Com as pernas a tremer, Clara deixou-se cair no sofá. Nunca o seu corpo tinha reagido assim com Júlio, nem sequer nos momentos de maior intimidade.
“O que foi isto, meu Deus? Será a isto que chamam a
química entre duas pessoas? Se o é, então entre nós existe química, mais do que suficiente para fazer explodir um quarteirão inteiro” – Pensou enquanto tentava
acalmar-se.
Não teve porém muito tempo para isso pois as crianças
irromperam na biblioteca a chorar.
- Desculpa. Não consigo acalmá-los – disse o irmão.
- Não faz mal, - disse abraçando as crianças. Vamos
deixá-las chorar um pouco a fim de acalmarem. Depois a seguir, vamos aproveitar
o sol na piscina, não é verdade meninos? Para a semana começam as aulas, e o
outono está à porta. Temos que aproveitar o resto do verão.
E sabem de uma coisa? Se o vosso pai se esqueceu de
alguma coisa, e volta atrás, vai ficar muito triste por vos ver a chorar. Vocês
querem ver o vosso pai triste?
-Não – disseram em coro.
-Então toca a por, um sorriso nessas carinhas lindas,
despir essas roupas, vestir os fatos de banho e… vamos para piscina.
- Tu também? Nunca vens – disse Soraia.
- Claro que vou. Só não fui antes, porque vocês
estavam com o vosso pai, e o tio Tiago. Era muita gente na piscina, não acham?
– Perguntou enquanto subiam as escadas para os quartos.
Pouco depois estavam os quatro na piscina. Enquanto
Bernardo parecia tão à-vontade na piscina como peixe na água, Soraia, não sabia
nadar. Não saía da zona onde tinha pé, e sempre que Clara ou Tiago tentavam que
se deitasse na água tremia de medo. Tiago disse à irmã que tinha observado o
mesmo comportamento da menina nos dias anteriores com o pai.
- Admira-me que o pai não lhe tenha comprado uma bóia
para que ela perdesse o medo.
- Comprou. Contou-me que foi mesmo por causa de uma bóia que ela
ficou assim. Disse-me que estavam os três na parte mais funda da piscina. Ele
jogava à bola com o Bernardo, e a menina brincava na água suspensa pela bóia que
de repente rebentou e a fez- afundar-se e engolir água até o pai chegar junto
dela e a tirar da piscina. Depois disso levou bastante tempo até que voltasse a
entrar na água mas limita-se a ficar ali quieta.
- Se me ajudares, vamos fazer uma brincadeira, a ver
se aos poucos ela perde o medo.
-Vamos a isso.
- Meninos, vamos brincar um pouco na água? – Perguntou
Clara depois de chamar Bernardo para junto da irmã. – Vamos fazer de conta que o
Tiago é um Golfinho. Vocês já viram um Golfinho?
- Sim.
E gostam de Golfinhos?
-Sim – repetiram em coro
Então o Tiago vai ser um Golfinho que gosta de passear
os meninos pela piscina. Eu sou a tratadora. E vocês querem passear no lombo do
Golfinho. Muito bem. Como é que se vai chamar o Golfinho?
-Piloto – disse Bernardo.
-Piloto. Parece-me bem. Vamos lá Piloto levar o
Bernardo a passear, – disse clara estendendo o menino ao comprido sobre as
costas do irmão que nadou de um lado ao outro da piscina, sem contudo se
afastar para a parte mais funda. O menino ria, as mãos agarradas aos ombros de
Tiago. Clara olhou a menina, e viu-lhe nos olhos o desejo de entrar na
brincadeira.
- Chega Piloto, agora é a vez desta menina linda, - disse
Clara retirando Bernardo das costas do irmão e colocando no seu lugar Soraia.
Tiago sentia o corpo da menina tenso. Nadou tão
devagar quanto possível enquanto emitia sons, como se fosse um verdadeiro Golfinho. A menina foi relaxando e quando ele se dirigiu à borda da piscina ela
já ria e parecia esquecida do medo, embora os dois adultos soubessem que a
brincadeira teria que se prolongar ainda alguns dias até que a menina perdesse o medo e confiasse
o suficiente para desejar aprender a nadar.
15 comentários:
Clara está sentindo por Ricardo o que nunca sentiu por Júlio. Quererá ela dizer com isso que por Ricardo sente amor, enquanto que por Júlio não sentia?
Tenha uma boa noite amiga Elvira.
Um abraço.
Essa convivência amiga, de família fará bem a todos eles! Terão as saudades,claro, mas estão em boas mãos! bjs, chica
Esta história também contempla a pedagogia infantil, muito bem apanhado.
Boa noite, Elvira
Vê-se que a Clara tem sensibilidade apurada e grande sentido pedagógico. A coisa não podia correr melhor...Muito bem!
Um abraço e votos de uma boa noite.
Amores equivocados, niños traviesos pero normales, escenas de risas y de llantos justificados; todo un carnaval de imágenes que hacen de tus letras, Elvira, entretenimiento y suspenso.
Abrazo.
Está cada vez melhor :)
Obrigada por partilhar connosco esta linda história
Fico à espera da próxima parte ;)
Beijinho
Boa noite Elvira,
Clara é uma mãe incrível!
Muita sensibilidade e criatividade na sua escrita.
Parabéns, Elvira!
Beijinhos,
Ailime
Parir é dor, criar é amor, não é assim??
Abraço
Momentos em que a ajuda entre eles supera a falta de quem se está "gostando"... Bj
Bom dia, Elvira.
A ler o novo episódio e a acompanhar, como sempre, o desenrolar desta sua história.
Abraço
Continuo a acompanhar com bastante interesse.
Continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Que emocionante. Isto vai acabar bem, ai vai vai :))
Bjos
Votos de uma excelente Quinta - Feira.
Olá... Enfrentar a mudança de ritmo (despedida) com um banho de piscina e brincadeiras foi uma boa ideia...
Boa tarde p você... Um abraço
Gostei tanto de ler este capitulo! Tenho a certeza que na cabeça dele pairam os mesmos sentimentos! Amei!!
Beijos e um excelente dia!
Clara é uma otima mãe e será com certeza uma boa esposa :)
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