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15.11.18

ESTRANHO CONTRATO - PARTE XXV



Deixou-se cair na cadeira, passando a mão pela testa. A conversa com a irmã, deixara-o nervoso. É claro que ele já tinha reparado na mulher. Nem podia ser de outra maneira se viviam na mesma casa há tantos meses. Para ser sincero, reparara bem demais, para a sua estabilidade emocional.
Pegou no telefone interno.
- Dona Luísa, a partir deste momento não estou para ninguém. E não me passe chamadas. Entendido?
Desligou. Pegou na moldura. Olhou-a relembrando o dia em que a tirou. Tinha chegado a casa e encontrara Francisca na sala a brincar com as crianças. A cena parecera-lhe tão naturalmente íntima, que sem eles perceberem registou o momento no telemóvel.
Depois imprimira-a e colocara-a ali. A fotografia de Olga repousava no fundo de uma gaveta da secretária. O facto da
 irmã, ser amiga de Francisca, e encontrá-la numa época em que ele estava desesperado, foi uma dádiva do destino, talvez arrependido de ter deixado, duas crianças de tão tenra idade sem mãe.
Era admirável, o modo como ela cuidava da casa, como cuidava das crianças. E era tão bonita, que aos poucos a imagem de Olga se foi desvanecendo na sua mente enquanto Francisca se ia instalando no seu coração.
Há já algum tempo que se dera conta disso. Cada dia lhe era mais difícil, ter uma atitude natural junto dela, quando o que realmente desejava era apertá-la nos braços e amá-la até a fazer desfalecer de paixão.
Abriu a gaveta e tirou a cópia do contrato assinado antes do casamento.
A quinta cláusula, dizia expressamente, que nenhum dos contratantes podia molestar o outro com qualquer atitude de cariz amoroso ou sexual, sob pena de o molestado ter direito a rescindir o contrato e a seguir a sua vida liberto de todas as obrigações com o outro.
Que raio de coisa havia ele de ter inventado? Mergulhado na dor da perda da mulher, convencera-se que nunca a esqueceria. Que a sua capacidade de amar morrera com ela.
E, desesperado para resolver a situação, em que se encontrava, temendo que os sogros conseguissem levar-lhe as filhas, parecera-lhe que aquela cláusula, era um incentivo para que Francisca se sentisse mais segura para aceitar o contrato que ele lhe propunha. 
Como pudera ser tão estúpido? E agora? Agora estava manietado de pés e mãos. Não podia sequer imaginar que Francisca pudesse abandonar a casa, se ele se atrevesse a expressar o que lhe ia na alma. O que ia ser da sua vida? E das filhas? Como podiam viver sem ela? 
Voltou a guardar o malfadado contrato na gaveta, fechando-a à chave.

reedição





16 comentários:

chica disse...

Um arrependimento que pode ser resolvido se uma decisão for tomada e der chance ao amor...Lindo! bjs, chica

Roselia Bezerra disse...

Bom dia, querida amiga Elvira!
Não queria estar na pele deles de jeito nenhum. Que situação complicada!
Tenha dias felizes e abençoados!
Bjm fraterno e carinhoso de paz e bem

noname disse...

Enredado na própria rede, acontece...

Bom dia, Elvira

Edum@nes disse...

Afonso esqueça mas é a quinta cláusula. Porque Francisca estará mortinha que ele se atire a ela?

Tenha um bom dia amiga Elvira.
Um abraço.

António Querido disse...

Este contrato já está fora da validade, só é válido por cinco anos, pode e deve ser rasgado!

O meu abraço.

Marina Filgueira disse...

¡Hola Elvira!

Que buen relato, amiga: eres terriblemente fantástica con tu pluma.
No imagino un contrato de esas características, pobre hombre en que lió se ve metido.
Ha sido un placer pasar a leerte, gracias por hacerlo tan bonito.

Te dejo mi inmensa gratitud por tu huella. Un abrazo largo junto a mi estima.

Se muy, muy feliz.

Cidália Ferreira disse...

Óh meu Deus, maldito contracto!! Nada que uma boa conversa entre ambos não resolva! Digo eu!

Beijos e um excelente dia!

Jaime Portela disse...

O enredo está interessante.
E a narrativa, como sempre, muito boa.
Elvira, continuação de boa semana.
Beijo.

Olinda Melo disse...


Sim, e agora? A vida é feita de surpresas, de imprevistos.
Lá diz o ditado, nunca digas que desta água não beberei.

Bj

Olinda

Maria João Brito de Sousa disse...

Desta vez li dois capítulos de uma assentada, Elvira.

Passei por cá, por volta das 06.00h, mas não tive tempo para ler. Foi dia de ir ao hospital e eu levo um tempo infindo nas minhas abluções matinais.


Entretanto, quer-me parecer que este estranho contrato está em vias de ser quebrado :)

Abraço

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
A vida tem destas coisas, mas nada que o amor não resolva;))!!
Lindo e emocionante de se ler.
Beijinhos,
Ailime

Rosemildo Sales Furtado disse...

Acho que ambos poderão, de comum acordo, fazerem um adendo ao contrato, retirando a cláusula que proíbe o relacionamento amoroso. Continuo gostando e aguardando os acontecimentos.

Abraços e muita saúde e paz para ti e para os teus.

Furtado

Teresa Isabel Silva disse...

Este enredo está cada vez mais denso!

Bjxxx
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jorjorbeth disse...

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Sandra May disse...

Seia impossível não ter reparado nela e até a desejado, afinal,por mais que tenha amado a esposa falecida ele está vivo, é jovem, com certeza "vai rolar" como dizemos aqui no Brasil (risos).
Beijos, Elvira!

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Ah romances como esse me arranca suspiros, ambos apaixonados, se desejando e sem coragem de se declarem, cada um com seus medos.
Beijos!