Dirigiu-se ao sofá. Pegou na camisa anteriormente atirada para ali, sacudiu-a e pendurou-a no bengaleiro, Despiu as calças e fez o mesmo. Depois, encaminhou-se para a casa de banho.
Enquanto escovava os dentes lançou uma mirada rápida ao
espelho. Tinha trinta e um anos e sentia-se velho. Nada na vida lhe interessava, a
não ser a pintura. Ela era de momento o único sentido que encontrava para a sua
existência. Desde que descobrira, a força do amor que trazia dentro do peito,
sentia-se o maior dos canalhas.
Como é que aquilo tinha acontecido com ele? Desde menino
sempre fora muito responsável. Inteligente e com muito gosto pelas artes. Por
isso, na hora de escolher o seu futuro, escolhera Belas-Artes. Depois do curso
acabado viera para Paris. Inicialmente, não pensava ficar mais de seis meses.
Mas aí os seus irmãos João e Marta casaram. Os dois eram muito unidos. Quando
eram crianças, estavam sempre juntos nas brincadeiras. Engraçado que começaram a
namorar quase ao mesmo tempo e na hora de casar, tinham decidido fazer a
cerimonia, juntos.
Tudo aconteceu na festa desse duplo casamento, há cinco
anos atrás. Ela estava linda. E apresentara-lhe o noivo. Depois, graciosamente
abraçara-o e perguntara se não queria dançar com ela. Antes tivesse dito que
não. Mas nessa altura, ele ainda não tinha descoberto que a amava. Descobriu-o
com a reação do seu corpo enquanto ela confiante se deixava levar por ele,
embalada pela música.
Com a dor que sentiu no peito, quando pensou que nunca seria sua.
Com a dor que sentiu no peito, quando pensou que nunca seria sua.
Depois daquela descoberta, procurou afastar-se dela. E
nessa mesma noite decidiu que ia ficar a viver em Paris. Teve que lutar contra
os argumentos do pai, e a ternura da mãe. No dia da partida, quando se
despediam, e ele se dispunha a depositar no seu rosto um casto beijo de
despedida, a mãe disse qualquer coisa, e ao tentar virar-se o beijo que ele lhe ia
depositar no rosto, aflorou a sua boca. Foi qualquer coisa tão leve como um
suspiro, e tão suave como o roçar de uma pena. Ela mal o deve ter sentido, e
não lhe ligou qualquer importância, mas ele carregava aquela memória, como um
estigma.
Estendeu-se no sofá. Queria dormir. Esquecer tudo o que o
atormentava. Mas a memória não lhe obedecia.
Tinham passado cinco anos e desde então, não voltara a
casa. Agora tinha de ir. Os seus pais faziam vinte e cinco anos de casados.
Eram as suas bodas de prata. Ele não podia faltar. Se o fizesse, eles
sentir-se-iam rejeitados. A mãe, ficaria muito magoada. E Afonso, também não
merecia. Ele fora para ele o mais amoroso, compreensivo e amigo, dos pais.
Nunca em qualquer momento da sua vida, sentiu que ele não era o seu pai
biológico. Com o seu irmão João fora igual. Era um homem admirável que sempre
se preocupou não só com a felicidade da esposa, como com a dos seus filhos. Por
tudo isso ele sabia que tinha de ir. Mas não sabia se teria forças para
continuar a amordaçar o coração. Extenuado acabou por adormecer.
Aos que por aqui passam, votos de um feliz e luminoso fim de semana
13 comentários:
Linda história, bom final de semana, obrigado pela visita.
Blog:https://arrasandonobatomvermelho.blogspot.com.br/
Canal:https://www.youtube.com/watch?v=DmO8csZDARM
Já estou a ver a confusão que daqui vai sair. O pai e a mãe vão cair das nuvens quando descobrirem o que se passa.
Bom fim de semana!
Boa tarde
até a semana se DEUS Quizer !!!
JAFR
Possivelmente na festa vai ser ela a apaixonar-se pelo Simão.
Depois é que vão ser elas!
Bom fim de semana.
Para evitar confusão,
deveria ser interrompido
pertence a outra paixão
não sendo permitido
circular contra a mão
por um amor proibido
apaixonado coração!
Bom fim de semana amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.
Continuo e seguir a história e a gostar.
Bjn
Márcia
Feliz Ano Novo! Beijos
Hum! Está ficando interessante!
a passar por cá para acompanhar a história.
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Estou a gostar muito da história :)
Pois é... parece ser amor a sério!!!
Oi Elvira
Nenhuma mulher deveria ser rejeitada principalmente no dia do casamento. Eu já cairia fora.
Beijos
Minicontista2
Boa Noite, querida Elvira!
O pai também não era biológico... que coisa!
Bjm muito fraterno
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