Esta foto mostra uma mesa da Seca de bacalhau da Azinheira. A foto não é minha , mas conheço
este sitio como a mim mesma. Ao fundo à direita é a malta dos homens, que eu já mostrei em fotos minhas. À esquerda um dos armazéns de recolha do Bacalhau. As trabalhadoras, são a Idalina (que atualmente é a porteira) e a Vitória. Com ambas trabalhei alguns anos. A foto é antiga, hoje a Seca foi desativada, está apenas aberta para visitas de estudo.
IX
No dia seguinte, quando viu Amália
lavando roupa no tanque foi até lá para ajudar. E também, porque queria
conversar com a futura cunhada, longe de interrupções.
Pegou numas calças, mergulhou-as no
tanque e disse:
- Vim ajudar com a roupa, Amália.
- Não carece Rosa.
- Mas eu quero ajudar. E também
queria falar consigo. Saber se é verdade que o seu irmão, quer casar comigo e
porquê.
- Saber se é verdade? Tens dúvidas?
- Foi muito estranho o que
aconteceu.
- Vai-te habituando. A vida tem
muitas coisas estranhas. Tu por exemplo, não te pareces em nada com o que tenho
ouvido falar das mulheres que levam a vida que levavas.
Sem se conter, Rosa deu livre curso
às lágrimas. Amália ficou espantada.
- Que se passa agora? Porquê esse choro?
Não disse nenhuma mentira, ou disse? Não estavas numa casa de “meninas”?
Ela assentiu com a cabeça e depois
perguntou:
- Posso confiar em si?
- Claro, mulher! Afinal vamos ser
cunhadas. Mas antes deixa de me tratar por você. Que diabo, não estou a
tratar-te por tu? Faz o mesmo.
Então, Rosa abriu o seu coração e
contou tudo desde aquela fatídica tarde no monte.
-Juro-lhe, por tudo quanto há de
mais sagrado, que digo a verdade – terminou Rosa ao perceber o ar incrédulo da
outra.
- Pois então agradece a Deus, que te
livrou de um destino que não desejavas. Às vezes ELE escreve direito por linhas
tortas.
E então falou-lhe da ida de João
para os Açores, da promessa que ele fizera e de como a família se sentia
preocupada com a mulher que ele arranjasse. Nunca lhes passou pela cabeça
dissuadi-lo. Isso não! Promessa é sagrada. O Sr. Padre, sempre lhes dissera
“Muitas graças a Deus e poucas graças com Deus” e terminou:
-Vamos rapariga lava aí essas lágrimas e
prepara-te para enfrentares a vida que te espera. Não será fácil. Somos pobres,
vivemos do trabalho quando o há e quando não. O que eu quero dizer é que aqui
se trabalha seis meses por ano e tem que se guardar para os outros seis meses.
Felizmente, o João tem trabalho todo o ano na fábrica, e já se inscreveu para a
C.U.F. Se tiver a sorte de entrar, vai ser
muito bom. Lá ganham melhor, fazem muitos turnos. Não tens nada para a tua casa
e nós não poderemos ajudar grande coisa. Talvez uma panela ou uns pratos. Se
quiseres trabalhar, segunda-feira podes ir ao escritório da Seca. O trabalho é
duro mas sempre podes comprar alguma coisa para a casa.
- É claro que vou. Trabalho, foi coisa que nunca me meteu medo. Obrigada por me acolher e me
aconselhar.
- Então, agora vamos lá fazer o
almoço que está na hora. À tardinha uma de nós vem apanhar a roupa.
Continua
Que vos parece? A história da Rosa termina com o casamento (porque gente feliz não tem história) ou ainda muita água vai correr debaixo da ponte?