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20.11.14

ROSA ------------- FINAL

Foto de um grupo de retornados. Em 74, em poucos meses, meio milhão de portugueses regressaram das colonias. Chegavam de barco ou de avião, na sua maioria de "mãos vazias". Fugiam da guerra deixando para trás tudo o que tinham. Esta foto não é minha, (até porque nessa altura eu estava em Luanda) Foi retirada da net

                                       XVI

Para Rosa tudo era novo e diferente, ela não entendia muito bem o que se passava no País mas o que ela notava é que o povo estava mais alegre, mais feliz
Por outro lado, João recuperara o emprego, o filho conseguira trabalho na Siderurgia Nacional, a filha mais nova fora trabalhar para a Timex, até o filho doente, estava melhor agora, graças a uma bomba que o médico já tinha receitado à muito, mas que ela nunca conseguira dinheiro para comprar. A sua vida estava muito melhor, ela podia enfim descansar um pouco, deixando o trabalho a dias e ficando em casa a cuidar do marido e dos filhos solteiros. Podia também cuidar dos netos, deixando as filhas mais descansadas e mais libertas de despesas. Porém, sobre ela pairava, como uma sombra, o medo pelo filho ainda lá longe. Principalmente porque não havendo a P.I.D.E, nem censura, tudo o que se passava em África chegava a Portugal. Rosa sabia que o governo, estava a negociar a independência, mas todos os dias chegavam a Portugal “os retornados” que falavam do medo que sentiam, da guerrilha entre os movimentos de independência, e alguns residentes pró colonialistas.  falava-se de mortes, do recolher obrigatório, da incapacidade dos militares impedirem os indígenas que os saqueavam. E o seu filho continuava lá em Angola. Por outro lado, os políticos pareciam não se entender, os governos provisórios sucediam-se, e Rosa tinha muito medo que tudo voltasse ao mesmo, ou como diziam alguns, que a seguir à ditadura fascista, se seguiria uma ditadura comunista. O marido dizia-lhe, que isso sim seria um sonho, mas Rosa, que era uma mulher sem instrução, e tudo o que aprendera na vida, ficara-lhe  gravado na memória pelo sofrimento, achava que ditadura nunca seria coisa boa, fosse ela fascista ou comunista. E lembrava-se do que a avó sempre dizia quando ela era pequena e nem bem sabia o sentido das palavras. “Atrás de mim virá, quem bom me fará” Tinha medo. Muito medo de ainda vir a achar que os anos para trás, é que tinham sido bons. Naquele verão, mais de um ano após a revolução, o país parecia caminhar para uma guerra civil, e ela tinha medo do que o futuro lhe podia ainda reservar.  Medo que só perdeu, quando em Novembro de 75, pode enfim abraçar o filho que regressara são e salvo, após a Independência de Angola. E quase no final desse mesmo mês,  a viragem histórica do país, que afastou o espectro da guerra civil.
Agora sim, Rosa era uma mulher feliz.

                                         
 Fim

Maria Elvira Carvalho


Bom, agora o pedido do costume, aos que acompanharam a história da Rosa. Gostaram da história?  Não gostaram? Não se acanhem. É com as vossas criticas que posso melhorar para o próximo.


28 comentários:

chica disse...

Gostei muito,Elvira. Tivemos a oportunidade de ver os percalços da vida de Rosa e não só dela: do povo todo! Enfim, um bom final e ficamos com pena que acabou esse conto tão bonito e tão bem escrito! bjs, tudo de bom,chica

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

como disse no comentário anterior, li agora os dois últimos posts e gostei.

acho que tens muito jeito, embora também acho que esta é uma historia que podia ter sido real e não apenas de ficção.

parabéns.

:)

Mariavaicomasoutras disse...

Leio em ti o prazer e o empenho pela escrita. Conheço a Rosa de que falas, a história contada e recontada com analogias. O final revela uma nova etapa que poderás desenvolver sobre o filho que a Rosa abraçou e os eventuais netos da Rosa, passados que foram os anos entre 1975 e 2014. Concluo referindo que o medo da mudança é muitas vezes percursor de um futuro sem futuro.

Bell disse...

Rosa sofreu demais, mas não tem sofrimento que perdure a vida inteira.

bjokas =)

Laura Santos disse...

Eu gostei da história, Elvira. Uma história bem contada, com reviravoltas que também tiveram a ver com os acontecimentos da altura, bem situada por isso no espaço e no tempo.
E o final acabou por ser positivo , o que para uma mulher com o sofrimento da Rosa, foi bonito que assim fosse.
xx

Edum@nes disse...

Terminou bem, ainda bem, sem ditaduras, nem fascista, nem comunistas. As ditaduras são inimigas do povo. Daquele povo que trabalho para o grande capitalismo explorador desse mesmo povo, cujas as leis são a seu favor. Ainda hoje há quem sofra das feridas não saradas da ditadura Salazarista.
Também sou retornado, vindo de Nova Lisboa - Angola, país que recordo com saudade, cheguei ao aeroporto de Lisboa, com a minha mulher, duas filha, a minha sogra, Deus a tenha lá em paz, e duas cunhadas irmãs de minha mulher, no dia 14 de Setembro de 1975. Ao contrário de algumas pessoas não tenho razão de queixe, ninguém lá me tratou mal, nem eu tratei mal ninguém. Quando para lá fui, em Maio de 1968. Levei uma mala. Quando retornei trouxe muito mais!

Vivamos nós, viva Portugal, viva a liberdade, abaixo a ditaduras!

Boa terça-feira, um abraço amiga Elvira.
Eduardo.

Emília Pinto disse...

