- Sabes, -disse Paulo tuteando-a pela primeira vez. Aprendi a pescar, e a nadar neste rio. Meus pais morreram quando eu era menino, o meu tio tomou conta de mim e trouxe-me para aquela margem do outro lado da ponte, onde tinha uma pequena quinta. O caseiro, tinha um filho quase da minha idade, e ele foi o meu companheiro de brincadeiras. Os seus pais, foram para mim como uns pais. O meu tio, nunca se preocupou muito comigo, a nível afetivo. Estava demasiado enfronhado nos negócios. É certo que nunca me faltou nada a nível material, mas eu teria preferido ter menos coisas, e contar mais com a sua companhia, o seu carinho. Sempre tive jeito para o desenho, gostava de pintar e sonhava estudar pintura, conhecer os grandes pintores desde os primórdios dos tempos até à atualidade, visitar museus, aprender tudo o que fosse possível aprender. Mas quando contei ao meu tio, ele zangou-se muito, disse que o que eu queria era um futuro de fome e frustração. Os grandes pintores quase todos morreram na miséria, os quadros só passavam a ser valiosos, depois que o pintor morria. Eu ia para a universidade sim, mas teria que escolher entre economia, ou gestão e contabilidade. Acabei por escolher o segundo, e fiz o curso por orgulho, para lhe mostrar que era inteligente o suficiente para tirar qualquer curso, apesar de não gostar dele. Quando terminei o curso, ele deu-me a pequena herança que meus pais me deixaram ao morrer. Uma das minhas paixões de criança eram as motos. Comprei uma, e parti para Paris. O dinheiro acabou rapidamente, mas eu tinha muita coisa para aprender, e não queria pedir nada ao meu tio. Trabalhei na construção civil, em bares, fui até empregado numa agência funerária. Tinha alugado um pequeno estúdio, e todos os centavos que me sobravam, gastava-os em telas e tintas. De vez em quando vendia alguns quadros na rua, e fui-me equilibrando. Quando entendi que tinha aprendido tudo o que me interessara aprender, parti para outras paragens. Percorri quase toda a Europa, nos últimos dez anos. Sem qualquer contacto com o meu tio, não fazia a mínima ideia de como era rico. A pequena quinta da minha infância, cresceu desmesuradamente. Atravessas aquela ponte e tudo o que a tua vista alcança é meu. Segundo parece, à medida que os vizinhos iam morrendo, o meu tio ia comprando aos herdeiros as suas quintas e anexando-as. Tem uma grande extensão de pomares, terras de cultivo e até uma zona de pastoreio.
Caminhavam lado a lado. Paulo falava em voz baixa, sem se
interromper, como se estivesse a seguir uma invisível linha de pensamento. Amélia escutava-o sem interrupções convencida
da necessidade que ele tinha de desabafar.
Quando Casimiro, o caseiro morreu, Alfredo, o filho,
ficou no seu lugar. Ele não estudou. Aqui os filhos aprendem as profissões com
os pais, não estudam mais do que o estritamente necessário. Os seus braços fazem falta no campo. Refiro-me claro aos filhos
dos trabalhadores como é o caso. Alfredo casou-se há anos e tem três filhos.
Gere a propriedade, e é ele quem contrata os trabalhadores que precisa. A mãe e
a esposa, tratam da casa, e dos animais domésticos.
Por AQUI continuamos em Alcobaça. E depois da sala dos Reis , temos a sala dos Capitulos.
19 comentários:
A coisa vai-se compondo :-)
Beijinho Elvira
Acho que já a conquistou!! ;)
NEXT...
Beijinhos
Bonita estória de vida, tem ela.
Por motivos profissionais, O Gil, poderá não conseguir chegar a todos. Motivo por qual estou aqui.
Deixo-vos com:- *As máscaras da ilicitude.*
-
Bjos
Votos de uma feliz Terça- Feira
Não há nada como uma boa conversa civilizada, para conquistar um coração desiludido!
Espero que acabe onde eu estou a pensar.
O meu abraço
Nada como uma boa conversa!bj
Lindos papos e necessários pra conhecer melhor...bjs, chica
Afinal, Paulo, para além de homem bem-parecido e bem formado, tem alma de artista. É viajado e arregaça as mangas quando se trata de alcançar os seus sonhos. Nem que Amélia andasse de candeia acesa encontraria outro melhor...Que não se faça rogada! :)
Lá voltei a Alcobaça, porque quem por lá passa,
por mais que tente e que faça
não passa sem lá voltar.
Obrigada pela partilha.
Um abraço.
Estou cada vez mais envolvida nesta história!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Caminhando, Paulo e Amélia,
nas margens do Rio Nabão
se ela veste saia de flanela
a certeza disso não tenho não?
Tenha uma boa noite amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.
Aqui continuo agarrado a este conto
bjs
kique
http://caminhos-percorridos2017.blogspot.pt
A novela vai de vento em popa e os leitores adoram. Não se pode pedir mais, não é?
Olá Elvira, minha amiga!
Lí esse capítulo de um só fôlego, e como sempre achei muito bem escrito. Mesmo eu não acompanhando esse conto desde o começo, pois você sabe que eu estava de férias forçadas, eu consigo me divertir com qualquer escrito seu.
Um grande abraço!
Capítulo maravilhoso o qual mostra o bom caráter do Paulo e a harmonia que está crescendo entre eles.
Beijos carinhosos!
E como já é seu apanágio, a narradora vai unindo as pontas da trama.
Sempre muito bem.
Bjinho
Chegou o momento de abrir a alma, de expor o coração.
Abraço
a passar por cá para acompanhar a história.
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Sobrevivo em meio a dor da perda do filho amado.
Estou me dando o direito de viver o luto como preciso.
Sabiamente, dizia minha mãe, que o luto leva um ano, o
ano das "primeiras vezes", primeiro aniversário sem ele,
primeiro Natal sem ele, primeira virada de ano, primeira
praia... A dor é intensa. Intensa é a saudade...
Perdão pela ausência. Volto aos poucos. Ainda não sei fazer
poesia que não fale na saudade. Mas elas virão. Eu tenho certeza.
E aqui estarei compartilhando contigo.
Muito obrigada pelo teu carinho.
Bom dia. Acompanhando a "estória"...
.
* Campos ondulando em flor, afectos infinitos *
.
Votos de um dia feliz.
Boa tarde Elvira,
As personagens principais vão-se aproximando...
Linda a história e a narrativa.
Beijinhos,
Ailime
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