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22.11.18

UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE VII





 Dirigiu-se ao sofá. Pegou na camisa anteriormente atirada para ali, sacudiu-a e pendurou-a no bengaleiro, Despiu as calças e fez o mesmo. Depois, encaminhou-se para a casa de banho.
Enquanto escovava os dentes lançou uma mirada rápida ao espelho. Tinha trinta e um anos e sentia-se velho. Nada na vida lhe interessava, a não ser a pintura. Ela era de momento o único sentido que encontrava para a sua existência. Desde que descobrira, a força do amor que trazia dentro do peito, sentia-se o maior dos canalhas.
Como é que aquilo tinha acontecido com ele? Desde menino sempre fora muito responsável. Inteligente e com muito gosto pelas artes. Por isso, na hora de escolher o seu futuro, escolhera Belas-Artes. Depois do curso acabado viera para Paris. Inicialmente, não pensava ficar mais de seis meses. Mas aí os seus irmãos João e Marta casaram. Os dois eram muito unidos. Quando eram crianças, estavam sempre juntos nas brincadeiras. Engraçado que começaram a namorar quase ao mesmo tempo e na hora de casar, tinham decidido fazer a cerimonia, juntos. 
Tudo aconteceu na festa desse duplo casamento, há cinco anos atrás. Ela estava linda. E apresentara-lhe o namorado. Depois, graciosamente abraçara-o e perguntara se não queria dançar com ela. Antes tivesse dito que não. Mas nessa altura, ele ainda não tinha descoberto que a amava. Descobriu-o com a reação do seu corpo enquanto ela confiante se deixava levar por ele, embalada pela música. 
Com a dor que sentiu no peito, quando pensou que nunca seria sua.
Depois daquela descoberta, procurou afastar-se dela. E nessa mesma noite decidiu que ia ficar a viver em Paris. Teve que lutar contra os argumentos do pai, e a ternura da mãe. No dia da partida, quando se despediam, e ele se dispunha a depositar no seu rosto um casto beijo de despedida, a mãe disse qualquer coisa, e ao tentar virar-se o beijo que ele  lhe ia depositar no rosto, aflorou a sua boca. Foi qualquer coisa tão leve como um suspiro, e tão suave como o roçar de uma pena. Ela mal o deve ter sentido, e não lhe ligou qualquer importância, mas ele carregava aquela memória, como um estigma.
Estendeu-se no sofá. Queria dormir. Esquecer tudo o que o atormentava. Mas a memória não lhe obedecia.
Tinham passado cinco anos e desde então, não voltara a casa. Agora tinha de ir. Os seus pais faziam vinte e cinco anos de casados. Eram as suas bodas de prata. Ele não podia faltar. Se o fizesse, eles sentir-se-iam rejeitados. A mãe, ficaria muito magoada. E Afonso, também não merecia. Ele fora para ele o mais amoroso, compreensivo e amigo, dos pais. Nunca em qualquer momento da sua vida, sentiu que ele não era o seu pai biológico. Com o seu irmão João fora igual. Era um homem admirável que sempre se preocupou não só com a felicidade da esposa, como com a dos seus filhos. Por tudo isso ele sabia que tinha de ir. Mas não sabia se teria forças para continuar a amordaçar o coração. Extenuado acabou por adormecer.

reedição


A maioria percebeu que se tratava de Simão.  Parabéns







13 comentários:

Cidália Ferreira disse...

Será que essa paixão é a Ana, irmã por afinidade? Hummmm quanto sofrimento!

Cada vez gosto mais!

Beijinhos-Boa noite!

Janita disse...

Claro que é o Simão! :)

A felicidade fica sempre ao fim do túnel, quando aparece a luz...

Um abraço, Elvira!

noname disse...

É mesmo, Ana. A dona do seu coração.

Boa noite, Elvira

Pedro Coimbra disse...

Não vou dar palpite porque seria batota.
Ainda lembro a edição não vou estragar a reedição.
Abraço, bfds

Maria João Brito de Sousa disse...

Bom dia, Elvira.

Passando para actualizar a leitura, deixo o meu abraço.

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Quem sabe guarda , quem não sabe desconfia.
Expectativa é que não falta !!
JAFR

Os olhares da Gracinha! disse...

E o mistério adensa_se!!!
Bom fim de semana amiga!

chica disse...

Ele sofre, mas há de encarar a festa...Deve ir! beijos, lindo dia! chica

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história!


Isabel Sá
Brilhos da Moda

Olinda Melo disse...


Olá, Elvira

Preferindo ler e indo ao encontro do protagonista que me parece ter muitos problemas de amor pela frente...A ver vamos.

Bj

Olinda

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Está a ficar bastante interessante.
Um abraço e bom fim-de-semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Edum@nes disse...

Bom filho a casa torna. O que mais na sua vida, daqui adiante irá acontecer?

Tenha um bom dia amiga Elvira.
Um abraço.

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Acompanhando com pressa para chegar logo ao final rsrsrsrs
Beijos!