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17.8.18

FOLHA EM BRANCO - PARTE XVIII


Horas depois, Miguel continuava sem conseguir dormir. Perguntava-se até onde o levaria uma promessa feita num momento de compaixão. Não se preocupava com os gastos. Não era rico, mas tinha o suficiente para não se preocupar com isso. Porém, nunca na sua vida, se tinha deparado com uma situação semelhante. E era muito desgastante. A ida ao médico não contribuíra em nada para melhor as suas expectativas. Bem pelo contrário. E se a família da jovem a encontrasse, e o acusasse de ser o causador do seu estado? Como podia defender-se? E se ela era menor? E se… e se… e se… Acabou por adormecer de cansaço, no meio de tanta cogitação. 
Acordou com alguém batendo à porta. Já era dia. Olhou o relógio.
Oito menos dez. Abriu a porta, e deparou-se com Adélia, a mulher que costumava fazer-lhe a limpeza da casa.
- Bom dia menino!
-Bom dia Adélia. Desculpe, esqueci que era quarta-feira, -disse afastando-se para deixar passar a mulher. Ela entrou. Se viu o sofá aberto, e as almofadas em cima da mesa, decerto que viu, mas nenhum comentário saiu da sua boca. Dirigiu-se à cozinha e Miguel foi atrás.
-Adélia, peço-lhe que não faça muito barulho. E não tente ir  ao quarto por enquanto. Está lá uma jovem dormindo.
A mulher, sorriu. Tinha mais de sessenta anos. Conhecera, Miguel era ainda rapariguita, quando sua mãe trabalhava lá em casa, e Miguel bebé de colo, ia com os pais, visitar a avó, já viúva. Às vezes, os pais deixavam o bebé lá em casa com a avó, por algumas horas, e Adélia adorava brincar com ele. Mesmo depois da trágica morte dos pais, num estúpido acidente, Miguel continuou a aparecer de vez em quando para dar um abraço à avó. Depois que esta morreu, a casa levou muito tempo desabitada. Um dia Miguel apareceu por lá, mandou fazer algumas obras à casa, que estava quase em ruínas, e desde aí vinha todos os anos, sempre no final do verão. Desde a primeira vez, que a contratara. Ia duas vezes por semana quando ele estava e uma vez por mês durante o resto do ano. Tinha por ele um amor quase maternal, e  uma fidelidade canina.
- Quero pedir-lhe outro favor. Não comente com ninguém a presença da jovem. Ela está doente, não tem ninguém, e eu tento ajudá-la. Não queria que fizesse maus juízos.
- Por quem é, Menino. Até parece que não me conhece, -disse ela um tanto agastada com a recomendação.- Quer que lhe faça o desjejum, ou come mais tarde?
- Não tenho fome. Como mais tarde. Vou tomar um duche.
- Então, se não se importa, eu vou levantar o sofá e vou para casa. Volto mais tarde. De qualquer modo pouco posso fazer com a menina a dormir.
-Faça com entender, Adélia.







11 comentários:

Os olhares da Gracinha! disse...

Está num impasse ... o que é natural!!!bj

Elvira Carvalho disse...

Obrigado a todos os amigos que ontem me felicitaram. Oxalá voltem a fazê-lo no próximo ano, sinal de que estamos cá todos. Bem hajam.
Bom fim-de-semana.

Nal Pontes disse...

Interessante conto da vida. Folha em branco. Historia da vida real é assim. A cada dia temos uma folha em branco pra ser escrita Bom passar aqui no seu lindo cantinho. Bom final de semana. Amo vc e Deus ainda mais.

chica disse...

Adélia por certo se surpreendeu... Vamos te relendo! bjs, chica

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história!

Cidália Ferreira disse...

Será que Adélia vai ficar mesmo calada, ou, vai ser um "Motor de busca"?!


Momentos...De Fé...

Beijo e um excelente fim de semana.

_ Gil António _ disse...

Boa tarde:- acompanhando a Estória.
.
* Teu coração, ladeado por frios elos entrelaçados *
.
Desejando um feliz fim-de-semana.

Joaquim Rosario disse...

Boas
talvez Adelia venha ser uma ajuda .
JAFR

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Estou ansiosa por saber porque motivo a jovem perdeu a memória.
Um beijinho,
Ailime

A Nossa Travessa disse...

Minha querida Elvirinhamiga

Pobre Miguel. Está metido numa enrascada e nem a Senhora da Agrela (que não há santa como ela) lhe pode valer. Mas ao contrário da Cidáliamiga não creio que a senhora Adélia ponha a boca no trombone.

A estória como todas as que escreves está complicada. Mas vai ter um final feliz. Tu és um coração aberto e ternurento..., não fazes mal a uma mosca e por isso acabará como o happy end.

Muitos qjs deste teu amigo e admirador
Henrique, o Leãozão

INFORMAÇÃO
Acaba de ser publicado na Nossa Travessa o episódio N.º 11 da saga É DIFÍCIL VIVER COM UM IRMÃO MONGOLÓIDE que desta feita em por título Um maldito cancro no pâncreas; para ler e comentar

lis disse...

E Miguel continua sem respostas.
Tomara Adélia possa desvendar esse tormento que cruzou em seu caminho.
E que seja tudo na hora certa.
Continuemos