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1.3.18

PAINÉIS DE ALMADA NEGREIRAS

 Um dos sítios por onde andei hoje. A Gare marítima da Rocha do Conde de Óbidos, um local cheio de história, por onde terão passado nos anos 60/70 a grande maioria dos mancebos portugueses. Por isso a grande maioria dos meus leitores portugueses, já os conhecem, mas eu não os conhecia.
 O edifício da Gare Marítima, foi inaugurada em 1943. Terá sido construída, por dois motivos. Primeiro porque realmente fazia falta em Lisboa uma gare, já que os navios de passageiros não tinham um sítio decente onde desembarcar os seus passageiros. Segundo porque a Europa estava em guerra e Portugal que teoricamente era neutro, mas que todos os países sabiam que fornecia à Alemanha materiais volfrâmio, açúcar e tabaco, e por isso, Salazar precisava fazer algo que exaltasse o espírito português. Daí a construção desta sala de boas vindas, projectada e construída por portugueses, com mármores portugueses.
Para dar maior realce, ao edifício foram encomendados painéis de pintura a Almada Negreiros. Estes painéis pintados eram uma inovação já que até aí eram sempre feitos em azulejos.
Almada Negreiros terá então pensado em lendas que exaltavam o espírito português e para isso começou por um tríptico, que conta a lenda da nau catrineta, associada aos descobrimentos. Neste primeiro temos uma nau, com os marinheiros à mesa e os pratos vazios. Como sabem, eles deitaram sortes para ver quem matariam, a fim de terem de comer. E logo a sorte foi cair no capitão que pede a um marujo, que suba ao mastro, para ver se via terra, numa tentativa de escapar da morte.
Entretanto o gageiro terá sido possuído pelo demónio, e pede alvíssaras ao capitão. Este oferece-lhe sucessivamente, a mais formosa das suas três filhas, muito dinheiro, o seu cavalo branco e a nau catrineta, mas tudo ele recusa, dizendo que quer a alma do capitão. O capitão renega-o dizendo que a sua alma é só de Deus, e que antes dá o corpo ao mar.
Nesta pintura se pode ver a nau, as três meninas e o cavalo.
 Vencido o demónio pela fé do capitão, eis que chegam a terra. Esta pintura mostra a chegada a terra. Reparem que apesar desta lenda ser relativa aos descobrimentos, o pintor usou para "vestir"as pessoas, roupas da época. Anos 40.
 Este painel representa o milagre da Senhora da Nazaré. Penso que todos conhecem a lenda, mas reparem na pintura. D. Fuas Roupinho está vestido com um traje de cavaleiro tauromáquico. Os pescadores e as mulheres têm igualmente roupas da época, apesar da lenda ser do século XII
 Neste painel intitulado, "A terra onde nasci" vemos Lisboa. Todos sabemos que Almada Negreiros nasceu em S. Tomé e Príncipe, mas apesar de ter viajado muito, ele adotou Lisboa como a cidade do seu nascimento. Neste painel vemos que Lisboa nesta época era quase rural.Temos aqui uma igreja com um marujo e uma "sopeira" ele vestido da cor do mar, ela da cor da terra, um grupo de gente que pelas suas roupas serão burgueses fazendo um piquenique, um pequeno casario e as colinas nuas de edifícios. Conseguem imaginar Lisboa assim?
 E agora temos outro tríptico com o titulo "quem nunca viu Lisboa, não viu coisa boa"
E neste primeiro temos as carvoeiras, Que Maria José Valério tão bem cantou,   desembarcando o carvão das fragatas no Tejo.
 E porque Lisboa sem o Tejo não teria o encanto que tem, neste painel o rio é exaltado, dando nome a um dos barcos.
Por último nesta pintura , se enlaçam a cidade e o rio, Lisboa representada pelo Castelo de S. Jorge e a igreja da Sé, o rio pelos barcos e os pescadores que separam  as cavalas dos salmonetes.



Gostaram?

19 comentários:

Edum@nes disse...

Ainda aqui estou,
bem a pena valeu
que por aí passou
um desses sou eu!

Tenha uma boa noite amiga Elvira.
Um abraço.

Graça Sampaio disse...

Gostei muito!! Até porque gosto imenso da pintura e da arte em geral de Almada. Conheço alguns desses painéis, mas nunca visitei a gare marítima. Uma falha minha...

Obrigada pela reportagem.

Beijinho.

chica disse...

Adorei ver e aprender mais e mais contigo! beijos, tudo de bom e vemos que o passeio foi proveitoso! chica

Mar Arável disse...

Excelentes memórias vivas

Kique disse...

Gosto muito da obra de Almada Negreiros
Bjs
https://caminhos-percorridos2017.blogspot.pt/

Tais Luso de Carvalho disse...

Que postagem maravilhosa, Elvira!
E dando um zoom dá para ver os detalhes!
Obrigada por essa partilha, tudo explicadinho, bem didático.
Beijo, um ótimo fim de semana que está chegando.

Pedro Coimbra disse...

Conhece a anedota do Samora acerca do Almada Negreiros??
Era assim:
Perguntaram ao Samora o que é que ele achava do Almada Negreiros.
E ele, depois de muito pensar, respondeu:
Almada - 2 Negreiros - 0 :))))
Bfds

Tintinaine disse...

Também passei por lá, como muitos milhares de soldados a caminho, ou de regresso, de África, mas nunca vi nada disso. Era do navio para o cais, entrar no autocarro e logo a caminho do quartel.
Gostei de ver e das explicações também.

Isa Sá disse...

São muito giros os painéis!


Isabel Sá
Brilhos da Moda

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

São magníficos estes painéis do grande Almada Negreiros.
Um abraço e bom fim-de-semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

António Querido disse...

Gostei das imagens e das explicações, mas estava a ver que não aparecia o marujo a namorar!
Bom fim de semana.

O meu pensamento viaja disse...

Excelente reportagem!
Beijinhos

Rui disse...

ADOREI, Elvira ! ... E assim bem explicado tem um muito maior interesse. De outro modo, poderíamos ficar apenas a apreciar a "beleza" das pinturas, mas não o seu significado !
Muito se aprende nesses seus passeios de estudo !!!
Um belíssimo post !... Ah !... e eu não conheço ainda, ao vivo !
Abraço :)

Olinda Melo disse...


Grande Almada Negreiros.
Muito obrigada pela partilha.

Bj

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Amei a partilha, na qual me revesti de novos conhecimentos e apreciei as belas pinturas, parabéns!
Beijos carinhosos!

Gaja Maria disse...

Muito bonito :)

Berço do Mundo disse...

Pois olhe, junto-me ao grupo dos que não conhecem tamanha beleza. Grata pela partilha
Boa semana
Ruthia d'O Berço do Mundo

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Memórias que ficam enaltecidas na Arte de Almada Negreiros.
Muito interessante estes painéis.
beijinhos
:)

cantinho disse...

Bela descrição.
Hei-de fazer o possível para passar lá, na próxima ida a Lisboa, que será em outubro, quiçá, antes.
Quando fiz o meus post, encontrei uma biografia interessante e foi aí que descobri que estes painéis são dele.
Conheço os de Alcântara.
Obrigada, Elvira.
Gostei de ler.
Beijinho