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8.1.18

ESCRITO NAS ESTRÊLAS - PARTE I





                                                               I


O homem estacionou o carro e entrou no centro comercial apressado. Tinha sessenta e cinco anos, era alto e delgado. O rosto emoldurado por uma farta mas bem curta cabeleira completamente branca, apresentava ainda uma certa beleza apesar da idade. Os olhos azuis, qual pedaço de céu em dia ensolarado, o nariz pequeno e a boca bem desenhada, eram parte do seu encanto. Apesar da idade, e das rugas, era ainda um homem muito interessante.
No olhar inquieto e no movimento das mãos, notava-se que apesar da sua presença forte, estava nervoso. Vinha para um encontro, que podia mudar toda a sua vida, mas… com quase vinte e quatro horas de atraso.
Quando Abílio tinha vinte anos, namorara Ema, uma rapariga da vizinhança, cinco anos mais nova. Ele sabia que ela era uma menina, mas gostava do jeito da gaiata, da sua personalidade, e pensara que como tinha uma vida à sua frente, podia esperar uns anos para que a rosa que se adivinhava naquele botãozinho, crescesse e desabrochasse esplendorosa. Porém o pai da jovem não esteve pelos ajustes, proibiu o namoro, e ameaçou que o denunciaria às autoridades como pedófilo, se voltasse a vê-lo com a filha. Por essa altura Abílio foi para a tropa, e poucos meses mais tarde partiu no paquete Vera Cruz para uma comissão no norte de Moçambique.
Abílio não esquecia a sua pequena Ema, e tinha esperança de quando acabasse a comissão e regressasse à Metrópole, o pai dela tivesse mudado de ideia, e não pusesse obstáculos ao seu namoro com a filha.
Isso mesmo escreveu numa carta amorosa, em que lhe falava das saudades que tinha dela, e lhe pedia uma fotografia para o acompanhar naquele tempo de provação.
A carta veio devolvida pouco tempo depois, como vieram as restantes que escreveu durante seis meses, até se convencer que era tempo perdido. 
Então um dia numa revista de espetáculos viu umas páginas em que vários soldados pediam madrinhas de guerra, e resolveu escrever para a revista com o mesmo pedido. Nunca esperou receber tantas respostas, mas recebeu mais de dez. Ou era chique, ou moda, as moçoilas terem um afilhado de guerra. De todas as cartas, ele escolheu a de Fernanda, uma jovem de Santar, uma vila beirã de que nunca tinha ouvido falar até à data, mas cuja carta lhe pareceu a mais atilada de todas. 
De regresso à Pátria, ansioso por ver a sua amada Ema, sofreu o desgosto de saber que se tinham mudado para parte incerta, logo após a sua partida para África. Guardou no coração, todos os seus sonhos do futuro, e a recordação de um amor que nada mais lhe dera do que um terno e ingénuo beijo, e decidiu levar a vida em frente.


continua


Nota: Ainda convalescente, mas francamente melhor começo hoje uma nova 
história, que se prolongará pelos próximos dois dias.
Uma história como vocês gostam, para amenizar as três histórias-denuncia com que iniciei o ano.

17 comentários:

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Graças a Deus estás melhorando e nos brindando com essa bela história, sim, porque vai ser uma ótima história, pelo primeiro capítulo já chego a perceber.
Abraços carinhosos!

Rui disse...

:)... Não me diga que a Fernanda é a Ema, que poderá ter "fugido" de casa por causa da atitude do pai !?...
Que bem me lembro desse período ! Fiz o serviço militar em plena "Guerra Colonial", mas por sorte não tive que sair de cá ! ... Era normal isso das "madrinhas de guerra" ! :)
Abraço e a continuação das melhoras :)

chica disse...

Tomara consiga passar aqui pra ler até final.. Que fiques bem boa! bjs praianos,chica

noname disse...

Melhoras Elvira.

Já à espera do próximo capítulo eheheheh

José Lopes disse...

Boa convalescença.
Cumps

Edum@nes disse...

Já viajei nesse barco,
com o vento pelo proa
no camarote acomodado
de Nacala até Lisboa!

De Abílio e Ema,
o que deles será feito
não desiste, vale sempre a pena
lutar por aquilo que se tem direito!

Tenha uma boa noite amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

Kique disse...

As melhoras Elvira
bjs
Kique
https://caminhos-percorridos2017.blogspot.pt

Lua Singular disse...

Oi Elvira
Já começo com tristeza que com certeza que sua imaginação não tem limites
Beijos
Lua Singular

Tintinaine disse...

Que bom regressar às novelas em episódios diários. E com Moçambique pelo meio e ainda o Vera Cruz não podia ser melhor!

Pedro Coimbra disse...

Pelo que consigo intuir, uma história de desencontros e reencontros.
Um abraço

Joaquim Rosario disse...

bom dia
ainda não dá para fazer grandes analises , mas vai ser com certeza mais uma historia de amor !!
JAFR

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar mais uma história.


Isabel Sá
Brilhos da Moda

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Ora aqui vamos nós partir para mais uma história.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Diana Fonseca disse...

Espero que ele a encontre.
As rápidas melhoras.

Cantinho da Gaiata disse...

Oh, ainda bem amiga, já começava a ficar com pavor de tal mudança tão radical.
Agora sim entramos no que gostamos de ver e ler.
Beijinho e as melhoras.

Gaja Maria disse...

Ainda bem que está melhor. Já gostei do início da história. Parece-me que mais uma de amor :)

Jaime Portela disse...

Um início de uma história que, pelos "ingredientes" já aflorados, promete ser interessante.
Continuação das melhoras.
Bom fim de semana, amiga Elvira.
Beijo.