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22.5.19

UM PRESENTE INESPERADO - PARTE II



Mais tarde, Isabel dava o almoço à sobrinha. Matilde era uma bebé de quinze meses, grandes olhos cinzentos, provavelmente herança paterna, já que na sua família todos tinham olhos castanhos. Também o cabelo preto era diferente do cabelo da mãe da mãe e do seu, ambos, castanho-claro quase do tom do mel. No resto, a boca, o narizito arrebitado era semelhante à mãe. Que saudades, Isabel tinha da irmã, que se suicidara dez meses antes, deixando a menina então com cinco meses a seu cargo.
 Susana nunca fora psicologicamente muito forte. Desde menina nunca soube gerir as suas emoções, parecendo viver em constante conflito com o mundo inteiro, e com ela própria. Quando se apaixonara, parecia estar mais forte, mas o descobrir que não passara de uma aventura para o homem que amava, acabara por derrubá-la e entrou em depressão, que se agravara após o parto. Isabel cansara de insistir para que procurasse ajuda especializada, mas Susana sempre se escusara. Até ao dia em que tomou a trágica decisão de acabar com a vida.
Nesse dia, dissera-lhe que ia ter uma consulta, pediu-lhe para cuidar da sua filha e saiu. Quando mais tarde, ela fora ao seu quarto vira em cima da cómoda aquela carta.
Lera-a tantas vezes que a sabia de cor.


“Isabel vou sair daqui a pouco para não voltar. A vida para mim nunca fez sentido e hoje mais do que nunca, sinto que não é aqui o meu lugar. Deixo-te a Matilde. Sei que a amas muito. Na verdade desde que ela nasceu, tu foste muito mais a sua mãe do que eu. E é o imenso amor que sentes por ela, que a salva, pois o meu vontade, era levá-la comigo. Na cómoda do meu quarto está a sua certidão de nascimento. Registei-a com o nome do pai, e peço-te que logo que possas, faças com que se conheçam. Não lhe digas mal dele. Eu não lhe tenho rancor. Apesar de tudo, o tempo que passei com ele, foi o mais feliz da minha vida. Perdoa-me minha irmã, se te faço sofrer, mas acredita que a minha partida, será o melhor para ti e para a Matilde. Eu nunca seria capaz de a amar como tu.
Susana”


Quando acabou de ler a carta, ficou desesperada. Bateu à porta da vizinha, pedindo-lhe se tomava conta da bebé e saiu desaustinada para a rua tentando encontrar a irmã. Procurou nos arredores, telefonou a amigos. Debalde. Ninguém a tinha visto.
Regressou a casa, desalentada. Recriminava-se por não ter insistido mais com a irmã para procurar ajuda médica. A firma onde trabalhava como secretária há quase seis anos ia entrar em falência e ela estava preocupada com a certeza do desemprego que a esperava. Depois chegava a casa e tinha de cuidar da sobrinha de cinco meses, pois a irmã passava os dias na cama, e não ligava nenhuma à filha, que ia crescendo de boa saúde graças aos cuidados dela e de Natália, a vizinha que cuidava da menina enquanto ela estava no trabalho.
Não fora isso, e talvez ela se tivesse apercebido do abismo onde a irmã tinha caído.
-Mãe, não …
-Não queres comer mais, meu amor?
-Não – disse a criança, reforçando a palavra com um gesto negativo da cabeça.


Hoje não houve tempo para visitas. Passei o dia em Lisboa, entre tratar de documentos, ir ver o cunhado (Que teve um  AVC) ao hospital e levar horas retida por causa da greve dos barcos foi um dia complicado.

26 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Espero que o seu cunhado se restabeleça rápida e completamente.
Abraço

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Um episodio sem duvida comovente , que infelizmente é o pão nosso de cada dia .
As melhoras para si e o seu cunhado .
JAFR

Os olhares da Gracinha! disse...

Que tudo corra bem para o seu cunhado... as suas melhoras... e mais um interessante capítulo... Bj

Anónimo disse...

Desejo as rápidas melhoras do seu cunhado, Elvira.
Cá voltarei amanhã para acompanhar o próximo episódio.

Abraço,

Maria João

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Estou a gostar e desejo as melhoras do cunhado.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

chica disse...

