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21.8.18

FOLHA EM BRANCO - PARTE XXIII






Mal saíram dali, Miguel levou a jovem directamente para a clínica.
O médico já não estava, mas a empregada ao ouvir o relato do que tinha acontecido, disse;
- O que relata, são sintomas de um ataque de pânico. Vou ligar ao Doutor, explicar a situação, e vamos ver se ele autoriza a marcação para amanhã, uma vez que já tem a agenda preenchida.
 Fez a ligação e depois…
- O doutor disse para virem amanhã às duas. As consultas começam às três, ele vai atendê-los antes.
- Muitíssimo obrigado. Até amanhã.
O resto do dia foi tão sombrio, como noite sem lua. Miguel estava muito preocupado. Questionava-se, sobre como devia agir. Denunciar a situação da jovem à polícia e esperar que eles tomassem uma decisão, quanto ao destino dela? Era o mais razoável. Mas, como explicar a demora na denúncia do caso,  e os mais quinze dias que levavam juntos? E como arrancar do peito, aquele sentimento, mistura de carinho e pena que a jovem despertara nele? Desde que os pais tinham morrido, que vivia sozinho. Aventuras amorosas, tivera muitas. Fugazes, sem consequências. Gostava da sua vida de boémio, de partir para qualquer lado quando lhe apetecia, sem se preocupar com nada, nem ninguém. Tinha vários amigos, ali, na cidade, como tinha em Lisboa. Pintores, escritores, escultores. Gente ligada às artes como ele. Alguns tinham ao longo dos tempos, encontrado alguém com quem dividiam a vida e os sonhos. Ele não. Nunca sentira nada tão avassalador por alguém que o levasse a ponderar deixar o celibato. E aos quarenta e cinco anos,  já não acreditava  possível, que tal viesse a acontecer.
Quando viu a jovem tão nova, tão frágil, completamente perdida, sentiu que tinha que ajudá-la. Era como se o céu lhe enviasse uma filha. Claro que pôs a hipótese de que em algum local, alguém podia estar em sofrimento por causa do seu desaparecimento. Mas todos os dias comprava o jornal, ouvia as notícias na rádio e não havia nenhum apelo, nenhuma foto, nenhuma notícia na rádio, nada que se relacionasse com ela. Porém aquele episódio à tarde, deixou-o em sobressalto. E se ela sofria  de algum grave transtorno psiquiátrico? E se tinha fugido de alguma clínica do género? Atormentava-se sem saber  o que fazer e como  fazê-lo. Ir-se embora, deixando-a na casa, mesmo pagando todas as despesas, e contando com a ajuda de  Adélia, que entretanto  se fora também afeiçoando à jovem, não era viável.
Pedir ao médico que lhe aconselhasse uma boa clínica, para a internar, era o mais razoável, mas a ideia de a deixar num ambiente hostil, repugnava-lhe. Estava, como a avó Ermelinda costumava dizer, entre a Cruz e a Caldeirinha.







11 comentários:

Larissa Santos disse...

Muito complicado. Coitada da rapariga, que nem o seu nome sabe...

Hoje; Contrabalanço de nuvens densas

Bjos
Votos de uma óptima Terça - Feira

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história!

Isabel Sá
Brilhos da Moda

António Querido disse...

Pois eu também estaria preocupado, mas não abandonaria a moça numa encruzilhada qualquer, espero por um fim romântico.

Um resto de fim-de-Agosto quentinho.

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Esta historia é de uma frustração sufocante !!
JAFR

noname disse...

Numa camisa de 7 varas, o Miguel está metido :-)

Bom dia, Elvira

chica disse...

Miguel está enroscado de verdade!!!Aff! beijos, chica

esteban lob disse...

Los llamados ataques de pánico, estimada Elvira, son mirados muy en menos por muchos que los atribuyen a la fantasía, pero suelen causar estragos importantes y a veces demoledores.

Un beso austral.

Os olhares da Gracinha! disse...

Uma angústia perfeitamente compreensível!bj

Cidália Ferreira disse...

Com esta confusão toda espero que Miguel não saia prejudicado! Está difícil!!

Olho a candura das ondas bravias

Beijo e um excelente dia.

Anete disse...

Que situação a de Miguel! Aguardarei os próximos capítulos c grande curiosidade...
Forte abç, Elvira... E, vamos em frente...

O meu pensamento viaja disse...

Elvira, vejo com agrado que continua muito produtiva. Beijo