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21.8.19

LONGA TRAVESSIA - PARTE XXIX


Iam passar o Natal em casa de Tiago e Luísa. Teresa apresentara-os dois dias antes, quando foram buscar Martim. Claro que Rui conhecia perfeitamente Luísa, uma vez que era a sua secretária, o que não sabia é que ela e o marido, eram os padrinhos do seu filho, e que fora o casal que acolhera Teresa durante toda a gravidez, e nos primeiros anos de vida do seu filho, para que ela pudesse continuar a estudar. Tinham-na amado e protegido como se fosse uma irmã mais nova.
Emocionado, ele agradeceu-lhes, e ofereceu os seus préstimos para tudo o que o casal precisasse. E terminou dizendo:
-Só não vos ofereço a minha amizade, porque não sei se a amizade de um traste como eu, vos interessa.
A resposta foi um forte abraço de Tiago e o convite do casal, para fazer parte da sua ceia de Natal, já que Teresa e o filho, costumavam passá-la com eles todos os anos. Aceitou, com o coração cheio de gratidão.
Depois jantaram em casa de Teresa, com Martim a falar pelos cotovelos, e a fazer inúmeras perguntas ao pai. E ele emocionado, abraçando-o e brincando com ele. Quando foi para a cama, Martim fez questão de ser o pai a ir com ele, e a contar-lhe uma história.
 Para a noite ser perfeita, faltou pernoitar lá em casa, mas compreendia que Teresa precisasse de algum tempo para assimilar a nova vida. Percebeu que se queria reconquistá-la, não podia nem devia forçá-la.
No dia seguinte, foram os três às compras. Presentes de Natal, e não só. Para eles e para Luísa, o marido e o filho. Depois foram para casa de Rui. Tê e o filho conheceram então a grande e luxuosa casa. Na sala de entrada, Rui pegou o filho ao colo e mostrou-lhe o retrato da mulher, que dominava o espaço, dizendo:
- Martim, esta era a tua avó. Uma grande mulher.
A criança olhava tudo com espanto. E com a curiosidade própria da idade, queria ver tudo. Na sala, em cima da mesinha estava o saco preto com os desenhos cinzentos, que guardava os ténis. Rui perguntou:
- Achas que servem ao Martim? Gostaria que ele os usasse se lhe servirem. Se ele os usar, é como se finalmente, eu os pudesse calçar.
- Sim. São muito bonitos, e ele nunca teve nada parecido. Vamos ver se lhe servem.
Serviam. A criança ficou encantada, e não parava quieta, só para ver as luzinhas nos ténis. Rui sorria feliz. Depois, pegando na mão de Teresa, perguntou.
-Gostas da casa? Se gostares, podemos ficar a morar aqui. Claro que poderás mudar a decoração, certamente haverá coisas de que não gostes. E quero que saibas que nunca trouxe nenhuma outra mulher a esta casa, - acrescentou fitando-a muito sério.
- Eu sei. Soube-o quando apresentaste a tua mãe ao Martim. Gosto da casa. Deveríamos mudar os sofás, ou forrá-los de novo. O branco é incompatível com crianças. Também não gosto dos reposteiros, são demasiado pesados. O resto está perfeito. Ah! E temos que fazer umas alterações num dos quartos. Decorá-lo mais de acordo com a idade do Martim.