Uma carta impressionante e que situação! Sobrará a linda p pequena! Estou gostando muito! Bjs e b o s sorte pra todos aí! Chica

Marina Filgueira disse...

Hola Elvira, acabo de leer el relato y me parece una situación un tanto triste, ojalá tenga un buen final, de historias traumáticas, por desgracia está en mundo lleno.

Te dejo un abrazo y mi gratitud

Rui disse...

Pelo que li pareceu-me que se trata de um "original" ainda a ser escrito ou recentemente acabado. (?) Será, Elvira ?...
Um "mau começo", muito bem escrito e contado, que já começa a prender o leitor !

Abraço e as melhoras, suas e do seu cunhado, Elvira.

Anete disse...

Uma narrativa trágica e impressionante...
Vamos adiante para ver como os fatos prosseguirão...
Um abraço p você, Elvira, e muita paz e força no coração...

Cidália Ferreira disse...

Vidas.... será que algum dia vão ter com o pai da Criança? Se calhar, seria melhor não...!~

As melhoras para o seu Cunhado!

Na longitude da lua, constroem-se teias
Beijos e um excelente dia!

Janita disse...

Sigo lendo e meditando nesta trama que, afinal, é o espelho da vida de muita gente.

Não a visito para que me visite, Elvira, venho porque gosto, pelo que, pela minha parte, não vejo necessidade de dar explicações.

Desejo as rápidas melhoras desse seu familiar.

Um abraço.

Tintinaine disse...

O suicídio está cada vez mais na moda. Quando alguém chega ao fim da picada e não encontra qualquer saída ... salta da falésia e ... fim da história.
Aqui o que interessa é a criança e vamos ver que futuro a nossa novelista lhe reserva.
As melhoras para o cunhado!

Sandra May disse...

Senti vontade de chorar quando Isabel leu a carta. Infelizmente o suicídio e uma realidade. Triste realidade.
Estimo as melhoras do seu cunhado, que ele se restabeleça em breve.
Um abraço e fiquem com Deus!
Obs: estou lendo José Saramago, "Ensaio sobre a cegueira". Maravilhoso!

Meu Velho Baú disse...

Muito comovente vou seguir com muito entusiasmo
As melhoras do seu cunhado
Beijinhos

Teresa Isabel Silva disse...

Estou a acompanhar e a gostar, quero ver como vai ficar a Matilde.
As melhoras para o seu cunhado!

Bjxxx
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rosa-branca disse...

Adorei amiga. Andei a pôr a escrita em dia, a ler os atrasados claro. As melhoras do seu cunhado e para a amiga, um grande beijos e votos de tudo a correr bem.

rosa-branca disse...

Ah! E aquele condão, que a amiga Elvira tem, de nos agarrar à escrita. Fico sempre curiosa pelo próximo capítulo. Beijinhos

noname disse...

Tudo a correr bem. Que o cunhado recupere e a saúde volte à família.

Abraço

aluap disse...

Arrepiante e ao mesmo tempo emocionante!

As melhoras do cunhado.

Gaja Maria disse...

Uma boa recuperação aí para esses lados.
Abraço Elvira

Edum@nes disse...

Toda a pessoa que resolve pôr fim à sua própria vida, será um acto de coragem?De desespero, ou medo de não ser capaz de enfrentar a vida até à morte natural?

Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço. Desejo as melhoras de seu cunhado.

Kique disse...

mais um interessante capitulo desta historia
As melhoras ao cunhado
Bjs

Kique

Hoje em Caminhos Percorridos - O poder do marketing - Dia da Criança

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Uma história, mas como existem tantos casos reais semelhantes!
Desejo as melhoras do seu cunhado.
Um beijinho.
Ailime

teresa dias disse...

Olá, Elvira!
Continuo encantada com a história. A carta da Susana para a Isabel, bem...
As melhoras do familiar.
Beijo.

Roselia Bezerra disse...

Boa noite, querida amiga Elvira!
A crianca cresce e sempre ha algum familiar que cuide. Ainda bem!
Demoro a vir, mas quero ver o fim.
Tenha dias felizes!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Cada vez mais empolgada e presa a essa bela história!
Beijos!