Se Ricardo reparou nos sorrisinhos trocados pelos filhos e no seu ar de conspiração durante o jantar, não o deixou transparecer. Na verdade o dia tinha sido complicado, estava cansado, E verificar que os filhos pareciam felizes no primeiro dia em que regressara ao trabalho depois daquelas férias, era menos uma preocupação.
Na véspera, aproveitara um momento em que todos
estavam no jardim, para falar com Antónia. Pensara pedir-lhe para entrar
imediatamente em contacto com Francisco se observasse algum comportamento menos
correto da parte de Clara para com as crianças durante a sua ausência.
No entanto, por alguma intrínseca razão do seu subconsciente não o fez. E acabou apenas por lhe pedir que ajudasse a senhora, como toda a vida o ajudara a ele.
-Não se apoquente. Cuide de si, que é quem vai estar
em perigo – respondera-lhe ela. – Não consigo entender, acabaram com a guerra
nas colónias, e agora andam por países estrangeiros, metidos em guerras
alheias. Ainda um dia gostava que me explicassem a lógica disso.
Ricardo poderia explicar-lhe que Portugal era parte integrante da NATO,e que por isso as suas forças militares poderiam ir para qualquer parte do mundo, poderia recitar-lhe o hino pelo qual se regiam
e que tinha sempre na memória.
Iremos até onde a Pátria for
E seja em paz
Ou na guerra
Que este clamor
Vibre imortal.
De mar em mar,
De serra em serra:
Portugal! Portugal! Portugal!
Mas será que ela ia entender?
Alheia aos seus pensamentos, Antónia continuou:
Alheia aos seus pensamentos, Antónia continuou:
-Mas enfim, vá descansado que por aqui, vai correr
tudo bem. O senhor não podia ter encontrado ninguém melhor para cuidar dos meninos. A
senhora tem no peito, um coração amoroso, e a alma nos olhos. E os seus olhos
dizem que ela os ama. Não tem com que se preocupar.
Mas era evidente que ele se preocupava. Já fizera um
novo testamento. Porque quando se vai para uma missão, sabe-se como e quando se
vai, não se sabe como se volta. Nem sequer se há volta. O que Clara lhe dissera
naquele dia, calara fundo no seu peito. E fizera-o repensar toda a sua vida.
De tal maneira, que estava a pensar seriamente pedir a
passagem à reserva no fim daquela missão.
Recordou-se do juramento que fizera, quando ingressara
no exército
«Juro, como português e como militar, guardar e
fazer guardar a Constituição e as leis da República, servir as Forças Armadas e
cumprir os deveres militares. Juro defender a minha Pátria e estar sempre
pronto a lutar pela sua liberdade e independência, mesmo com o sacrifício da
própria vida.»
Ele interiorizara-o e em todos aqueles anos cumprira-o
com orgulho. Mas agora outros valores se levantavam. A sua obrigação já não era
apenas com a Pátria, mas também com os filhos.
Sempre gostara muito de escrever. E ao longo dos anos
fora enchendo blocos e blocos com as suas vivências, com as coisas
que fora observando ao longo da vida, não só em Portugal, como nos países por
onde andara. Quem sabe ele tinha material para um grande romance, e podia enfim
cumprir o seu sonho de menino?
Na quarta-feira, o ambiente na casa estava pesado.
Todos sabiam que Ricardo partiria no dia seguinte. Antónia fungava pelos cantos
escondendo as lágrimas, para não afligir mais as crianças, já de si tristes com
a eminente partida do pai. Alfredo ocultava no trabalho a preocupação. De um modo ou de
outro, todos amavam Ricardo, e se sentiam tristes e preocupados com a sua
eminente partida. Até Tiago, com a desculpa de ter que rever a matéria, que o
ano escolar estava a começar, se fechara no seu quarto.
E Clara? Que sentia a jovem, que tinha aceitado um
casamento que ela mesma rotulara de maluco, com um perfeito desconhecido? Que
sentimento albergava agora, depois daquela semana e meia de convivência, pelo seu "marido"?
18 comentários:
Fascinante o romance .....
Beijinhos
Acompanhando sempre, Elvira.
Abraço e uma serena noite.
Ai que estou tão curiosa :-)
Boa tarde, Elvira
Esta história está cada vez mais cativante!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Achei interessante estes juramentos e a fidelidade à Pátria.
Abraço Elvira
Todos creio, estamos adorando tanto enredo bem armado por aqui! Esperando sempre mais! bjs, chica
Está história está ficando dia após dia mais interessante!
Tenha uma boa noite amiga Elvira.
Um abraço,
Os juramentos fazem-me, mas de repente por força maior, se desfazem. Adorei :))
Hoje: O teu odor de Galanteador
Bjos
Votos de uma óptima e abençoada Noite.
Aguardo ansiosa o desenvolvimento :)
Abraço
Boa noite Elvira, adorei os detalhes e a intensidade deste capítulo.
Muito criativo e bem escrito.
Beijinhos e boa semana.
Ailime
Este capitulo faz-me lembrar - em parte - um futuro sobrinho que está a fazer a sua ultima missão acho que no Kosovo.É a segunda...(filho único)...[Sabem como vão, não sabem como voltam]...! Este mexeu um pouco comigo! Amei!
Teu coração, mélico, doce tentação...
Beijos - Boa Noite!
Cada dia esta historia está melhor
Bjs
Kique
Hoje em Caminhos Percorridos - TU RECUERDO
Quem sabe, depois da partida do Ricardo, a ausência acenderá as chamas existentes no coração de ambos. Continuo gostando e acompanhando.
Abraços e uma ótima semana para ti e para os teus.
Furtado
A resposta a essas e outras perguntas segue dentro de momentos, não é?
Abraço
Bom dia
Pois ! O que irá na cabeça de Clara ?
Vamos ver quais as palavras de despedida entre os dois !!
JAFR
A Clara vai cozinhar os seus sentimentos em lume brando, enquanto ele estiver em missão. Entretanto a autora terá tempo de decidir qual será o seu futuro.
Suspense q.b.!
O amor à causa é à pessoa em belo momento de leitura... Bj
Estou acompanhando com atenção e carinho. Como acontece sempre que leio, já vou imaginando, dando faces às personagens...adoro!
Enviar um comentário