Por essa altura, Clara tinha uma única certeza na sua vida. Estava irremediavelmente apaixonada pelo homem com quem celebrara um contrato de trabalho que incluía um casamento para sociedade ver. Não sabia quando isso acontecera nem esperara que tal viesse a acontecer, e Deus era testemunha que se tal ideia lhe atravessasse a mente, decerto agora não estaria ali. Mas o certo, é que acontecera, e agora o futuro apresentava-se-lhe pintado de sombrias cores. Porque uma coisa era estar ali cumprindo o contrato como uma empregada.
Outra coisa muito diferente, seria fazê-lo dia após
dia, com o coração cheio de amor por alguém que não lhe correspondia.
Embora as mensagens de Ricardo chegassem quase
diariamente, elas não acalmavam o seu coração, nem lhe davam qualquer esperança
de que ele pensasse nela de outra maneira que não, a ama que lhe cuidava dos
filhos.
Aquela última semana antes de Natal foi muito intensa.
Alfredo trouxe para casa um vaso com um pequeno pinheiro, que Clara e Tiago
enfeitaram com a ajuda das crianças.
Natal era festa de família. Uma vez que Ricardo não
estava presente, Clara decidiu que a Ceia de Natal seria partilhada com os
empregados. Afinal Antónia tinha um verdadeiro amor por todos os habitantes da
casa. E dado que Adelaide, ficaria sozinha com os dois filhos, disse-lhe que os
trouxesse e jantariam todos juntos. Natal é festa de Amor e partilha.
Depois os dois irmãos foram ao Centro comercial e compraram
as prendas para todos. Uma bola de futebol e um estojo completo de pintura,
presentes que os filhos de Adelaide tinham pedido na carta ao Pai Natal. Um pequeno
órgão para a Soraia, uma bicicleta para o irmão, também pedido por eles ao Pai
Natal. Também comprou um traje completo para cada um. As crianças gostam de vestir roupa nova nos dias festivos.
Tiago escolheu
os seus próprios presentes. Um novo portátil, já que o seu estava avariado e um
blusão. Para ela não comprou nada. Na verdade não tinha vontade de nada, e a
noção que tinha da festa de Natal, era a partilha de Amor, não de presentes.
Esses eram para as crianças. Depois passaram numa loja de disfarces e compraram
um fato de Pai Natal
Todos os presentes acomodados no carro, regressaram a
casa. Não os levaram para casa. Clara tinha combinado com Alfredo, que depois
do jantar ele arranjaria alguma desculpa para se retirar, vestiria o fato e
entregaria os presentes.
A meio da tarde Ricardo esteve com os filhos numa video-chamada.
Clara que o observava, achou-o mais magro. Também era
visível o esforço que fazia para se mostrar feliz com os filhos. “Deve estar
cheio de saudades” pensou. Depois que ele se despediu dos filhos ela pediu se
ele podia ficar mais um pouco. Pediu às crianças que fossem brincar com os
filhos de Adelaide e fechou a porta quando saíram. Voltou para o computador e disse:
-Não me parece
que estejas muito bem. Estás doente?
-Não. Apenas cansado e cheio de saudades. Daria
qualquer coisa para estar aí.
- Calculo. Suponho que aí não festejem o Natal.
-Eu e os meus homens, vamos fazer uma ceia especial
daqui a pouco.
A religião aqui é quase cem por cento muçulmana. Não há
igrejas católicas no país. Há apenas uma capela na embaixada italiana em Cabul.
-Olha, vou filmar a hora em que eles vão receber os
presentes e mando-te por correio eletrónico, ainda hoje.
- Agradeço-te. Só verei amanhã, porque depois das dez
não temos acesso aos computadores.
-Cuida-te Ricardo. Nós precisamos de ti.
- Nós? Tu também?
- Não costumo dizer o que não sinto – ela tinha a
noção de que devia estar mais vermelha do que a camisola que trazia vestida. –
Adeus.
- Adeus Clara.
18 comentários:
Em meio à conversa, ela deixou, sem perceber, um sinal pra ele... Tomara ele se dê bem conta disso! Estou adorando! beijos, chica
E vamos no carrossel da vida destes dois :-)
Boa noite, Elvira
Amei sua escrita,querida!
Vc desenrola muito bem o texto!
Bravo pela prosa!
Mande-me sempre textos seus...
bjos
htt://www.elianedelacerda.com
Gosto deste amor subentendido, desta troca de palavras que escondem e mostram, simultâneamente, o afecto que os vai envolvendo e se fortalece na saudade.
Coisa linda esta do enamoramento...
Um abraço e uma boa noite, Elvira.
A coisa está a aquecer.
Algo me diz que quando ele voltar se vai esclarecer tudo e eles vão ser uma família a sério.
Bjs.
Boa noite Elvira,
Continuando a seguir com muito interesse.
O romance entre Clara e Ricardo, já se antevê.
Beijinhos,
Ailime
Boa noite querida amiga Elvira!
Muito lindo o momento onde ela se inclui no diálogo... o 'nós' deu uma vida a esta parte, extrordinariamente. Lindo demais!
Deus a abençoe muito!
Bjm fratern e carinhoso de paz e bem
O destino aproximou_se...o que vai ser excelente para todos!!! Bj
E agora o coração dele está derretido.
Abraço
Bom dia
Depois de um capitulo em que tudo é posto ao mais pequeno pormenor , fica no ar algo que todos nós esperamos , ou seja .
O casamento vai deixar de ser um contrato , para ser um casamento de um grande amor !!
JAFR
Lá está o Cupido a fazer das dele! Já acertou com a sua flecha no coração de um apaixonado. Ou terá sido nos dois?
Bom dia, Elvira :)
Cá estou, atenta ao desenrolar da história.
Abraço
a passar para acompanhar a história.
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Lindo. E ele deve ter o mesmo sentimento, mas o facto de não estar sozinho, deixa-o constrangido, tenho a certeza:))
Hoje, com: Sussurros da natureza em desamor
Bjos
Votos de uma óptima Terça - Feira
Está a ficar interessante.
Um abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Ricardo está no Afeganistão,
Clara por ele está apaixonada
devido à distância que os separa
as saudades cada dia que passa
estão-lhe corroendo o coração!
Tenha um bom dia amiga Elvira.
Um abraço.
Aos poucos, um forte amor acontecendo, criando raízes e asas para tempos muito felizes...
Abraços
A chama ja´está acesa :)
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