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2.1.17

UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE II







Foi direta à sala, onde sabia que encontraria a mãe a ler. Era o seu lugar favorito. Sentou-se a seu lado. Francisca fechou o livro e olhou para ela na expectativa. Não fez perguntas, e Ana teve a certeza de que a mãe sabia o que lhe ia dizer. A mãe sempre sabia o que se passava com ela:
- Mãe, já não vai haver noivado, muito menos casamento. Acabei tudo com o Paulo.
Se esperava que a mãe dissesse alguma coisa, enganou-se. Francisca levantou a mão, acariciou o rosto da filha, e esperou.
-Eu queria, mãe. Começo a desejar estabilizar a minha vida emocional. Ter a minha casa, marido, filhos. Pensei que com o Paulo, isso ia acontecer. Mas não é assim. Na intimidade, a chama não se acendeu, senti-me estranha nos seus braços. E não quero um casamento assim. Não me basta ter um homem apaixonado ao meu lado. Eu quero alguém a quem eu ame com intensidade.
A mãe abraçou-a como fazia quando ela era criança. Ana deitou  a cabeça no seu regaço, e deu largas à sua desilusão, deixando correr as lágrimas. Francisca sentiu um nó na garganta. Apesar dos anos, tinha bem presente o que fora o seu casamento com Jorge. Sabia bem o que era rolar na cama, depois de ter feito amor, pensando que devia estar feliz, mas sentindo apenas que cumprira uma obrigação, que a envergonhava e lhe deixava um aperto no peito que não a deixava adormecer. De forma nenhuma queria isso para a sua menina. Dos seus filhos, Ana era aquela que mais se identificava com ela. A mais sensível. Sentindo que se acalmara, afastou-a um pouco e olhou-a com ternura.
- Se assim é, fizeste bem, Ana. Um casamento é uma coisa muito séria. Bem sei que na atualidade, o divórcio está na ordem do dia. Mas acarreta sofrimento. Deixa cicatrizes. Já contaste ao pai?
- Eu sabia que me ias entender. No fundo, o que eu queria, era um casamento como o vosso. Essa felicidade que transportam no olhar, esse amor visível em cada gesto. Foi sempre assim, ou isso aprende-se com o tempo?
Francisca sorriu: Continuava a ser uma linda mulher apesar de já ter ultrapassado os cinquenta anos.
-No amor, nada se aprende Ana. Ele é espontâneo e avassalador. O tempo não lhe acrescenta, nem tira nada. Somos nós, com as nossas atitudes que o engrandecemos ou o matamos. Compara-o a uma fogueira. Quando começa, as labaredas são altas, o calor intenso. Mas se não fazes nada, à medida que a lenha vai ardendo, as labaredas vão diminuindo de tamanho, o calor vai enfraquecendo até que da fogueira inicial só restam cinzas.
- E é impossível uma fogueira arder só de um lado, - murmurou a jovem desalentada. Para depois acrescentar.
-Contei ao pai, e ficou furioso. Tenho a sensação de que sentia vontade de me bater.
- Está preocupado contigo. É natural. Não te preocupes. No fundo o que nós queremos é que sejas feliz. Estás com muito trabalho? Devias pedir-lhe que te desse umas férias. Precisas espairecer. Porque não fazes uma viagem?
- Agora? E a vossa festa de aniversário?
- Faltam cinco dias. Podias, aproveitar para pôr em ordem algum assunto que tenhas pendente e partir depois da festa.
-Não tinha pensado nisso, Obrigado mãe, fazes com que os meus grandes problemas se tornem menores e menos dolorosos.
Francisca sorriu quando a jovem se inclinou para a beijar murmurando:
-És um anjo.



17 comentários:

Tintinaine disse...

Sentimentos profundos e partilhados entre mãe e filha. Como eu gosto. A história promete.

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar as histórias e desejar um excelente 2017!

Isabel Sá
Brilhos da Moda

Rui disse...

Quase sempre, há mais compreensão e abertura entre mãe e filha do que entre pai e filha ! ... Isso parece-me absolutamente natural ! :)
Aguardemos pelo desenrolar dos acontecimentos ! :))

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

a mãe...um porto seguro

gosto....

aguardemos ...

beijo

:)

São disse...

Se todas as mães apoiassem as filhas, que bom seria!


Beijinhos, amiga, bom 2017

Prata da casa disse...

Bonita cumplicidade entre mãe e filha.
Bjn
Márcia

O meu pensamento viaja disse...

Dá gosto ver essa cumplicidade entre mãe e filha!
Beijo

aluap disse...

A impressão com que fiquei é que podia haver por parte dos pais uma certa pressão para o casamento. Ainda bem que a mãe é compreensiva e pensa diferente do marido.
É sempre um prazer ler os seus contos.
Boa noite*

Elisa disse...

Gosto mesmo muito de a ler. Um grande beijinho e um Bom Ano querida Elvira.

Pedro Coimbra disse...

Começo a acompanhar agora.
Bom Ano de 2017!

Socorro Melo disse...


É muito bom quando a mãe é também uma amiga e confidente. Sorte pra Ana!


:)

Socorro Melo

Os olhares da Gracinha! disse...

O apoio de mãe é essencial em muitos momentos...bj

Edum@nes disse...

Na intimidade a chama não se acendeu,
por isso na escuridão não há claridade
quando chegou a noite o sol adormeceu
sem saúde e sem amor não há felicidade!

Um abraço amiga Elvira.

maria disse...

É bom Ana poder contarcom o apoio da mãe!

Lua Singular disse...

Oi Elvira,
Casamento sem amor e paixão vira amizade, se ela fosse velha, mas nova é inadmissível ficar juntos por causa do pai...
Amanhã volto, não quero m e atrasar muito.
Beijos
Lua Singular

Emília Pinto disse...

Mais um lindo conto que estou a acompanhar com interesse como sempre. Sempre houve uma abertura entre mim e a minha mãe e com a minha filha é igual . Acho muito importante isso. Beijinhos, Elvira e um bom fim de semana
Emilia

Roselia Bezerra disse...

Boa noite, querida Elvira!
Mãe é mãe e, no conto, vc faz isso ficar bem claro!
Bjm muito fraterno