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26.8.20

CILADAS DA VIDA - PARTE XXIV



-Enquanto ela tentava convencer-me, de que teria que lhe dizer o assunto que ali me levava, avancei para a porta e abri-a sem lhe dar tempo para sair do seu lugar e me impedir.
-Oh! Foi muito arriscado!
- Eu sei. Ela pediu desculpas ao chefe e perguntou se chamava os seguranças para me porem na rua, mas felizmente ele resolveu que me dava uns minutos de atenção.
- Meu Deus, mulher!  E não tiveste medo? E como é ele? Pareceu-te uma pessoa compreensiva? O Gustavo diz que é um homem duro.
-Eu sei, também mo disse. Confesso que quando me sentei na sua frente, de súbito recordei a conversa com o teu marido e temi ter-me precipitado, não sabia bem como dizer-lhe ao que ia. Porém quando ele me disse que estava à espera, como quem diz que não tem tempo a perder, respondi-lhe que eu também estava à espera e ia esperar por nove meses, se tudo corresse bem.
Inês olho-a espantada. Abriu a boca e tornou a fechá-la, sem se atrever a interrompê-la.
 -Claro que ele ficou surpreso, quis saber quem eu era e aí contei tudo. E sabes que mais? Não me pareceu o bicho papão que me pintaram no Centro Clínico. É um homem duro, sim. Provavelmente por tudo o que lutou para chegar onde chegou. Mas também é um homem educado e compreensivo, que acedeu ao que lhe pedi.
- O quê vai desistir da criança?
-Por favor, Inês, não insultes a minha inteligência. Tu achas que eu lhe ia pedir semelhante coisa?
- Então?
- Pedi-lhe para acabar com as investigações, para deixar os tribunais fora do caso, falei-lhe da quantidade de abortos durante os três primeiros meses, e prometi-lhe que depois de passar essa fase, nos reuniríamos para discutir o futuro, tendo em conta o bem da criança.
-E ele?
- A princípio, pareceu renitente. Como se pensasse que eu aproveitaria estes três meses para fugir deixando-o de fora da vida do filho. Mas depois de mais de uma hora de conversa penso que ele confiou em mim. Sempre pensei ser mãe solteira, porque na verdade não acredito no amor, nem confio nos homens. Desde menina aprendi que o amor traz sofrimento, vi muitas vezes a minha avó chorar em silêncio a dor do abandono do meu avô. E que dizer da traição do homem que me gerou, com falsas promessas de amor, e sonhos de uma vida a dois, que nunca pensou concretizar? Talvez por isso nunca me tenha apaixonado, e no meu sonho de futuro, só entravam eu e o meu filho, ou filha, sem qualquer figura paterna à nossa volta. Acontece que a vida resolveu armar-me uma cilada, e meteu-nos aos dois na mesma armadilha. Para que consigamos sair dela sem muitas feridas, não pudemos lutar um contra o outro desperdiçando as nossas forças. Temos que nos unir e tentar sair dela com o mínimo de feridas possíveis. Foi isso que tentei fazer-lhe entender e creio que o consegui.
- Sempre te achei uma mulher de coragem, mas nunca como hoje tive tanta certeza disso – disse Inês.
- Bom, agora que já te contei o que se passou, deixo-te só para que tomes contacto com este gabinete, que vejas como estão organizadas as pastas, etc. A pastelaria tem uma página na Web, e uma conta de email, o endereço eletrónico está nesta agenda, e encomendas e faturas podem chegar pelo correio normal ou por email. Mas tudo o que chegue por email, independentemente da pasta eletrónica onde o arquives, tiras uma cópia em papel e arquivas na pasta correspondente. Pode parecer um pouco arcaico, mas é essencial, se houver uma falha de Internet, ou se por engano apagares o original. Com uma cópia em papel nunca ficas sem essa informação. Mas o teu pai virá para aqui logo que possa e ajuda-te. Bom trabalho.


11 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Um capítulo da vida que fecha para dar início a outro.
Abraço

Maria João Brito de Sousa disse...

Para uma e outra, aqui se inicia um novo ciclo.

Forte abraço, Elvira.

chica disse...

Ela teve coragem e as coisas passam a andar,vamos esperando! beijos, chica

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Teresa é uma mulher corajosa e com ideias claras e definidas.
Sabe o que quer e transmite essas ideias de forma bem transparente.
Beijinhos,
Ailime

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história.

Isabel Sá  
Brilhos da Moda

Isabel disse...

Minha querida Elvira
Ansiosa por mais um capitulo
No entanto cuide de si acima de tudo para poder cuidar das suas netas e de todos os que ama
Até sempre

Edum@nes disse...

O encontro correu bem. Pior não seja no futuro.

Continuação de boa semana amiga Elvira. Um abraço.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Elvira

posso nao ter deixado comentário nos post anteriores, mas ando a seguir o conto com muito interesse.

admiro-a imenso como consegue narrar as cenas com tanta mestria.

beijinhos e saúde

:)

teresa dias disse...

Realmente, coragem não falta à Teresa...
Excelente escrita, Elvira. Parabéns!
Bjs.

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

A sorte foi lançada!
Abraços!

João Santana Pinto disse...

Um texto de transição, muito bem escrito e penso que a seguir já estamos preparados para o grande desenvolvimento