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12.8.19

LONGA TRAVESSIA - PARTE XXII



Noite de Sábado. Teresa acabara de deitar o filho, quando o telefone tocou. Estranhou. Não conhecia o número.
- Olá - a voz rouca surpreendeu-a. Tardou em responder.
-Ficaste sem voz?
- Não. Não, estava à espera que telefonasses.
- Tenho saudades tuas. Olha, ainda não são dez horas. Vamos sair?
- Não. Não quero sair.
- Está bem. Mas continuo com saudades. E se não te apetece sair, vou a caminho da tua casa.
- Não – quase gritou.
Ele já não ouviu. Desligara a chamada. E antes que ela tivesse tido tempo de pensar em qualquer coisa a campainha da porta tocou. Ficou a pensar que  já devia estar à porta do prédio quando telefonou.
Abriu a porta mas não lhe deu passagem.
-Estás doido? Com que direito é que me vens incomodar na minha própria casa?
- Com o direito de ser o teu futuro marido.
- És muito engraçado.
De súbito, reparou que o rosto masculino, ficava extremamente pálido, enquanto olhava um ponto atrás de si. 
Voltou-se e ficou sem ação ao ver Martim em pijama de pé no corredor.
- Quem é mamã?
- Um amigo. – caminhou até ele. – Vai para a cama filho. A mãe já lá vai dar-te um beijo de boas-noites. Agora tenho que falar com este senhor.
O homem permanecia à porta, sem se mexer. Parecia petrificado.
- Entras, ou sais? – Perguntou sarcástica
Entrou. Agarrou-lhe num braço.
 - Porque não me contaste? – Perguntou  com a voz embargada pela emoção
- Não tinhas que saber. Não é teu filho.
- Não digas disparates. Vê-lo ali assustado no corredor, foi como recuar  trinta anos, e ver-me a mim mesmo. Não tinhas o direito de mo esconder.
- Direito? Mas que direito? - Interrogou agastada. -  Lembras-te que te pedi para irmos passar o Natal à terra, com a minha família? Disseste que não podias, que eu fosse sozinha. Foi lá que descobri que estava grávida. Regressei ansiosa, para te contar imaginando que ias ficar feliz. E adivinha o que aconteceu? Encontrei a casa vazia, sem um bilhete de despedida, que me desse sequer a ilusão, de que tinha significado alguma coisa na tua vida.
- Contra isso nada posso fazer. Reconheço que  me portei como um canalha. Sei que o meu arrependimento, não te retira o sofrimento que passaste. Se te serve de consolação, devo dizer-te que nunca o teria feito, se passasse pela minha cabeça, a ideia de que podias estar grávida. Mas tinhas-me dito que tomavas a pílula.
- E tomava. Mas lembras-te que estive doente, um tempo antes e que tomei alguns medicamentos? O médico disse-me depois, que um deles pode anular o efeito da pílula, devíamos ter tomado outras precauções. Mas na altura eu não sabia.
- Ouve, quero que amanhã digas ao menino que eu sou seu pai. Quero vê-lo crescer, passear com ele, acompanhá-lo à escola. Quero fazer parte da sua vida.
- Quero, quero, quero. É só isso que sabes dizer. Como se nós fossemos mais uma empresa, uma máquina ou um carro, que te dispões a comprar.  Somos gente e sentimos como tal. Não estamos à venda.  E se eu não lho disser? E se eu não quiser que ele te veja?- Estava cada vez mais exaltada.
- Vais fazê-lo, Tê. Tenho esse direito e juro-te que o vou conseguir, nem que seja através dos tribunais. 
Apertava-lhe o braço zangado, o rosto pálido. Ela nunca o tinha visto assim.
Curiosamente a fúria dele, acalmou-a.
-Vai. Amanhã falamos. Estamos os dois nervosos, precisamos pensar com calma.
E empurrou-o para a porta.




15 comentários:

noname disse...

Não gosto de gente invasiva, Este, decidiu ir e foi. Decidiu voltar e resgatar o que acha lhe pertence, não olha a meios desde que atinja o seu fim. Não gosto de gente assim.

Boa noite, Elvira

Pedro Coimbra disse...

Sabe qual é a melhor maneira de apaziguar uma zanga??
Pois... :)))
Boa semana

Os olhares da Gracinha! disse...

E nervosos não há diálogo possível... Bj

Maria João Brito de Sousa disse...

De fugida, pus a leitura em dia. Preparo-me para sair para mais uma tomografia axial computorizada.

Abraço, amiga Elvira.

Tintinaine disse...

Ihihihihihihi, pegou fogo! Vai ser preciso chamar os bombeiros!

Majo Dutra disse...

Vi a foto do seu filho ainda menino e vim espreitar...
Votos de um dia bom e de uma semana melhor.
Abraços
~~~~

chica disse...

A calma virá e tudo acontecerá melhor...bjs, chica

Cidália Ferreira disse...

UI isto vai dar pano para mangas!! Amei o episódio!

Prometi, que te esperava até ao alvorecer [Poetizando e Encantando]
Beijos e uma excelente semana
Continuo por aqui e por ali! :)

Anete disse...


Boa semana, Elvira! Muita paz e saúde ao casal...

Relendo por aqui mais um capítulo...
Vamos adiante, com fé e força do Pai Todo-Poderoso...
Bjs

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Um episódio lindo e muito emotivo!
Ela tem razão, ele também, porque a ama...
Enfim!
Agora sabendo que têm um filho em comum, pode ser difícil, mas ele acabará por reconquistá-la.
Parabéns, Elvira, pelo seu dom para a escrita.
Beijinhos,
Ailime

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Passei para desejar uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

Edum@nes disse...

Teresa podia ter evitado tudo isso. Se antes de ter acontecido, tivesse contado a verdade a Mário!

Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.

lis disse...

Gostei Elvira
De verdade o direito dele tem uma certa razão porque ele não sabia da gravidez.Então, ela nao sabe o quanto ele se interessaria ou nao pelo filho. E, lógico é uma bela justificativa pra ele_ foi embora dela mas nao do filho. rs
Muito bom o capítulo Deu uma sacudida na história E ele é impetuoso _ tipo mandão ! rs
Tem gente que gosta! rs
deixo abraços

Sandra May disse...

Boa noite, Elvira!
Tenho estado afastada da blogosfera por outros projetos, mas sinto falta de ler as amigas e os amigos...
Vim desejar saúde a todos da sua família, e beijinhos na netinha, Margarida!
Abraços.

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Depois de longo tempo, retomando a história! Esse capítulo impactante!
Beijos!