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29.11.18

UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE XVIII


Encontrou a mãe na sala, tricotando uma camisola para a neta. Recebeu o beijo que a filha lhe dava e disse.
- Senta-te. Esperava-te de manhã
Não se admirou. A mãe sempre sabia quando algo a atormentava. E também sabia que recorreria a ela com a mesma fé com que o náufrago se agarra à tábua de salvação que lhe estendem.
-Sabes o que se passa?
 Assentiu com a cabeça.
- Sabia-lo há muito tempo?
Voltou a acenar com a cabeça.
- Desde quando mãe?
- Pois não tenho a certeza, quando começou. Eu descobri-o nos seus olhos há cinco anos, na cerimonia de casamento dos teus irmãos.
- Era assim tão evidente?
- Para o coração de uma mãe, sim.
-Sabes que ele não regressa por minha causa?
- Sei.
- E não me odeias?
- Que ideia é essa, Ana? Sabes que sempre te amei como uma filha, muito embora não o sejas. Se tivesse que odiar alguém talvez tivesse de o fazer comigo. Pensas que não me sinto culpada? Se não tivesse fomentado entre vós esse arreigado sentimento de fraternidade, talvez agora estivéssemos todos mais felizes. Simão diz que não o consegues ver, senão como irmão.
- Desde ontem que o tento, mãe. Contou-te que me beijou?
Negou com um movimento de cabeça.
 - Beijou-me. E esse beijo mexeu comigo como nada nem ninguém o tinha feito até hoje.
Abraçou a mãe e escondeu a cabeça no seu regaço, exatamente como quando era menina, e alguma coisa a preocupava. Francisca estendeu a mão e acariciou a cabeça da filha.
- Tenho medo, mãe.
- Medo de quê, Ana?
-Medo de me deixar embarcar numa ilusão que nos traga muito sofrimento. Ou que afunde a família.
- Pensas que não o amas, ou que podes vir a amá-lo?
-Não sei. O meu coração está desnorteado, a minha cabeça confusa. O Simão foi para mim o mais amado dos irmãos. Por isso estava tão zangada, por achar que já não gostava de mim. Mas nunca até ontem o vi como homem, nem nunca passou pela minha cabeça pensar nele como tal. Muito menos como o homem da minha vida. Mas desde que me beijou, tudo mudou. Imagino-o de mil maneiras, menos como irmão. Se isso é amor, não sei. Sinto-me desorientada.
É natural, Ana. Espera um pouco. O tempo ajuda a clarificar sentimentos.
- Sabes que não quero só alguém que me ame e me proponha casamento. Se fosse só isso, há anos que me tinha casado. Eu quero alguém que partilhe tudo comigo. A sua vida, os seus sonhos,  o seu amor. Que me enlouqueça.  Imagina que isso não acontece com o Simão. Perdi o irmão e não ganhei o amante. Entendes?
Acenou afirmativamente.
- É disso que tenho medo. De me expor, e de expor toda a família ao sofrimento. No fundo, o que eu queria, era viver um amor como o teu com o pai. Nunca conheci ninguém tão feliz como vocês.
- Nem sempre foi assim, Ana.
- Não? – Perguntou admirada.
-Vou contar-te como conheci o teu pai. É um segredo que nunca contei a nenhum dos teus irmãos, e que espero fique entre nós.  
E Francisca, falou do estranho contrato, celebrado com o marido, que estivera por base do seu casamento. 
Ana estava verdadeiramente espantada. Custava-lhe a aceitar a história que a mãe lhe contava.
- Foi muito arriscado. E se nunca se tivessem apaixonado?
 Viveriam uma vida sem amor, só por nossa causa?
- Era uma boa causa. Mas eu amei o teu pai desde o primeiro dia. E tinha a esperança de que um dia me correspondesse. E às vezes, para chegar ao cume da montanha,não basta ter um bom equipamento.   É preciso correr riscos.
Ana olhou a mãe tentando entender a mensagem.


reedição







17 comentários:

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Os conselhos dos pais são sempre os melhores , e alguém vai com certeza aceita-lo .
JAFR

Roselia Bezerra disse...

Bom dia, querida amiga Elvira!
O segredo da mãe contado à filha de uma forma extraordinária e contendo uma mensagem magnífica que me emociona: é preciso correr riscos!
Tenha dias felizes e abençoados junto aos seus amados!
Bjm fraterno e carinhoso de paz e bem

chica disse...

Uma mensagem clara e bem dada com poucas palavras pela mãe! O tempo dirá!

beijos, tudo de bom pra ti hoje lá! chica

Cidália Ferreira disse...

Bom dia!
Eu sabia que só Francisca a poderia ouvir, entender e aconselhar!! Amei!

Beijos e uma excelente dia...

Maria João Brito de Sousa disse...

Mais uma vez a ler dois episódios, por força das circunstâncias e do progressivo aumento das minhas limitações.

Que tenha uma boa consulta, Elvira.

Abraço.

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história!

Isabel Sá
Brilhos da Moda

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Continuo a acompanhar esta bela história.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Os olhares da Gracinha! disse...

Conselhos sempre válidos!!! Bj

Anete disse...


Olá, Elvira querida! Torcendo pela sua saúde, procedimentos.

Gostei imenso dos dois capítulos que li agora... Tudo sendo "ajustado" para ALEGRIA MAIOR...

Beijos

noname disse...

Mãe, sábia. :)

Bom dia Elvira

São disse...

Se todas as mães amassem quem colocam no mundo, seria muito bom...


Beijinhos

São disse...

Que tudo corra bem com a sua saúde Abraço caloroso

António Querido disse...

Mais um dia sem poder ir à beira-mar! Por mim podia regressar o sol.

O meu abraço

Meu Velho Baú disse...

Turbilhão de sentimentos pairam no ar....promete ser um belo Romance
Beijinhos

Edum@nes disse...

Ana nos lábios dela sentiu,
com paixão um beijo de Simão
não disse nem tão pouco fingiu
de que o não sentiu no coração!

Tenha uma boa tarde amiga Elvira.
Um abraço.

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Como eu tinha dito, sabia que a mãe iria ter uma conversa muito digna com Ana.
Beijinhos.
Ailime

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Mães, sempre sábias e conduzindo com amor e maestria os conflitos familiares, amorosos e de toda espécie.
Beijos!