A perplexidade tinha-se apossado do espírito de Helena Trindade, a jovem, a quem todos os amigos e conhecidos, tratavam por Lena. Não tinha dormido nada na noite anterior, doía-lhe terrivelmente a cabeça. Deixou a caixa em cima do sofá, levantou-se e foi à cozinha. Procurou numa gaveta, e encontrou uma caixa de aspirinas. Retirou dois comprimidos que engoliu com um copo de água e dirigiu-se para o quarto onde se deixou cair em cima da cama. Não se despira, só queria ver se descansava um pouco, de modo a aliviar a dor de cabeça, embora a recém-descoberta, não a deixasse sossegar. Como é que a mãe fora capaz de lhe mentir? E sustentar a mesma mentira durante tantos anos.
Segundo sabia, a sua mãe viera viver para aquela casa, há mais de vinte anos. Decerto antes mesmo do seu nascimento, já que ela nascera na Maternidade Alfredo da Costa. Também segundo a mãe, não
tinha mais família que a irmã casada e já com um filho. Segundo lhe contou,
as duas viviam em S. Pedro do Sul, na casa que fora dos seus antepassados. Ana,
a tia, empregara-se no hotel Vouga nas termas, enquanto Natália, a mãe, trabalhava
numa loja de tecidos, na Praça do Município. A tia conhecera o jovem Alberto
Castro, quando ele acompanhara a mãe, que precisava fazer um tratamento termal. Foi amor à primeira vista, e
quando dona Alzira terminou os tratamentos os jovens já falavam em casamento.
Alberto vivia em Lisboa com os pais. Quando ele partiu as
vizinhas diziam à jovem Ana, que não tivesse esperanças. O rapaz quisera
divertir-se enquanto a mãe fazia os tratamentos, mas uma vez em casa nunca mais
se ia lembrar dela. Não foi assim. Alberto escrevia regularmente, e por vezes
telefonava. Pediu-lhe os documentos e disse que ia tratar do casamento. Ela
disse-lhe que queria casar ali na terra, na Igreja de S. Francisco onde fora
batizada. Ele aceitou e quando voltou a S. Pedro, no Verão de mil novecentos e oitenta e sete, vinha acompanhado dos pais e
irmã, e tinham o casamento marcado para dois dias depois.
Ana, despediu-se da irmã, com um abraço apertado, a
saudade já a marcar presença no seu coração, mas o dever da esposa é acompanhar
o marido, e não podia impor a presença da irmã, à sua nova família que mal
conhecia.
Natália continuara em S. Pedro, vivendo na casa que fora
dos seus avós e mais tarde de seus pais. Tinha muitas saudades da irmã, que só
via uma vez por ano, durante as férias. Quando a mãe ficara grávida, e contara
à irmã, e as duas decidiram vender a casa, e com a sua parte da herança, ela
mudara-se para Lisboa, e alugara uma casa, precisamente aquela onde vivia, e
que anos mais tarde quando a dona da casa morrera, o herdeiro decidira vender.
Como inquilina, a mãe tinha prioridade na compra, que por esse mesmo motivo foi
muito mais barata, que se estivesse devoluta.
Isto fora o que a mãe sempre lhe dissera. Mas então segundo aqueles documentos a mãe, viera para Lisboa logo a seguir ao divórcio, provavelmente para que o marido não tivesse conhecimento de que estava grávida, e pudesse requerer o seu direito paternal sobre o bebé.
Isto fora o que a mãe sempre lhe dissera. Mas então segundo aqueles documentos a mãe, viera para Lisboa logo a seguir ao divórcio, provavelmente para que o marido não tivesse conhecimento de que estava grávida, e pudesse requerer o seu direito paternal sobre o bebé.
A mãe, sempre trabalhara numa loja, na Avenida Almirante
Reis. Mas além do trabalho diário das nove às dezanove horas, a mãe ainda
fazia rissóis e croquetes que vendia aos vizinhos e às colegas na Loja. E às
vezes ainda fazia pequenos arranjos em roupas aos fins-de-semana. Umas bainhas
para subir ou descer, uma saia para apertar, uma gola de camisa para virar,
enfim o que lhe aparecia. Como trabalhava perto de casa, não tinha despesas com transportes. Assim as duas foram vivendo sem que ela mexesse na maior parte do dinheiro, da sua parte, na venda da casa e pinhal, que as duas irmãs tinham herdado. Natália depositara esse dinheiro numa conta a prazo. Com os juros
altos da época, a conta cresceu, bastante e assim pôde comprar a casa,
em dois mil e dois, quando a senhoria morreu e o herdeiro a quis vender.
