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6.11.18

ESTRANHO CONTRATO - PARTE IX



Depois do almoço, e de ajudar a mãe a arrumar a cozinha, Francisca foi deitar os filhos para dormirem a sesta. As crianças não tardaram a adormecer. Ela sabia que o pai sempre ficava a cochilar àquela hora e a mãe não perdia a novela. Assim deixou-se ficar no quarto pensando. Mas por mais que tentasse pensar noutras coisas, o pensamento sempre ia parar na proposta da amiga. Era uma maluquice. Mas e se desse resultado? Não conhecia Afonso. Como seria ele? Era mais velho que a irmã. Mas seriam muitos anos? Não se lembrava de ter ouvido a idade. Mas também que importava isso. Ela não pensava aceitar. Ou aceitaria? Que estupidez, aquilo eram coisas da Graça, o irmão ia lá querer casar com alguém só por causa das filhas. Metia-as num bom colégio interno e pronto. Ficava tudo resolvido. Mas a amiga dissera que o irmão queria alguém que lhe cuidasse das filhas como se fosse a mãe. Bom para ela, isso não era entrave. Adorava crianças. E então meninas. Quando estava grávida sonhava tanta vez com meninas, vestidos e lacinhos. Mas o destino brindara-a com dois meninos.
Cansada acabou por adormecer. Acordou sobressaltada com a mãozinha de Simão acariciando-lhe a cara. Soergueu-se e olhou para o filho mais novo. Dormia profundamente. Pôs um dedo sobre os lábios indicando ao filho que não fizesse barulho, para não acordar o irmão, sentou-o na cama e calçou-lhe os ténis. Verificou que um estava roto. Estremeceu. Mais uma despesa! Devagarinho, saíram do quarto fechando a porta com todo o cuidado para não acordar João.
- Mãe, tenho sede, -disse o menino mal saíram do quarto.
Dirigiram-se à cozinha. Francisca encheu um copo de água e estendeu ao filho. A criança bebeu um pouco, e perguntou de súbito:
- Quando é que o pai volta?
- Não sei.
- Não vai voltar nunca mais, pois não, mãe?
Francisca sentiu um aperto no peito. Abraçou o filho:
- Porque dizes isso?
O filho respondeu com outra pergunta:
- É verdade que o pai morreu?
- Quem te disse isso?
- Ouvi uma conversa da avó com a vizinha. Não chores. Eu não choro, vês?
- És um menino muito corajoso, Simão. É verdade, filho. O teu pai agora é uma estrelinha no céu. Mas não contes ao teu irmão. Ele é muito pequenino, vai sofrer muito e não queremos isso pois não?
- Claro, mãe. É um segredo só nosso. E não quero que chores, - disse abraçando a mãe com toda a força dos seus quase cinco  anos.


reedição



14 comentários:

Pedro Coimbra disse...

E quando uma criança tem este comportamento connosco é impossível resistir.
Abraço

Maria João Brito de Sousa disse...

Passo de fugida, para acompanhar a história e deixar o meu abraço.

Tenho novos exames laboratoriais e terei de sair dentro de muito pouco tempo.

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Vai começar a emoção em cada capitulo que lemos .
JAFR

chica disse...

Essa cumplicidade é linda! Gostando de reler! bjs, chica

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história.

Isabel Sá
Brilhos da Moda

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Cumplicidade muito bonita.
Um abraço e continuação de boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

noname disse...

Criança é um mundo à parte. Pensamos sempre que não dão por nada, mas eles são todo ouvidos e curiosidade.

Bom dia, Elvira

Larissa Santos disse...

As crianças conforme sentem a falta também entendem com facilidade(salvo raras excepções). Adorei :))


Hoje:- Se soubesses, como brilha o sol em mim.

Bjos
Votos de um óptima Quarta - Feira

Meu Velho Baú disse...

Já percebi que temos mais um Romance ...
Vou pôr a leitura em dia
Beijinhos

Edum@nes disse...

Os dias vão passando e, não voltam mais. Enquanto na proposta de sua amiga Graça. Francisca continua pensando!

Tenha uma boa tarde amiga Elvira.
Um abraço.

Cidália Ferreira disse...

Mais um maravilhoso capitulo...Amei!!

O livro da nossa estória
Beijos e um excelente fim de tarde!

Quase Cinderela disse...

Até derrete o coração ao ler.
Dói por dentro como se estivesse a ver a história a acontecer à minha frente, a criança tão corajosa pela mãe.
Obrigada por partilhar mais um capítulo.
Ansiosa por mais
Beijinho

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Que capítulo cheio de ternura! A atitude da criança diante da morte do pai, o carinho com a mãe expressa uma maturidade e sabedoria de um coração puro, amei!
Beijos!

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Pondo em dia, com todo o prazer, a leitura de mais um capítulo desta história que cativa pelas emoções sempre presentes.
A sua escrita parece tão real!
Beijinhos,
Ailime