18.11.18

ESTRANHO CONTRATO - PARTE XXXI









Afonso foi até ele. Dobrando os joelhos para ficar à altura da criança, perguntou:
-Estás triste? O Pai Natal enganou-se no presente?
-Não. Estou confuso.
- Queres dizer-me o que te faz confusão?
- Um menino na escola disse-me que não há Pai Natal. Que os presentes são os pais que os dão. No entanto tu estiveste sempre aqui. E o Pai Natal veio trazer os presentes. Tento perceber onde está a verdade.
Desde o primeiro momento, Afonso considerara Simão um menino muito especial.  Era muito precoce no entendimento das coisas, muito responsável, ele diria até que demais para a sua idade.
- Queres saber a verdade? E depois guardas segredo?
- Claro.
Afonso falou-lhe então, da lenda do Pai Natal. Disse-lhe que os irmãos acreditavam na sua existência e eram felizes com isso. Mas a verdade é que eram sim os pais que compravam os presentes. Depois pediam a alguém de confiança, que se vestisse de Pai Natal e fosse entrega-los naquela noite. Mas agora ele tinha que guardar segredo. Um dia quando os irmãos fossem maiores também iam descobrir a verdade. Mas por enquanto iam ficar muito desiludidos se perdessem aquela magia.
O menino sorriu feliz.
- Fica descansado. Sei guardar um segredo. E sabes uma coisa? Gosto muito de ti. 
-Também gosto muito de ti, filho – respondeu emocionado, abraçando o menino.
Por fim a noite chegou ao fim, as crianças recolheram aos quartos.
Mariana e Matilde, as gémeas, ficaram na cama de Ana, e esta foi dormir com a irmã. Os adultos trocaram então os presentes, com os pais de Francisca a retiraram-se logo a seguir, pois estavam habituados a dormir cedo. Na sala, Afonso conversava com o cunhado, e Graça aproveitou a ida de Francisca à cozinha, para a seguir.
- Ainda não tive oportunidade de falar contigo. Vejo que vocês se entenderam. Há muito tempo?
-Há dois dias.
-Por isso esse ar atarantado dos dois. Estão em lua-de-mel.
-Oh! Nota-se assim tanto? - Perguntou corando.
- Como não? – Vocês devoram-se com os olhos.
- Meu Deus que vergonha!
- Não sejas tonta, amar não é vergonha. Fico feliz por saber que vocês o são. Merecem-no bem. Estava preocupada convosco. Era evidente para mim que vocês estavam apaixonados um pelo outro. Mas são tão teimosos que temia, nunca viessem a reconhecê-lo.  

reedição




6.3.17

CASAMENTO POR PROCURAÇÃO - PARTE VII



- Aqui é a sala comum. É a maior divisão da casa. Daquele lado é a casa de jantar, deste como vês uma sala de estar. Estás muito calada. Que se passa Sofia? Se não tivesses falado no aeroporto diria que és muda.
- Desculpa. É que é tudo muito novo para mim. E o medo do avião, e a emoção de me ver numa terra estranha deixaram-me muito cansada.
- Calculo que sim, - disse sorrindo.
A sala, na parte onde se encontravam, tinha duas janelas com cortinas estampadas, um sofá em tons de azul, também estampado, coberto de almofadas coloridas, e um cadeirão estofado em cor-de-vinho. No chão uma carpete, muito parecida com as que a tia Ilda tecia com trapos, lá na aldeia. E em cima da carpete uma pequena mesa de vidro.
No outro lado da sala, a chamada casa de jantar com outra janela que iluminava a mesa retangular com cadeiras estufadas de amarelo.

4.11.16

ESTRANHO CONTRATO - PARTE XII


Esperando por Francisca, Afonso recordava aquela tarde três meses antes, quando Graça lhe aparecera no escritório, com aquela que hoje era sua mulher. Habituado a ver belas e desenvoltas mulheres, a jovem parecera-lhe um ser indefeso e assustado. Avançou para ela.
- Boa tarde. Sou Afonso, advogado, viúvo e com duas meninas de tenra idade. Parece-me que a minha irmã já lhe falou do nosso plano. Pretendo alguém de confiança, que goste de crianças e que possa criar as minhas filhas com carinho. A Graça contou-me a sua situação, sei que está com dificuldades e precisa de ajuda para criar os seus filhos. O que lhe proponho, não é um casamento normal como é evidente, mas um casamento de  conveniência, de modo a que os meus sogros não possam ter a veleidade de me tirarem as crianças, alegando que não tenho tempo para elas, ou que estão entregues à empregada. Casando-me, aos olhos da comunidade tenho uma família estável. Eu cuidarei que nada falte a seus filhos, e você cuidará que as minhas não sintam a falta da mãe nestes anos mais próximos em que ela tanta falta faz. Elas são demasiado pequenas, uma tem três anos, a outra, doze meses. Quando crescerem não terão memórias da mãe, mas de quem esteve sempre com elas. Em público seremos um casal, com uma família feliz, dentro de casa seremos uma espécie de amigos, ou companheiros de trabalho com deveres comuns. E claro, teremos quartos separados.
A jovem mantinha-se calada. Dava para ver que estava nervosa pela maneira como retorcia a asa da mala. Estava envergonhada. Afonso percebeu-o. Continuou.
- Não fique envergonhada, como se eu estivesse a tentar comprá-la. Veja isto como um contrato de trabalho, embora seja um contrato especial. Amei muito a minha mulher. Esse amor é o escudo que não me deixa voltar a pensar em me apaixonar e ter um casamento normal.  Só as minhas filhas me interessam. A Graça disse-me, que também não tem interesse em ninguém. É verdade?
Francisca assentiu com a cabeça. Ele continuou.
-Exijo respeito absoluto. Não posso impedi-la de voltar a apaixonar-se. Mas se isso acontecer quero que seja franca. Arranjarei maneira de libertá-la. Estas são as minhas condições. Espero que as aceite e que me ponha as suas. Depois farei um documento escrito que registarei em cartório e cada um ficará com uma cópia. Não quero correr riscos.
Calou-se. Pela primeira vez a jovem olhou-o nos olhos. Depois murmurou:
- Aceito as suas condições. Tem razão quando diz que me sinto como se estivesse à venda. Estou tremendamente envergonhada. Mas o que me oferece é muito atractivo para uma mãe que vê seus filhos precisados de coisas tão básicas como vestir e calçar e não sabe como comprá-las. Se não fossem eles, não estaria aqui. Não me desagrada cuidar das suas meninas e acredite que o farei de todo o meu coração, tentando que elas não sintam a falta da mãe. Mas o que me oferece não é um emprego de ama,  e daí esta sensação de algo imoral.
Afonso admirou-lhe a franqueza. Ela continuou.




