O comportamento de Francisco começou a mudar seis meses depois. Primeiro foram as saídas à noite. Depois o dinheiro que lhe dava para a casa que foi encurtando até deixar por completo de lhe entregar dinheiro. Carlota fazia limpezas em duas lojas, mas o ordenado não chegava para as despesas da casa. Começou a questionar o marido, e ele tornou-se agressivo.
A poucos dias de comemorarem um ano de casados, levou a primeira sova.
Ficou com um olho negro, e várias equimoses espalhadas pelo corpo. Tudo porque ela queria dinheiro para pagar, a conta no talho e na mercearia.
Por vergonha escondeu de todos o que se passava. Até mesmo quando questionada pela irmã, ela disse que tinha caído na rua. Dias depois, o marido chegou a casa com um ramo de flores, pediu-lhe desculpa, jurou que nunca mais lhe fazia mal, deu-lhe dinheiro, e durante algum tempo tratou-a com carinho, parecendo o homem dos primeiros tempos de casado.
Para mal dela, essas alterações, tornaram-se rotina. Ora lhe batia, ora lhe suplicava perdão e jurava mudar de comportamento. Ora lhe dava dinheiro, ora lho tirava e a deixava sem um tostão em casa. Carlota contou à irmã o que se passava, e disse-lhe que se queria separar do marido. A irmã disse-lhe que era uma vergonha, nunca ninguém na família se separara, o povo ia dizer que ela era uma perdida, e depois ela sabia que “quem se obriga a amar, obriga-se a padecer”. Carlota chorou, mas resignou-se, especialmente depois que descobriu que estava grávida.
Infelizmente não teve tempo para contar ao marido o que se passava. Naquela noite, ele disse-lhe que ia sair e pediu-lhe o dinheiro, que dias antes, entregara para a casa. Ela negou, e depois de duas violentas bofetadas, o marido dirigiu-se à gaveta onde ela guardava o dinheiro.
Com as notas na mão encaminhou-se para a porta. Carlota tentou impedi-lo e ele deu-lhe um encontrão que a derrubou na sua frente. Como se não chegasse ainda lhe deu um pontapé, que a apanhou em cheio na barriga.
Depois abriu a porta e saiu. A jovem ficou no chão contorcendo-se com dores. O filho, aflito, sem forças para a levantar, chamou uma vizinha.
A mulher ajudou-a a erguer-se e ao fazê-lo, Carlota deu-se conta que estava com uma hemorragia. A vizinha ofereceu-se para ir ao café chamar uma ambulância, (naquele tempo poucas pessoas tinham telefone em casa).
No hospital Carlota soube que acabara de perder o filho que esperava. Ficou internada, pois surgiram complicações, foi operada e informada de que não mais podia engravidar.
O marido ia vê-la todos os dias. Chorava, pedia perdão, fazia promessas. Ela já não acreditava nele. Pensava que ele tinha uma amante. E se assim era, pois que fosse para junto dela. Soube depois que não havia tal amante. O marido era viciado no jogo. Contou-lhe a vizinha quando a visitou no hospital. Fora um sobrinho que lhe contara, “ele está empregado num desses sítios onde se joga, e diz que já o viu perder muito dinheiro” dissera ela.
De qualquer modo ela estava decidida. Não voltaria para casa. Só precisava falar com, a irmã, e pedir se lhe cuidava do filho. Ela não tinha dinheiro para alugar uma casa, para viver com ele. Nessa altura, dava graças a Deus, por Francisco nunca ter cumprido a promessa de perfilhar o garoto.
Assim, não podia exercer qualquer chantagem por causa dos direitos sobre o filho.
Depois, ela havia de se arranjar. O trabalho nunca lhe metera medo.
19 comentários:
boas
coitada da carlota , tudo na vida lhe tem corrido mal , não estou mesmo a ver forma de ela ser feliz.
vamos ver o que o destino lhe reserva agora !!!
JAFR
Realmente, nenhuma mulher merece sofrer assim. Conheço casos reais do género. Aqui, só a separação. E, a Carlota que siga o seu caminho. Quiçá ainda irá ser feliz.
Hoje: - Magia sem sumo
.
Bjos
Votos de boa Terça-Feira
Este episódio meteu-me nervos. Monstro!
Que a Carlota futuramente tenha melhor sorte.
Beijinhos
Que brutalidade tremenda ! :(... E o problema é que estas coisas são mais vulgares que o que possa parecer.
O vício do jogo, que quantas vezes começa com pequenos hábitos (telefonemas, raspadinhas,... e eu até conheço casos disso e que muitas vezes acabam nas "máquinas" dos casinos ! ) :( ... que se vão tornando incontroláveis de cada vez de maiores dimensões !
Pobre Carlota! Esse animal não merece nada além de punição! beijos,chica
Uma vida de sofrimento!!!bj
Coitada, nasceu para sofrer!!! É uma história dramática que prende nossa atenção!
Abraços afetuosos!
Coitada, tanta desgraça já merecia uma vida melhor.
Bjs
A vida de Carlota,vai de mal para pior. O melhor a fazer é separar-se se é que não quer continuar a levar porrada. Porque, o marido não terá emenda?
Tenha uma boa noite amiga Elvira.
Um abraço.
Olá Boa noite!
Parabéns pela bela postagem , dá gosto de vir aqui apreciar.
Hoje tem postagem nova no blog, uma aluna nossa que inspirada em suas leituras, escreve lindas e românticas poesias, dentro do Projeto Alunos leitores e Escritores.
Seu incentivo no comentário será muito importante.
Abraços
Infelizmente ainda há agressão contra a mulher dentro de casa.
O marido desconta sua frustração, no mais frágil.
bjokas =)
Espero que as coisas melhorem para ela.
Achei interessante 'quem se obriga a amar, obriga-se a padecer'.
Essa não Elvira rs
Com agressoes ficou dificil para Carlota,agora melhor será nao dar ouvidos ao que pensa os outros e separar desse homem.
Complicado isso !
_e longe de ser so imaginação,porque temos muitos casos iguais por todo canto
seguindo quase em tempo real Elvira
beijo
E quanto são os casos de violência que ainda permanecem inclusivamente entre pessoas com habilitações literárias ao nível do Ensino Superior?? :(
a passar por cá para acompanhar a história!
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Está a ficar dramático.
Um abraço e continuação de boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Uma história triste, mas infelizmente ainda habitual nos nossos dias.
Abraço
É, parece que a Carlota nasceu mesmo para sofrer ou, talvez estes sejam os baixos da vida e que os altos devem estar por vir. Curioso e aguardando.
Abraços,
Furtado
Boa noite Elvira,
Que triste. O que mais me fere é que hoje ainda há situações gravíssimas como a de Carlota.
Beijinhos,
Ailime
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