, não conseguia. Ninguém dá trabalho a uma pessoa, quando essa pessoa está a ser investigada por roubo. Desesperado, António jurou a si mesmo que um dia ainda ia ter poder suficiente para se vingar do homem que lançara sobre ele aquele estigma.
Seis meses depois, o processo foi arquivado por falta de provas.
António despediu-se da mãe e da irmã partiu para o Alentejo, onde foi trabalhar na apanha da azeitona.Quando a safra acabou, deu parte do dinheiro à mãe e com o resto partiu para a França.

Bom fim de semana

16 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Quantas histórias reais não serão em tudo semelhantes???
Bfds

Os olhares da Gracinha! disse...

Vou à procura do primeiro capítulo... é reler este!
Bj

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Com um inicio bem á sua maneira , vamos ter com certeza uma grande historia.
JAFR

chica disse...

Acompanhando com atenção! beijos,tudo de bom,chica

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Estou a acompanhar e aproveito para desejar um bom fim-de-semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Cidália Ferreira disse...

E assim se vai fazer um Grande Homem! Estou a adorar, Já tinha saudades.

As suas melhoras
Beijo. Bom fim de semana!

noname disse...

É certo, motivos não faltam, para que se sinta injustiçado, porém a forma que parece ter escolhido para se vingar, não é das melhores, nem o abona em nada.

Boa tarde, Elvira
É bom senti-la por cá de novo.
Bom fim de semana

_ Gil António _ disse...

Lendo e bebendo em cada palavra o sabor de uma linda estória
.
Feliz fim de semana
Abraço

Edum@nes disse...

Penso que a vingança não seria a melhor forma para provar que o roubo não tinha sido simulação sua para se apoderar do dinheiro? Se ele pudesse apresentar provas da sua inocência, isso é que seria o ideal.

Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.

Anete disse...


Lendo o 2º capítulo e já gostando... Hummm, ressentimento traz ao coração sentimentos terríveis... O perdão é o caminho...

Um bj e BOA NOITE... Bom fim de semana e ÓTIMA CONTINUAÇÃO DO REPOUSO...

Ailime disse...

Estou a gostar, Elvira!
Vou continuar a ler.
Beijinhos,
Ailime

Cantinho da Gaiata disse...

Olá, novamente.
Quantas histórias destas se devem ter passado na vida real? Muitas....
Bjs

Gaja Maria disse...

A história promete :)
Abraço Elvira

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

É muito triste ser acusado injustamente!
Beijos!

cata-vento disse...

E a novela continua a desenrolar-se. Gostei bastante deste episódio. Ainda me aguçou mais a curiosidade. António concretizará o seu sonho? Imaginação não te falta, amiga. Excelente!

Beijinhos

Roselia Bezerra disse...

Muito trite quando se tem lançado por si um estigma mentiroso.
Muito boa abordagem!
Bjm carinhoso e fraterno, amiga.