27.2.16

MANEL DA LENHA PARTE XVII




No final de Dezembro, o José Varandas era também pai de uma menina. E começava um estranho desafio com o amigo e cunhado Manuel. Ver quem teria primeiro o filho homem, com que ambos sonhavam.
Em Fevereiro, do ano seguinte, o Capitão e  gerente da Seca, chamou o Manel, e disse-lhe que precisava daquela "casa" para a nova porteira. Mas atendendo a que ele tinha sido pai há pouco, se ele quisesse ir viver para o barracão junto ao rio, já lá viviam três casais, mas o barracão era grande, e tinha quatro quartos pelo que um estava livre, podia mudar-se para lá. Mais tarde se veria. Claro que ele aceitou. Não tinha dinheiro para outra opção.
Na mudança, a mulher do Manuel descobre que as poucas roupas que tinham comprado de enxoval antes do casamento se estavam a estragar todas, devido ao salitre entranhado nas tábuas com que o marido fizera a mobília.
O casarão, como ele lhe chamava, era um enorme barracão assente em pilares de cimento, com 1 metro de altura, para que a água passasse por baixo nas tempestades de Inverno, ou nas marés vivas de Agosto, pois ficava bem na margem do rio Coina. Tinha quatro quartos, com portas e chave, e um salão de 11 metros de comprimento por 4 metros de largura. Contrariamente aos quartos, este salão não tinha nenhum forro por baixo do telhado, pelo que não raras vezes pingava lá dentro quando chovia. A meio do salão uma grande mesa comprida, e de cada lado um banco corrido de madeira. A mesa era utilizada pelos quatro casais. A um canto do salão, sobre uma bancada de cimento,  dois tijolos,separados por uma grelha de ferro servia de fogão. A luz era fornecida pelos candeeiros a petróleo, e a água, as mulheres iam buscá-la ao chafariz da Telha, em bilhas de barro, que transportavam à cabeça, sobre uma rodilha de pano, por elas chamada de sogra. Entre o barracão e o chafariz uns quinhentos metros bem medidos. Os casais davam-se bem, eram colegas e amigos, gente da mesma terra em busca de trabalho e uma vida melhor.
A primeira obra do Manuel no casarão, foi a construção de um forno, junto ao fogão, para as mulheres poderem cozer pão.
Se por um lado não havia grande privacidade, pois cada casal dispunha apenas de um quarto para si e para os filhos, por outro havia sempre uma mulher disponível para cuidar dos miúdos, dois rapazes do Aires, um casal do António, mais um rapaz do Carlos, e a menina do Manuel.
 Manuel sempre desejara um filho e tinha-se mentalizado de que assim seria, mas passada essa primeira decepção, encantou-se com a sua menina, e passa todos os momentos livres com ela, ensinando-lhe caretas e gracinhas.
Em Agosto, o Varandas veio com a novidade. A mulher estava outra vez “prenhe”. Desta vez é que vinha um menino.
A filha do Manuel faz 1 ano, em Setembro, e é uma miúda franzina mas saudável.
“Esta sai ao pai” dizia ele com orgulho, já esquecida a desilusão do ano anterior. 
Um mês depois, regressam os bacalhoeiros e recomeça a labuta de cerca de 400 pessoas. É a altura em que regressam os que partiram para a aldeia, e é a festa do reencontro.
E a mulher do Manuel, descobre que vai ser de novo mãe.
Renovam-se-lhe as esperanças do filho homem que tanto anseia.