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17.1.16

AMANHECER PARTE XXXI


foto do google



Seis meses depois, teve a sorte de ser destacado para a Sagres que ia partir em viagem, à volta do mundo, por um ano. Um facto que mudou completamente o seu modo de encarar a vida. Aprendeu o que é viver dias e dias sem avistar terra, ao sabor do humor da natureza, ora num suave embalo, ora numa dança louca que lhe revolvia as entranhas e lhe punha o estômago às voltas, dia após dia a olhar para as mesmas caras, dando as mesmas ordens, executando as mesmas tarefas, numa rotina, da qual não há como escapar, perdidos na imensidão do mar, sob um sol intenso, ou um frio de rachar, sempre ansiando pelo próximo porto. Mas também aprendeu o fascínio que aquela farda tem sobre as mulheres, mesmo que sejam de outros continentes, e com outros costumes. Viu gentes e culturas que em nada se pareciam com as suas, mas que despertaram nele o seu espírito aventureiro e a certeza de um regresso.
E foi assim que após o serviço militar cumprido, partiu à descoberta do mundo. Para se sustentar fez de tudo um pouco. Foi servente de pedreiro, empregado de mesa em cafés e restaurantes, entregador de flores, e até empregado de uma funerária. Em Paris, teve a sorte de ver uma das suas crónicas publicadas, no Le Monde. Depois, conseguiu um lugar de estagiário na redacção desse mesmo jornal. Aproveitou o estágio para se inscrever num curso intensivo de jornalismo, aprimorando e pondo em prática conhecimentos adquiridos na universidade.  Conheceu Sara, uma conterrânea a estudar arte contemporânea, com quem viveu uma conturbada história de amor, que durou pouco mais de um ano. Conturbada, porque Sara pretendia muito mais do que aquilo que ele queria, ou podia dar. O povo diz que gato escaldado de água fria tem medo. A traição de Odete, rasgara-o interiormente. Acreditava que nunca mais iria confiar noutra mulher. E Sara queria uma relação estável e douradora. Um dia despediu-se, comprou um auto caravana e rumou para África. A partir daí passou a trabalhar sempre como jornalista  independente. Mas as suas crónicas e reportagens publicavam-se em vários jornais, um pouco por todo o mundo. Especialmente as que fizera no Iraque, Timor e Myanmar. Vira e vivera situações, que até o diabo temia.
O seu espírito aventureiro, o seu físico, os belos olhos cinzentos, aliados ao seu ar trocista, acicatavam a imaginação feminina. Daí que aventuras amorosas, não lhe faltassem.
Aventuras  que duravam horas ou dias e que não faziam qualquer mossa nos seus sentimentos nem convicções. Sara fora uma excepção, pelo tempo que durou.



13 comentários:

esteban lob disse...

Cualquiera, querida Elvira, estaría feliz al ser designado para dar una vuelta por diversos países por todo un año.En todo caso es como cada vez, una excelente recopilación de circunstancias.

Isa Sá disse...

A passar para acompanhar a história. Bom domingo!

Isabel Sá
http://brilhos-da-moda.blogspot.pt

Edum@nes disse...

Para melhor se saber quanto é que custa a vida,
é preciso fazer de tudo um pouco enquanto ela dura
umas vezes com a tristeza, outras vezes com a alegria
se aprende a viver a vida, numa ou não feliz aventura!

Tenha uma boa tarde de domingo,
amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

Portuguesinha disse...

Oh, preparava-me para ler mais uns vinte posts quando percebi que cheguei ao mais recente, rsss. Estou a gostar muito. Ainda estou para ver se este jornalista vai virar para o marketing e publicidade. Terei de esperar.... E se o prédio perto do escritório é, só por coincidência, o mesmo de Isabel... Já que coincidências «não existem» rsss.
Parabéns, porque se percebe as razões que atraem um ao outro, ainda que nenhum dos dois efetivamente ainda se tenham dado a esse gesto.

Portuguesinha disse...

Cansei-me? Não, entusiasmei-me!
Do 24 para o mais recente introduz uma nova personagem e a sua história + circulo de amigos e familiares. Li como se fosse uma só página :D

Não deixei comentários em todos, achei que seria cansantivo de ler, mas não deixei nada do que senti por comentar. Acertei em alguma coisa?

Isto de tentar adivinhar o que se segue é um hábito de quem lê, certo? Só é mau para as histórias de mistério em que existe um suspeito e se adivinha logo no início quem é, rsss.

Estou a gostar deste seu romance, já lhe disse porquê. Consegui resistir ao impulso de ler a partir do ponto mais recente porque pretendia começar do início e não me arrependo. Acho que conta as histórias muito bem. Tem talento.

Um abraço e voltarei para ler o resto, agora que me inteirei novamente da história.

Silenciosamente ouvindo... disse...

COntinuo a acompanhar a história. Que bom deve ser viajar
na Caravela Sagres!
Desejo que a amiga se encontre bem.
Bjs.
Irene Alves

Gaja Maria disse...

Um "Pinga Amor" :))

Rogério G.V. Pereira disse...

(Só esta página dava um livro)

Patrícia disse...

Fico sempre curiosa com o próximo texto! Adoro!

beijinho
www.blogasbolinhasamarelas.blogspot.pt

Pedro Coimbra disse...

Estamos em presença do típico bon vivant.
Boa semana

Luis Eme disse...

O amor também é isso (ou o desamor).

O confiar depende sempre muito do outro.

abraço Elvira

Teresa Brum disse...

Hum está ficando cada vez melhor, beijinhos no coração.

Ana Freire disse...

Absolutamente entusiasmante... prosseguindo a leitura... pois finalmente é hoje que irá ficar em dia, este conto...
Beijinho