No início era uma grande angústia, uma opressão no peito, uma enorme vontade de chorar. Agora já não era tão intensa, tão opressiva, mas continuava a ser qualquer coisa que a entristecia. O psiquiatra, aventara a hipótese de que podia ser essa a relação causa-efeito da sua amnésia. Mas não passava de uma hipótese, ela não conseguia lembrar-se de nada, a sua cabeça, continuava a ser para o passado uma folha em branco.
Sentiu os passos de Miguel no quarto ao lado. Pensou que talvez fosse sair, mas depois de algum tempo, teve a certeza que nessa noite não o faria.
-Ainda bem, - murmurou ajeitando a almofada e preparando-se para dormir.
No quarto ao lado, Miguel acabara de se deitar. Pegou num livro que repousava na mesa-de-cabeceira e tentou embrenhar-se na leitura. Cedo percebeu que não o conseguia. Poisou-o no mesmo sítio e apagou a luz. Lá fora chovia intensamente. Percebia-se pelo som nas persianas, que ecoava na casa em silêncio. Mariana decerto já dormia. Lembrou da sua alegria essa tarde, enquanto faziam as compras. Era como uma criança. Uma criança num corpo de mulher. Sim porque ele tinha de reconhecer que a jovem era uma bela mulher. Nem lhe tinha passado despercebido o modo como a olhavam, os homens que por eles passavam.
Tinham passado três meses desde aquele fatídico dia na falésia.
O dia em que ela chegara à sua vida, alterando rotinas, e sentimentos.
A sua vida era tão diferente antes disso.
Não se arrependia. Não. Voltaria a fazer o mesmo. Mas a verdade, é que desde esse dia, vivia uma preocupação constante, Que seria da jovem se nunca mais recuperasse a memória?
“Isso não vai acontecer, não sejas parvo” recriminou-se em seguida. “O médico disse que é temporária. É sempre temporária quando não há lesão ou doença cerebral. E ela não tinha, nenhum mal físico, a RM estava limpa.
Um dia lembra de tudo, e adeus Mariana. Talvez até nem se lembre de todo este tempo, quando recordar o que ficou para trás.
A casa vai ficar vazia sem a sua presença, - pensou
E embalado pelo som da chuva acabou por adormecer.
Miguel, nunca saberia o que o acordou. Se o enorme trovão que ribombava sobre a sua cabeça, se o grito de terror que lhe chegou do quarto ao lado. Saltou da cama, passou as mãos pelo cabelo e dirigiu-se para lá.
Bateu uma, duas vezes, mas de dentro só lhe chegava o choro aflitivo da jovem.
O quarto estava às escuras Acendeu a luz e viu a jovem. Estava sentada na cama, os braços abraçando as pernas dobradas, a cabeça escondida nos joelhos, o corpo sacudido pelos soluços. Sentou-se a seu lado, e perguntou acariciando-lhe os cabelos, como quem acalma uma criança.
-O que foi? Tens medo da trovoada?
.-Ó Miguel, eu matei o meu pai! - Murmurou entre soluços abraçando-se ao seu pescoço.
12 comentários:
Instigante e intrigante capítulo! Gostando demais! Bjs e tudo de bom! Chica
Que maravilha de episódio .)
Boa noite, Elvira
Cheguei aqui depois dos capítulos anteriores que li e esse me deixou mais animada_ afinal eis que surge uma luz no túnel da memória.
Muiiito bom,Elvira
Tomara que dê tudo certo para os dois .
boa noite
Agora é que demos um salto no desconhecido.
Abraço
Bom dia
Bem ! este episodio põe-nos os nervos em franja !!
JAFR
Finalmente fez-se luz!
Pode ser de daqui para afrente se comece a recordar doutras coisas.
Abraço Elvira
Bem, começa a fazer-se luz. Seria pesadelo ou realidade?? Adorei o capitulo. Parabéns :))
Hoje; Melancolia anunciada.
Bjos
Votos de uma óptima Quarta-Feira
Bom dia Elvira,
Na escuridão da noite fez-se luz?
Pesadelo ou realidade como alguém já disse?
Muito, muito, cativante a história.
Beijinhos e um ótimo dia.
Ailime
Ai que horror. O que terá acontecido??
Continuo a acompanhar com interesse.
Um abraço e continuação de boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Feliz quarta-feira, Elvira. Beijinhos
Boa tarde!
Acho que este "pesadelo" começa a dar sinal de si.. A ver vamos! Estou curiosa!
Beijos e um excelente dia
Coisas de uma Vida
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