Calou-se e ficou pensativo. Como se, falar do caso, lhe trouxesse à memória, toda a angústia vivida. Clara escutara-o em silêncio. Procurou com o olhar o Santos contramestre do navio.
-É um grande homem, - disse Pedro que seguira a direção do seu olhar. - Não fora ele, e certamente não estaríamos aqui hoje e toda essa gente teria alguém por quem chorar.
- E depois Pedro, como chegaram à Terra Nova? - Perguntou Clara, enquanto puxava a irmã, para junto de si.
- Depois que o temporal passou, embora com alguma dificuldade, conseguimos chegar a St. John's, onde reparámos a avaria, e abastecemos. Lembro-me bem, porque foi aí que eu recebi a notícia da morte dela.
Calou-se e por momentos, o seu olhar perdeu-se na distância. Clara olhava-o em silêncio, respeitando a dor do jovem. Ele retomou a conversa:
- Deus como sofri. Procurei a morte a todo o instante. Mas Deus, sempre me protegeu. E eu... eu, que nunca tive medo de nada, tive medo disto. De chegar aqui, e ver toda esta alegria e felicidade à minha volta... Ah! Rapariga, que se tu soubesses quão negros são os meus pensamentos, por certo fugirias de mim. A Glória era uma grande mulher. E uma boa esposa. Amava-me e eu adorava-a. E morreu. Morreu num desastre estúpido. Queria morrer também. Sem ela, a minha casa vazia, os meus sonhos mortos, que me importa viver?
Clara, não teve uma palavra de consolo para ele. Que podia ela dizer para lhe mitigar tão intenso sofrimento? Que a "grande mulher" a quem ele adorava, tinha morrido quando fugia com outro? E podia ela cravar-lhe no peito, mais esse punhal? Seria como matá-lo duas vezes e não se pode ser tão cruel. Mas alguém lho diria. Nas terras pequenas tudo se sabe, e as pessoas parecem tirar prazer do sofrimento dos outros.
Continua
19 comentários:
bom dia
realmente vai ser muito duro quando souber da verdade .
o amor tem destas coisas !!!
JAFR
Certamente aparecerá a verdade para ele,coitado! beijos, chica
Está interessante minha amiga.
Um abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Qualquer coisa me diz que já li este conto!
Mas não me lembro de nada e ainda bem, pois assim não perde o suspense.
Elvirinha, estou gostando e querendo saber mais.
Sofrimentos atrozes... Tomara a esperança brote verdemente...
Um abraço nesta quarta-feira
Bom dia. Lendo e acompanhando a história.
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* Água que purifica teu corpo ... em efemérides de sentido *
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Deixo abraço de amizade
A acompanhar e a gostar muito.
Beijinho Elvira
Mais uma historia que começa com um enredo que gosto.
Mas não podia ser um pouco mais extenso ?
Beijinho
É a vida dura de ser pescador ou marinheiro, luta-se no alto mar dias sem fim, à noite agarram-se ao travesseiro e sonham com as suas Marias, se tiverem a sorte de regressar, alguém muito querido já partiu para outra viagem sem tempo de despedidas, é duro mas é a vida.
Não podia aqui faltar o meu abraço.
Pois é, Elvira. nas terras pequenas tudo se sabe e se calhar se ele soubesse da verdade, poderia sofrer menos.
Abraço
Muito interessante este relato, espero que tenha um bom desfecho.
Abraço Elvira
Boa tarde!
Maravilhoso, e instigante!! Gostei do episódio.
Beijos
Quantos dramas eram vividos naqueles tempos de ausência obrigatória tão prolongada ?!... Uns mais "visíveis" que outros, outros ainda, camuflados !...
Aguardemos o desenrolar da história !
:))
Já estou sentindo a dor dele quando souber da verdade e, com certeza, essa verdade o irá revoltar e tirar sua credibilidade no ser feminino.
Beijos carinhosos!
Se o amor não for forte a distância pode realmente trazer consequências,E pelo visto essa ausência provocou mais do que uma ruptura mas também a morte da mulher amada.
Isso vai ter desfechos rsrs de mais tristeza e de mágoas que nao se apagam,
Enfim, vamos sentindo o drama do rapaz.
Beijim Elvira
A vida nem sempre fácil nem facilitada!bj
Boa tarde Elvira,
Estou a pôr em dia a sua maravilhosa escrita.
Este conto que até poderia ser real prende e angustia ao mesmo tempo.
Muito bom!
Beijinhos,
Ailime
A verdade tarda, mas não falta. Prenúncio de um segundo sofrimento. É a vida!
Abraços,
Furtado
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