Parabéns, Elvira e muito obrigada pelos belos momentos passados a acompanhar os infortúnios da Rosa, infortúnios que conheço bem, pois vivi nessa época e tive o meu irmão e o agora marido na Guiné ao mesmo tempo.Gostei muito e, como prova, gostaria de te dar uma sugestão que já foi dada antes, por que não continuas a vida de Rosa, através de um dos filhos? Bem...o que importa é que nos proporciones mais contos, certo? Beijinhos e até breve.
Emília

Rogério G.V. Pereira disse...

...e ainda andam por aí Rosas destas, ora felizes, ora tristes, com a ingenuidade e o medo à flor da pele...

Se gostei? Vou perguntar à... Rosa

:))

esteban lob disse...

Gran historia, Elvira. Muy humana, con destellos de gran ternura y cambios impensables de capítulo en capítulo.

Pedro Coimbra disse...

Gostei muito.
Até porque foi um pouco como "Conta-me como foi".
Fez reviver um período conturbado da nossa História recente que não deve ser esquecido.
No bom e no (muito) mau.

José Lopes disse...

Enfim a Rosa encontrou a felicidade...
Cumps

António Querido disse...

Gostei muito da história da Rosa, vivi esses tempos, esta história poderia ser verídica, todos vivemos a LIBERDADE com alegria, uma liberdade que transportou com ela grandes corruptos, sem um pingo de amor à pátria, se a história continuasse, contaria naturalmente a continuidade do sofrimento dos filhos da Rosa, para poderem viver no seu país!

Com aquele abraço.

Luis Eme disse...

acaba muito bem esta história, que também é de Liberdade...

abraço Elvira

RENATA CORDEIRO disse...

Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe.
Gostei muito da Rosa.
Beijo*

Vitor Chuva disse...

Olá, Elvira!

Tudo está bem quando acaba bem, e finalmente a Rosa encontrou um pouco de felicidade na vida.Como tanta outra gente à altura, receosos de que por cá tudo pudesse acabar mal...

E a história, como sempre, está muito bem contada.Como se diz lá na minha terra,a Elvira percebe da poda...

Abraço
Vitor

Unknown disse...

Aqui costumam dizer:
-Rosa foi uma mulher de armas e não se deu por vencida.

Zé Povinho disse...

Tempos em que a felicidade atingiu muitos e em que muitos viram a sua vida de muitos anos desfeita. A Rosa estava entre os primeiros, eu estive entre os outros, mas com força e muita vontade foi um recomeçar...
Abraço do Zé

Olinda Melo disse...


Um final feliz, com a vida a organizar-se e a família ao pé. Mudanças operadas no país e a fé em dias melhores.

Parabéns, Elvira, por esta história que abrange grande parte da sociedade.

Bjs

Olinda

Existe Sempre Um Lugar disse...

Boa tarde, Gostei muito da Historia que foi real para milhares de pessoas, quando acaba uma guerra com interesses económicos para meia dúzia de famílias e empresas privilegiadas, todos ficam felizes, a rosa não fugiu à regra.
tenho acompanhado todas as boas historia que tem partilhado, consegue envolver, como se fizesse parte dela os leitores.
AG

lis disse...

Ah Elvira eu li com tanto gosto e adorei!
Uma linguagem correta bonita e cheia de emoções,
Espero outros contos , sou sua fã.
grande abraço

chica disse...

Voltei pra dizer que teu PEDACINHO ficou lindo! bjs, chica

Silenciosamente ouvindo... disse...

Eu gostei imenso. A amiga através
desta história percorreu um bocado
os acontecimentos do nosso país,
através da personagem principal.
Acompanhei estes últimos 40 anos
de Portugal com alegria e tristeza. Sei o que é viver com
inúmeras dificuldades - os meus
pais - não eram ricos, e portanto
sei o que é a vida de um operário.
A amiga escreve bem e descreve
muito bem com ligação bem articulada.Portanto venha a próxima.
Desejo-lhe um bom fim de semana.
Bj.
Irene Alves

Andre Mansim disse...

Eu gosto muito do seu jeito de situar seus contos na história de Portugal e do mundo! Sinto que vc gosta de um período histórico, vivido mais intensamente pelo seu pai. Isso é muito legal.
A gente pode até ver as imagens e imaginar as situações da época.
Muito bom, mais uma vez, muito bom!

Lilá(s) disse...

E agora sim, gostei deste final bem feliz!
Bjs

Zilani Célia disse...

OI ELVIRA!
EU AO MENOS ADOREI.
ACHEI A HISTORIA DE ROSA, MUITO REAL E ACHO QUE O FINAL LHE FEZ JUS,APÓS TANTO SOFRIMENTO UM POUCO DE PAZ PARA SEU CORAÇÃO.
PARABÉNS ELVIRA, TEUS CONTOS SEMPRE ME ENCANTAM.
ABRÇS


http://zilanicelia.blogspot.com.br/

São disse...

Ainda bem que Rosa chegou a ser feliz!


Parabéns pelo conto.


Boa semana, beijinhos

Berço do Mundo disse...

Depois de uma vida tão conturbada, a Rosa bem que merecia uma velhice sossegada... a minha mãe chegou em 1976, uma de tantos milhares de retornados, sem nada a que pudesse chamar de seu, excepto as filhas, uma dela bebé recém-nascida (eu).
Obrigada por ter partilhado a estória da Rosa.
Um beijinho, uma doce semana
Ruthia d'O Berço do Mundo

Teresa Brum disse...

Gostei e muito e deste final feliz que a Rosa tão mereceu.
Um abraço cara amiga e parabéns pela lindo conto.