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20.8.19

LONGA TRAVESSIA - PARTE XXVIII


- Em Londres, para cortar todos os vínculos com o passado, pus de parte o Rui, e adotei o meu segundo nome como principal. Com formação em economia, inglês e alemão,  pouco tempo depois, estava empregado numa multinacional, e muito bem remunerado. Continuei a estudar os movimentos das empresas e a investir na bolsa. Ganhei muito dinheiro. Em menos de dois anos mais que tripliquei o meu pecúlio. Era já uma fortuna considerável. Então comprei a primeira empresa. Uma pequena firma de indústria transformadora, em vias de falência. Recuperei-a e fiz dela uma empresa de sucesso. Depois dessa vieram outras. Todas prosperaram e são hoje uma fonte de riqueza. Penso que se fiz alguma coisa de jeito na vida, foram essas reestruturações e revitalizações de empresas. Estavam para fechar, iam despedir todo o pessoal. E graças a mim salvaram-se, e ninguém perdeu os seus empregos. 
Fez uma pausa. Era visível que aquelas recordações lhe provocavam grande sofrimento. 
- Dizem que dinheiro atrai dinheiro, e talvez por isso eu fui capitalizando cada dia mais. Pena que a minha mãe, não tenha vivido o suficiente para usufruir dele. No fundo ela foi a grande vítima. Primeiro do meu pai, e depois do seu amor por mim. Um amor que a levou a assumir uma culpa que não era sua, e lhe deu cabo da saúde e da vida. Por minha culpa.
A voz extinguiu-se-lhe num soluço.
-Não foi culpa tua, Rui, não foi - sussurrou Teresa apertando-lhe a mão.
Após um curto silêncio, ele continuou:
- É tudo Tê. Falta só dizer-te que é bem verdade que o dinheiro não dá felicidade.Sinto-me vazio. A solidão nunca foi uma companheira amorosa. Amarga os meus dias, e aterroriza hoje as minhas noites, quase tanto, quanto o meu pai o fazia outrora. Os dois anos mais felizes da minha vida, foram os que partilhamos. Nunca, nem antes nem depois de ti, uma mulher me fez sentir, tão completo como tu. E ontem, o meu coração quase explodiu de felicidade, quando descobri que me deste um filho. Mas não podia apresentar-me a ele, sem primeiro despir a alma, das negras recordações que carrego. Queria e precisava, ir para ele de espírito limpo. Consegues entender-me? – Perguntou fitando-a com ansiedade.
Ela continuava sem palavras.  Esmagada pelo sofrimento que via nos olhos dele. E ao mesmo tempo maravilhada, pela sinceridade masculina. Limitou-se a um aceno de cabeça.
- Casa comigo, Tê! E se esta ânsia de estar contigo, o resto da minha vida, se este desejo de vos proteger, e fazer felizes não é amor, ensina-me a amar-vos.
Ela tinha-lhe dito que tinha de ganhar a sua confiança.  Mas o que ele acabara de fazer, era a maior de todas as provas de amor. Finalmente, o homem deixara de ser o desconhecido, a quem tudo dera, sem nada receber em troca. Abrira-lhe as portas da sua alma. Mostrara-lhe quão vulnerável e sofrido era. E com isso matara todo o ressentimento, que ela experimentara.  Sentiu que o destino lhes estava a dar uma segunda oportunidade de serem felizes. 
Com os olhos rasos de água, e o coração exultante de alegria, fitou o rosto ansioso dele, e sem deixar de o olhar, segurou-lhe o rosto entre as mãos e beijou-o.
Maravilhado, ele retribuiu ao mesmo tempo que a abraçava.
Com a emoção à flor da pele, beijaram-se intensa e apaixonadamente. Era o reencontro de duas almas, livres de todos os obstáculos que outrora as mantiveram separadas, querendo apagar todo um passado de sofrimento. Mas quando a boca masculina roçou o pescoço feminino, a a mão dele acariciou o tecido sobre o seu seio, o corpo ansiando por algo mais, ela afastou-o suavemente dizendo:
-Hoje não, Rui. Vem. Vamos buscar o nosso filho.


12 comentários:

noname disse...

Está bem, perdoar é divino, dizem....

Boa noite, Elvira

Pedro Coimbra disse...

Agora que as nuvens passaram é tempo de desfrutar do sol.
Abraço

Os olhares da Gracinha! disse...

Já pus a leitura em dia!
Belos momentos aqui partilhados!!! Bj

Ailime disse...

Bom dia Elvira,
Muito belo este episódio.
Agora só lhes resta ser felizes acompanhados do filho de ambos.
Um beijinho e um ótimo dia.
Ailime

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Se a minha companheira fosse viva hoje celebrávamos 42 anos de casados .
Jamais esquecerei este dia e este episodio trouxe-me boas recordações.

JAFR

Maria João Brito de Sousa disse...

Posta a leitura em dia, deixo-lhe um forte abraço, Elvira.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Derivado a estar de férias não tenho acompanhado esta história mas gostei deste capitulo e aproveito para desejar uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Cidália Ferreira disse...

Emocionantemente belo! Amei

Beijos e um excelente dia

chica disse...

Muito lindo!! Mais uma bela leitura ! bjs,tudo de bom,chica

Larissa Santos disse...

Nada como abrir as portas à alma e deixar falar o coração. :))

Hoje:- Entregas-me uma rosa num ávido beijo. {Poetizando e Encantando}

Bjos
Votos de uma óptima Terça - Feira

Teresa Isabel Silva disse...

Passei para atualizar a leitura! Estou a gostar de acompanhar apesar de ainda não estar totalmente "dentro da história"

Bjxxx
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Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Belíssimo capítulo, mostrando a força do amor que conduz ao perdão e renova vidas destruídas pelas ironias do destino.
Beijos!