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5.8.18

FOLHA EM BRANCO - PARTE VII



                                       


Quando a jovem entrou na cozinha a comida já estava na mesa, e Miguel esperava por ela, para iniciar a refeição.
- Sente-se. Vamos comer. Confesso que estou cheio de fome.  
Estendeu-lhe um prato com uma coxa de frango assado e batatas fritas. - Se gosta de salada, sirva-se, disse apontando para a travessa de tomate, salpicada de orégãos.
A refeição foi penosa para os dois. O homem porque tentava sem conseguir, introduzir uma conversa, que pudesse levar a jovem a vislumbrar uma nesga que fosse, sobre a sua identidade. A jovem porque estava demasiado preocupada, para ter fome. Não sabia quem era, nem como tinha chegado até ali. Não sabia quem era aquele homem, nem porque estava com ele. Até aquele momento, parecia ser confiável. Tinha agido consigo como um cavalheiro. Mas seria sempre assim? E ainda que fosse, quanto tempo demoraria a fartar-se dela e a mandá-la embora? Já não era muito jovem, via-se que estava habituado a viver sozinho. Quanto tempo aguentaria uma intrusa no seu espaço? E ela? Quem era ela? Seria solteira? Casada? Porque não se lembrava de nada?  Porque não tinha documentos? Uma mulher não sai de casa, sem mala, sem documentos. Então porque ela não tinha nada? Teria sido assaltada? Isso explicaria o facto de estar sem mala. Mas, porque raio, não se lembrava de nada? Por mais que se esforçasse, só se lembrava de ter acordado na relva, junto do pintor. Era como se tivesse nascido no momento em que abriu os olhos. Teria levado alguma pancada na cabeça? Mas não.Tinha acabado de lavar a cabeça e não encontrara nenhum hematoma.
 Sentia-se desesperada. Queria que o pintor lhe dissesse alguma coisa, que lhe desse uma pista.
Mas ele dissera que ela não estava com ele, não era seu modelo, e nunca a tinha visto antes.Então, o que poderia ele dizer-lhe para a ajudar?
Terminaram a refeição e Miguel começou a retirar a loiça da mesa em silêncio.
- Deixe eu arrumo a cozinha – ofereceu-se ela.
- Estou habituado a fazê-lo, - respondeu ele, não sem uma ponta de dureza na voz, magoado com o silêncio da jovem.
Talvez ela tivesse percebido, porque disse.
- Desculpe-me. Nem sei como lhe agradecer o que está a fazer por mim. Mas acredite que me é muito dolorosa esta situação. Nem sequer sei como me chamo. Estou desesperada.
O homem caminhou até ela, acariciou-lhe os cabelos como se ela fora uma criança e disse;
- Não se preocupe. Quando menos esperar vai lembrar-se. E se isso a faz feliz, pode lavar a loiça,- acrescentou sorrindo.





14 comentários:

Larissa Santos disse...

Estou curiosa, o que a teria deixado assim? Adorei ler :))

Hoje: { B.C- Poetizando } Brisa perfumada, pétalas de ternura

Bjos
Votos de um óptimo Domingo

António Querido disse...

Vá lá, já não é mau de todo lembrar-se de como se lava a loiça! Em breve está a lavar a casa e a roupa.

Boas férias Amiga.

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Que coisa mais difícil para ambas as partes.
Um bom domingo para todos .
JAFR

chica disse...

Uma situação embaraçosa essa! Muito legal de reler! bjs, chica

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Estou a gostar minha amiga.
Um abraço e bom Domingo apesar das temperaturas escaldantes.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

Edum@nes disse...

Passando para lhe desejar, amiga Elvira, umas boa férias algures em Lagos. Onde o calor do sol não castiga tanto. Pelo menos com água até à ponta do nariz?

Um abraço.

noname disse...

Na senda da procura do passado, cá vamos nós :-)

Boa tarde. Elvira

Anete disse...


Ainda bem que ela encontrou um moço confiável... O que será que está ocorrendo com a sua mente, vida??! Veremos!...

Bom domingo, Elvira. Boa semana e ótimos descansos...
(O calor por aí tá GRANDE, hein...)

Andre Mansim disse...

Elvirinha, bom dia!
Menina cada vez eu me torno mais fã de você.
Você escreve muito, e seu blog é movimentado e vivo e você ainda tem tempo de me fazer o carinho de mandar um conto tão bom quanto é o Renascer.
Um conto quase poético, mas com todos os tipos de emoções que um conto merece.
Muito obrigado minha amiga.
Espero ter a sorte de bater mais um milhar em seu blog.
Sou seu fã!!!

Cantinho da Gaiata disse...

Passando para lhe desejar um óptimo domingo, neste Algarve maravilhoso onde calor não falta e um mergulho na praia é sempre maravilhoso.
Bjs

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Um capítulo cheio de dúvidas, imagino o sofrimento dela sem saber nada a seu respeito, é uma sensação de abandono e desespero!
Beijos!

Cidália Ferreira disse...

Muito interessante! Será que a jovem não sofrera de violência doméstica?
Amei!


Beijo- Boa noite!

Pedro Coimbra disse...

Uma aproximação que se pressente e que vai ser essencial se bem me lembro.
Abraço, boa semana

Os olhares da Gracinha! disse...

Por certo ... haverá uma aproximação!!!bj