Aconchegou mais o robe ao corpo, e abaixou-se junto do vulto. Ele estava de bruços e parecia inconsciente.
Com
algum esforço, voltou-o. Estava ferido, ou estaria morto? Colocou os dedos no
seu pescoço, e verificou que embora fraca, tinha pulsação. Estava molhado e
gelado, provavelmente a entrar em hipotermia. Era preciso levá-lo para casa, proporcionar-lhe
um banho quente e roupas secas. Mas primeiro que tudo, tinha que fazer com que
recobrasse a consciência. Era demasiado grande para as suas forças e não havia
nenhuma casa à volta a quem pedir ajuda. Abanou-o energicamente, enquanto falava. O cão tinha parado de ladrar, e mantinha-se
atento.
-
Por favor, acorde. Preciso da sua ajuda. Não tenho forças para o levantar e levar para
casa, - dizia desesperada.
Como
se compreendesse o seu desespero, o cão ganiu, aproximou-se e começou a lamber
o rosto do homem.
Ele
soltou um gemido e a mulher insistiu.
-
Acorde homem. Decerto não quer morrer aqui à minha porta. Tente levantar-se. Eu
ajudo-o.
Com esforço e a ajuda dela, o homem pôs-se de pé. Começou a tremer de modo incontrolável. A
mulher pôs o seu ombro sob o braço dele e passou-lhe um braço à roda da
cintura.
-Venha.
Lá dentro estará a salvo.
Com
grande esforço, chegaram enfim à sala. Sem se preocupar com o aspeto do homem
nem com as suas roupas molhadas, ela puxou um cadeirão para junto da lareira e
ajudou-o a sentar-se.
-
Fique aqui um pouquinho enquanto lhe preparo um banho quente e lhe faço um chá.
Ouviu
um murmúrio que não percebeu e que julgou ser um agradecimento, mas não se
deteve. Pôs a chaleira ao lume, para o chá, foi ao quarto do irmão e procurou
um pijama e um robe. Não sabia se lhe serviria, o irmão era bem mais baixo do
que o desconhecido, mas não podia deixá-lo com aquelas roupas encharcadas no
corpo. Levou a roupa para a casa de banho e pôs a água quente a correr para a banheira. Voltou à cozinha, preparou o chá e levou-o para a sala. O homem estava
meio caído no cadeirão, e aproximando-se verificou que estava de novo
inconsciente.
Pensou
então que seria preferível dar-lhe algo mais forte do que um chá e dirigindo-se
ao móvel procurou entre as garrafas de bebida uma de brande, deitou um pouco num
copo e chamou de novo o homem enquanto lhe chegava a bebida à boca.
Ele
bebeu um gole, engasgou-se e tossiu fortemente. Quando acalmou ela disse:
- Beba
mais um pouco vai fazer-lhe bem. Tenho a água quente a correr para
o seu banho e uma inundação é tudo o que não precisamos agora.
Ele
bebeu um novo gole e de seguida pousou o copo na mesa de apoio. Pôs-se de pé, e
enquanto o ajudava a chegar à casa de banho, a mulher pensou que era mais alto
do que lhe tinha parecido inicialmente.
Abriu
a porta da casa de banho e perguntou tentando não se mostrar envergonhada.
-Acha
que consegue arranjar-se sozinho? Eu vou estar por perto se precisar de ajuda
chame. Na banqueta tem roupa seca. Talvez lhe fique um pouco apertada, mas é o
que se pode arranjar de momento.
-
Obrigado - murmurou o homem entrando e fechando a porta atrás de si.