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22.8.18

FOLHA EM BRANCO - PARTE XXV






Faltavam cinco para as duas, quando chegaram à clínica. Miguel falou com a empregada, enquanto a jovem parecia distraída com a leitura do Juramento de Hipócrates, exposto num quadro na parede.
Como o médico já tinha chegado, não foi preciso esperar muito para serem atendidos.
Miguel contou ao médico a cena protagonizada pela jovem, que ele presenciara.
O médico ia tomando notas. Depois virando-se para a jovem perguntou:
-Além dos sintomas que o Miguel já relatou, sentiu mais alguma coisa?
-Uma grande pressão no peito, que não me deixava respirar, e um enorme medo de morrer.
-E lembra-se de alguma coisa antes disso, que pudesse de algum modo assustá-la?
Negou com um movimento de cabeça.
- E o Miguel, observou alguma coisa fora do normal no momento?
- Não. Só se…
-Diga, diga, tudo o que se lembre, ainda que lhe pareça irrelevante.
- O silvo estridente de uma ambulância que passava.
- Ouviu a ambulância? -Perguntou o médico à jovem
-Creio que sim. Não lembro com exactidão.
-Muito bem.
O médico não se cansava de fazer apontamentos.
- E a RM que eu pedi?
-Fiz ontem em Portimão, na Euromédic, mas só está pronta para a semana.
- Euromédic? Em Portimão? Óptimo. – Disse o médico premindo a campainha na secretária, o que fez aparecer a  assistente  à porta.
-Precisa alguma coisa, doutor?
- Sim, Teresa. Faça-me uma chamada para a Euromédic de Portimão. Pergunte se o Dr Gonçalo Prates está, e se estiver, diga que quero falar com ele e passe-me a chamada.
- Assim farei doutor. E retirou-se fechando a porta
- Enquanto esperamos, há mais alguma coisa que se lembrem?
- Sim doutor.- Respondeu Miguel. E de seguida relatou o incidente na papelaria, e como a partir daí começara a chamar a jovem de Mariana.
- É muito provável que esse seja realmente o seu nome, mas também pode ser de alguém que ela ame muito. A mãe, uma irmã…
O telefone tocou nesse momento. O médico escutou e depois pediu aos dois para saírem.
Uns quinze minutos mais tarde, voltou a chamá-los. Já tinha o exame no computador, já o tinha examinado e estava à vontade para dizer que a jovem não tinha nenhum tumor, ou qualquer outro distúrbio físico, que originasse a amnésia.
- Não havendo, doença degenerativa, encefalite, ou traumatismo, é evidente que a amnésia da paciente, é psicogénica temporária, decerto provocada por um choque emocional. Qualquer coisa que fez a paciente sofrer de tal ordem, que o seu subconsciente se revoltou, e  apagou tudo, numa manobra de defesa. Por outro lado, os sintomas que teve ontem, configuram um ataque de pânico, o que no seu caso parece ser consequência directa,  do trauma que lhe terá provocado a amnésia. Deve continuar a fazer a medicação que lhe receitei, mas mais importante que a medicação, é fazer psicoterapia.

11 comentários:

chica disse...

Um grande avanço saber dos bons resultados: nada de grave com ela. Porém ,tuuuuuudo e tanto a descobrir! beijos, chica

Roselia Bezerra disse...

Bom dia, querida queridaamiga Elvira!
Aqui se aprende também. Gosto muito da sua narração precisa de detalhes significativos.
Seja muito feliz e abençoada junto aosseus amados!
Bjm.Bjm fraterno de paz e bem

noname disse...

Vamos lá então, a caminho da descoberta :-)

Boa tarde, Elvira

Cidália Ferreira disse...

Pode ser que, lentamente, tudo volte ao normal! Mas duvido!

Beijos e um excelente dia.

António Querido disse...

Caminhando em frente a Mariana se vai lembrar ao virar a próxima esquina, se tropeçar num paralelo do passeio!

Voltarei para acompanhar.

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Realmente, não havendo nenhum problema físico, a psicologia de regressão (não sei se é assim que se diz) poderá ajudá-la...
Muito emocionante este conto.
Beijinhos,
Ailime

Anete disse...


Um capítulo esclarecedor... A psicoterapia fará muito bem no caso... Logo estará juntando “as peças” dos acontecimentos e o quadro da sua história será formado... Às vezes demora tanto! Mas, passo a passo uma nova fase chegará...
Boa noite, Elvira! Bj

lis disse...

Já ajuda um pouco o diagnóstica de doenças que poderiam prejudicá-la mais.
No mais tudo continua obscuro e parece que vai longe porque psicoterapia é contínua e lenta.
Pobre Miguel ! rs
abraço, Elvira

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história.

Isabel Sá
Brilhos da Moda

Portuguesinha disse...

Caraças. Mas qual a origem amnésica da Mariana?
Já dá nos nervos não saber, eheh.
Se a crise foi provocada pela ambulância, vou deduzir que passou por um trauma em que foi socorrida (pressão no peito), mal respirava e temia morrer. Provavelmente a família inteira morreu e ela foi a única sobrevivente? Mas então... porquê uma amnésia póstuma? Fruto do desmaio pós crise de solidão?

Se Mariana estiver só no mundo Miguel vai sentir-se ainda mais atraído, por afinidade emocional. E mais compelido a proteger a jovem - por quem já está atraído.

Kique disse...

A passar para continuar a ler este belíssimo conto

Bjs

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