- Não podes impedir-me. É a minha vida, sou eu quem decido.
A calma da jovem contrastava com a irritação do rosto masculino. Levantou-se, tentando sair do escritório. Irritado Afonso esticou o braço e segurou-a.
- Senta-te! – Ordenou com aspereza. Ainda não acabei.
Contrariada, a jovem deixou-se cair na cadeira. Loira, de olhos claros, quase do tom do mel. Nariz pequeno, boca bem desenhada.
Alta, o corpo bem proporcionado. Era muito bonita.
- Ana é a terceira vez que terminas um noivado. A primeira vez, relevei, não me agradava nada aquele namoro, não queria sequer pensar na hipótese de algo sério. Tinhas apenas dezoito anos, eras demasiado jovem, tinha medo que sofresses. Na verdade devo confessar que senti um certo alívio quando terminaste com aquele disparate. Depois tinhas vinte e três anos quando terminaste o segundo. Já eras adulta, tinhas terminado o curso, estagiavas no meu escritório.
Fez uma pausa e olhou para a jovem. Esta cruzou as suas longas pernas, encobertas com umas justas calças pretas e mostrou um gesto de enfado.
-Lembro-me bem. Passaste-me um sermão, fizeste-me sentir tão culpada que chorei, - a sua voz bem modulada, saía calma e determinada.
- E tu prometeste que não voltaria a acontecer. Há dois meses estavas entusiasmada com o Paulo, e disseste-nos que ias anunciar o noivado na data das nossas bodas de prata. Faltam poucos dias para a festa e vens dizer-me que acabaste tudo? Que já não vai haver noivado nem casamento? A tua mãe já sabe?
- Vou falar com ela, assim que me libertes – respondeu a jovem. E acrescentou.
- Olha, vê as coisas por este prisma. Preferias que me casasse e dois ou três meses depois entrasse com um pedido de divórcio?
- É claro que não. Quero a tua felicidade
- Então? – Perguntou encarando-o
-Quantos anos tens, Ana?
- Que pergunta, pai. Sabes que fiz vinte e seis em Maio.
-Sei. Queria saber se tens noção da tua idade. Repara nos teus irmãos. Estão casados, têm filhos, a sua própria família. Até a Matilde, que é a mais nova já está de casamento marcado.
- O Simão está solteiro e não te preocupas…
- É diferente.
- Diferente? Diferente porquê? Porque ele é homem? Agora fazes descriminação? Não te conhecia essa faceta. – Disse irritada
- Cala-te. Fazes-me perder a paciência. Sabes que não é assim. Mas tens que admitir que a natureza foi mais pródiga para o homem do que para a mulher, em determinados aspetos. Um homem pode casar-se muito tarde e ainda assim constituir família, ter filhos. A mulher não o poderá fazer.
A jovem levantou-se.
-Desculpa. Penso que me excedi. Mas irrita-me, que sempre que saio com alguém, comeces logo a falar em casamento.
- Mas… foste tu que dissestes que ias anunciar a data do casamento na festa. Palavra que não te entendo,
- Não te preocupes. Às vezes nem eu própria me entendo.
E dizendo isto a jovem levou a ponta dos dedos à boca, atirou um beijo ao pai, e saiu fechando a porta atrás de si…
reedição
16 comentários:
Creio que esta também conheço, mas vou seguir de perto e acompanhar o desenrolar dos acontecimentos.
Afinal, o que é a vida senão a repetição de acontecimentos passados?
Venham eles!
Um abraço, Elvira.
Um pai preocupado com a sua filha na idade casamenteira. Marcando e desmarcando noivados. A moça é maior a vacinada. Tem idade para ter juizo. Por isso saberá o que é melhor para si mesma?
Tenha uma boa noite amiga Elvira.
Um abraço.
Que bom que a continuação chegou rápido.
Abraços,
Furtado
Então a Ana é das "rebeldes!" Adorei :))
Bjos
Votos duma óptima Noite
Vim pra colocar em dia o Estranho Contrato e vejo que tem novidades. já li o primeiro capítulo e até ri pensando na minha filha mais nova, que fez 31 anos dia 05 de novembro e já desfez três noivados. Digo que ela coleciona alianças rs rs!
Sugeri a ela congelar os óvulos porque do jeito que as coisas vão quando ela decidir casar e ter filhos já poderá ser difícil engravidar.
Um abraço. Agora vou lá saber sobre Afonso e Francisca.
Bem, começamos com o desentendimento entre Pai e Filha! O Simão, solteiro? Tem água no bico!
Beijos- Boa noite
Quando tenho tempo, venho a procura das suas histórias mais antigas, daquelas que não acompanhei, porque à altura não era sua seguidora, e esta já li, por acaso, só por acaso eheheheh
Boa noite, Elvira
E cá está a nova história - para mim é nova... - a começar a desenrolar-se :)
Abraço, Elvira.
Ainda recordo alguns pormenores.
E até recordo ter comentado quando li que me fez recordar Runaway Bride :))
Abraço
Bom dia
Uma nova geração , já com outras formas de pensar e agir !!
JAFR
Um co0meço bem animado,rs... Filha e pai... Vamos ver..Não estou lembrada se acompanhei essa! beijos, chica
Continuo a acompanhar com interesse.
Um abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Também já conheço esta mas é sempre delicioso relembrar.
Abraço Elvira
Amei o início dessa história, continuidade da anterior. Um diálogo bem interessante entre pai filha e o respeito que, mesmo, com incompatibilidades de opiniões, predominou entre os dois.
Beijos!
Já tem idade para se comportar de outro jeito ... digo eu!!!
bj
Oi Elvira,
Quando jovem era muito bonita r ia me casar com um tenente do Rio de Janeiro, soube de uma "escorregada dele" e me separei.
Não tinha amor por ele era muito culto bem diferente de mim nas atitudes: dezesseis anos, gostava de brincar, falar besteira e era só isso.
Resolvi ir embora, casei com um meio primo e fui morar em para Santo André a cidade do "lula" kkk.
Sempre fui atirada não larguei dele porque logo ficou doente ficou e, quando morreu já com meu filho(adotivo: um gênio) em tudo, voltei para o interior, cuidei dos meus velhos até a morte.
Meu filho levou uma decepção amorosa e só "sai". É lindo e bem ovacionado pelas mulheres.
Bem, a vida é dele, eu casei duas vezes, apesar das dores, sou feliz.
Dormi 5 horas, pode?
Beijos
Lua Singular
Enviar um comentário