Gente, Toda a noite choveu e a trovoada foi forte. Vejam as fotos que acabei de tirar da minha varanda. ( 9. 00 horas) Penso que alguém devia avisar o Senhor do Tempo, que o Verão começa hoje.
Gente, Toda a noite choveu e a trovoada foi forte. Vejam as fotos que acabei de tirar da minha varanda. ( 9. 00 horas) Penso que alguém devia avisar o Senhor do Tempo, que o Verão começa hoje.
21 comentários:
Quantos segredos se escondem Elvira nas relações e com as mais variadas das desculpas e muitas vezes injustificáveis?
Complexo o ser humano.
Meu abraço de paz
Agora não faço ideia do que daqui vai sair, confesso.
Abraço
O que instiga numa história é a riqueza de detalhes, e isso você sabe construir muito bem Elvira. Amando cada capitulo. Vai entender qual a razão da mãe em ter mentido a respeito do pai. A gente vai saber mais pra frente quando a autora nos contar risos.
Beijo!
Bom dia
talvez uma historia como da Maria Papoila !!
JAFR
Passando e pondo a leitura em dia, uma história triste, mas que temos muito para saber o que está escondido.
Beijinho grande.
Estou a gostar do andamento da história.
Um abraço e continuação de boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
A mãe de Helena morreu, jamais irá voltar para lhe esclarecer o que ela não sabe e pretende saber. A não ser que para além da morte haja vida?
Tenha um bom primeiro dia de verão com chuva amiga Elvira.
Um abraço.
Estou a gostar do "enredo" da história :))
(O tempo está muito tresloucado)
Hoje:- Podem até chegar tempestades
Bjos
Votos de uma óptima Quinta - Feira
O enredo está uma maravilha! Continuemos, portanto.
Aquilo que se vê ao longe é o Seixal, Elvira?
Mistérios, questionamentos...Tanto a vier por aqui... Está ótima a trama! beijos, chica
Herança essa que passará para ela. Mas acho que ela vai estar mais interessada em saber quem é seu pai, penso eu. Estou a gostar!!
Beijo e um excelente dia!
Algo me diz que não vai ser fácil desembaraçar este novelo, mas tenho fé na experiência novelística da autora.
Ah...que belos tempos esses, em que os Bancos pagavam juros decentes a quem lhes entregava as suas poupanças!
Que lindo o arco-íris!... Por cá trovejou, relampejou e chuviscou um pouco, mas acabou por espalhar.
As cerejas já vão sofrer com esta entrada intempestiva do Verão, oh se vão!
Um abraço.
Li os primeiros 4 capítulos e esta história promete...
Gostei da narrativa, como sempre.
Continuação de boa semana, amiga Elvira.
Beijo.
Olá Elvira, primeiro de tudo, dizer que a sua foto actual amosa uma linda muller. Logo, que Natalia era o nome da miña mae. Lim este capítulo da historia, que promete, como todas as que escrive. Estou moi agradezida polas visitas que me fai. Uma grande aperta.
Um enredo que promete e olhares lindos!!!
bj
Olá, querida amiga Elvira!
Li os posts passados para saber o início da história...
Vamos ver onde vai dar... a mãe fora casada e a por que será não falou a verdade para a filha. Deve ter seus motivos e vou aguardar com grande expectativa...
Lindo arco-íris e os duplos têm significado especialíssimo.
Seja muito feliz e abençoada junto aos seus amados!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
Boa noite Elvira,
Estórias de família muito bem narradas.
Quem será o pai de Helena?
Acompanhando o desenrolar com muito interesse.
Beijinhos,
Ailime
(Aqui onde moro, muito próximo de Sintra, amanheceu igualmente escuro e a chover que se prolongou até à hora de almoço. A tarde esteve esplêndida e passei-a na praia do Magoito a caminhar à beira-mar. Uma maravilha! O verão apresentou-se assim desta forma tão diversa.
Adorei o arco-íris duplo! Magníficas fotos)!
O São Pedro anda de mau humor e vai estragar a festa do São João
Bjs
Hoje em Caminhos Percorridos - Nova dosagem de VIAGRA
ok. Não vai descansar enquanto não encontrar o pai. Promete a história :)
Acompanhando e gostando muito!
Abraços!
Boa tarde Elvira!
Voltei nesse capitulo pra ler os acontecidos que perdi e continuar em diante.
Bjs e boa semana!
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