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8.1.17

UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE VII





 Dirigiu-se ao sofá. Pegou na camisa anteriormente atirada para ali, sacudiu-a e pendurou-a no bengaleiro, Despiu as calças e fez o mesmo. Depois, encaminhou-se para a casa de banho.
Enquanto escovava os dentes lançou uma mirada rápida ao espelho. Tinha trinta e um anos e sentia-se velho. Nada na vida lhe interessava, a não ser a pintura. Ela era de momento o único sentido que encontrava para a sua existência. Desde que descobrira, a força do amor que trazia dentro do peito, sentia-se o maior dos canalhas.
Como é que aquilo tinha acontecido com ele? Desde menino sempre fora muito responsável. Inteligente e com muito gosto pelas artes. Por isso, na hora de escolher o seu futuro, escolhera Belas-Artes. Depois do curso acabado viera para Paris. Inicialmente, não pensava ficar mais de seis meses. Mas aí os seus irmãos João e Marta casaram. Os dois eram muito unidos. Quando eram crianças, estavam sempre juntos nas brincadeiras. Engraçado que começaram a namorar quase ao mesmo tempo e na hora de casar, tinham decidido fazer a cerimonia, juntos. 
Tudo aconteceu na festa desse duplo casamento, há cinco anos atrás. Ela estava linda. E apresentara-lhe o noivo. Depois, graciosamente abraçara-o e perguntara se não queria dançar com ela. Antes tivesse dito que não. Mas nessa altura, ele ainda não tinha descoberto que a amava. Descobriu-o com a reação do seu corpo enquanto ela confiante se deixava levar por ele, embalada pela música. 
Com a dor que sentiu no peito, quando pensou que nunca seria sua.
Depois daquela descoberta, procurou afastar-se dela. E nessa mesma noite decidiu que ia ficar a viver em Paris. Teve que lutar contra os argumentos do pai, e a ternura da mãe. No dia da partida, quando se despediam, e ele se dispunha a depositar no seu rosto um casto beijo de despedida, a mãe disse qualquer coisa, e ao tentar virar-se o beijo que ele  lhe ia depositar no rosto, aflorou a sua boca. Foi qualquer coisa tão leve como um suspiro, e tão suave como o roçar de uma pena. Ela mal o deve ter sentido, e não lhe ligou qualquer importância, mas ele carregava aquela memória, como um estigma.
Estendeu-se no sofá. Queria dormir. Esquecer tudo o que o atormentava. Mas a memória não lhe obedecia.
Tinham passado cinco anos e desde então, não voltara a casa. Agora tinha de ir. Os seus pais faziam vinte e cinco anos de casados. Eram as suas bodas de prata. Ele não podia faltar. Se o fizesse, eles sentir-se-iam rejeitados. A mãe, ficaria muito magoada. E Afonso, também não merecia. Ele fora para ele o mais amoroso, compreensivo e amigo, dos pais. Nunca em qualquer momento da sua vida, sentiu que ele não era o seu pai biológico. Com o seu irmão João fora igual. Era um homem admirável que sempre se preocupou não só com a felicidade da esposa, como com a dos seus filhos. Por tudo isso ele sabia que tinha de ir. Mas não sabia se teria forças para continuar a amordaçar o coração. Extenuado acabou por adormecer.



Aos que por aqui passam, votos de um feliz e luminoso fim de semana

13 comentários:

Nequéren Reis disse...

Linda história, bom final de semana, obrigado pela visita.
Blog:https://arrasandonobatomvermelho.blogspot.com.br/
Canal:https://www.youtube.com/watch?v=DmO8csZDARM

Tintinaine disse...

Já estou a ver a confusão que daqui vai sair. O pai e a mãe vão cair das nuvens quando descobrirem o que se passa.
Bom fim de semana!

Joaquim Rosario disse...

Boa tarde
até a semana se DEUS Quizer !!!
JAFR

aluap disse...

Possivelmente na festa vai ser ela a apaixonar-se pelo Simão.
Depois é que vão ser elas!

Bom fim de semana.

Edum@nes disse...

Para evitar confusão,
deveria ser interrompido
pertence a outra paixão
não sendo permitido
circular contra a mão
por um amor proibido
apaixonado coração!

Bom fim de semana amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

Prata da casa disse...

Continuo e seguir a história e a gostar.
Bjn
Márcia

Blog da Gigi disse...

Feliz Ano Novo! Beijos

Socorro Melo disse...


Hum! Está ficando interessante!

Isa Sá disse...

a passar por cá para acompanhar a história.

Isabel Sá
Brilhos da Moda

Gaja Maria disse...

Estou a gostar muito da história :)

maria disse...

Pois é... parece ser amor a sério!!!

Dorli Ramos disse...

Oi Elvira
Nenhuma mulher deveria ser rejeitada principalmente no dia do casamento. Eu já cairia fora.
Beijos
Minicontista2

Roselia Bezerra disse...

Boa Noite, querida Elvira!
O pai também não era biológico... que coisa!
Bjm muito fraterno