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31.5.22

POESIA ÀS TERÇAS - JAIME PORTELA - O COMBOIO DA UTOPIA

 




O comboio da utopia


Tecendo a maré, deambulamos
pelas nossas fantasias
a colorir sonhos de nuvens.
Embriagamo-nos
nos vapores de uma ilusão,
à chuva de um sorriso
num comboio com o freio nos dentes.
Pegamos numa estranha mão
e já o abraço é conhecido,
com o comboio, desgovernado,
a fugir-nos fora dos carris.
Inebriamo-nos com a aparência
de um sol, com o cérebro enganado
a apitar de alegria que nem um desalmado.
Navegamos nas águas
dos nossos devaneios
ao comando de um barco sem leme.
Afundamo-nos dentro do sonho
e caímos redondos, enganados,
sucumbimos ao naufrágio,
perdemos o pé na maré que tecemos.
Pouca terra, pouca terra,
será sempre pouca a terra firme
nos carris do comboio da utopia.


Jaime Portela  vive AQUI

30.5.22

MEDO DE AMAR - PARTE XV

 

-Claro, mas ser professora é a minha vocação desde sempre e quando nós fazemos o que gostamos é muito gratificante, - respondeu Laura.

- Bom, agora que isto já está entendido, vem conhecer o gabinete do doutor, - disse Diana levantando-se.

Atravessou a sala de espera, onde além de meia dúzia de cadeiras se encontravam uma mesa de jogos didáticos infantis e outra com revistas da atualidade e uma pequena estante com livros infantis e juvenis. De seguida abriu a porta em frente e Laura observou o amplo gabinete no qual havia uma estante com vários livros de medicina e psiquiatria, uma secretária de carvalho com uma cadeira de couro de frente para a porta e do lado contrário, duas cadeiras com estofo também em couro. Junto à janela uma marquesa e ao lado uma cadeira.

Laura aproximou-se da secretária sobre a qual estava uma moldura clássica com uma fotografia de Fernando com Gonçalo e ela entre os dois.  Pegou na moldura e ficou olhando a fotografia recordando-se perfeitamente de quando foi tirada. Ali ela tinha dezassete anos, acabara o Curso Secundário. Fernando e Gonçalo já estavam na Universidade.

-És tu, não és? – perguntou Diana

-No dia em que terminei o Secundário – respondeu

-Namoravas com ele?

- Não que ideia! Fernando era para mim como um irmão. Desde que me lembro sempre o vi lá por casa, juntamente com o Gonçalo. Os pais dele e os meus eram vizinhos, e ele que não tinha irmãos, passava mais tempo na minha casa, que na sua.

- Desculpa se cometi uma gaffe, mas a maneira como ele olha para ti, e a sua expressão, é de um apaixonado, não de um irmão. E eu sempre pensei que era a pessoa que estava na foto, a causa de ele nunca ter tido um relacionamento sério, - disse Diana.

- Não, não pode ser. Ele teria dito alguma coisa, nós éramos muito amigos, não tínhamos segredos e até conhecer o meu falecido marido, nunca nos separámos.

-Bom, deves ter razão. Talvez tenha sido o meu lado romântico que inventou essa história.

Laura poisou a foto sobre a mesa, ao lado do computador portátil que estava ligado a uma impressora instalada numa pequena mesa do lado esquerdo da cadeira.

-Bom, - disse Diana dirigindo-se para a porta.  Está na minha hora de almoço, vou fechar a clínica. Reabro às três horas. A primeira consulta está marcada para as três e meia. Vens de tarde?

- Não sei, se poderei vir, não falei nada com os meus pais. Eles estão cá esta semana, pedi-lhes para tomarem conta do meu filho Miguel. E, à tarde, têm que ir buscar a minha filha e a prima à escola. O doutor tem consultas amanhã à tarde?

-Tem todos os dias, de segunda a sexta. De manhã é que só tem às terças e quintas.

- E amanhã é quinta feira. As minha filha e a prima, têm aulas até às cinco.  Vou falar com os meus pais e talvez possa vir de manhã e de tarde até às quatro e meia. E quando sair passo pela escola e levo as meninas.

Pegou na mala e dirigiu-se para a porta

-Queres boleia, ou tens o teu carro? – perguntou encaminhando-se para a saída.

-Só vou fechar a porta. Trouxe almoço e fico a descansar as pernas na marquesa do doutor. Este barrigão dá-me dores nas costas e nas pernas, que é um caso sério, - respondeu Diana.

-Então até amanhã, - disse Laura, e  abrindo a porta saiu para a rua

29.5.22

HUMOR AOS DOMINGOS


 A certa altura o filho diz ao pai: 
- Oh pai posso fazer amor com a filha do vizinho? Só estou a pedir a tua opinião. É que foi ela que mo pediu. 
O Pai responde: - Filho, não podes porque ela é tua irmã.
 A mãe que entretanto ia a passar, ouviu a conversa, responde para o filho: 
- Não te preocupes filho. Podes fazê-lo à vontade, porque tu não és filho do teu pai!


                                                **********************


O Juiz pergunta à prostituta:

"Então quando é que se apercebeu que tinha sido violada ?

A prostituta respondeu, limpando as lágrimas :

"Quando o cheque foi devolvido !!!"


                                              ************************


Um artista pergunta ao dono de uma galeria se alguém se mostrara interessado nos seus quadros.
O dono responde-lhe:
- Tenho boas e más notícias...
- Dê-me as boas primeiro!
- Bom, as boas são que que eu disse a um cliente que quando você morrer os seus quadros vão triplicar de valor e ele comprou-os todos.
- Ena! Mas isso é ótimo! Então e as más?
- As más são que o cliente era o seu médico...


                                             **********************




Um velhinho viajava sentado no banco da frente do autocarro; sempre que o veículo fazia uma curva ele também o acompanhava, virando para o lado. Nessa altura, as crianças que vinham da escola e enchiam o autocarro gritavam:
- Segura o avô, segura o avô!!!
Nesse momento toda a atenção se voltava para o velhinho e rapidamente alguém o ajudava, colocando o velho na posição certa novamente.
O autocarro fazia outra curva e lá ia o velhinho todo torto, de novo. E as crianças gritavam outra vez:
- Segura o avô, segura o avô!!!
E aparecia sempre um voluntário para posicionar o velhinho no banco mais uma vez.
E assim continuou a viagem inteira, até que lá pela décima vez quando berraram :
- Segura o avô, segura o avô!!!
O avô implorou:
- Ahh! Meus filhinhos, deixem o avô, ao menos uma vez, soltar um peidinho...


                                               **********************


Um pai passeava com a sua filha quando vê um burro deitado com a pila de fora e pergunta ao pai:
- Pai o que se passa com aquele burro?
- Aquele burro está doente, minha filha.
- Está bem, diz a menina conformada.
No dia seguinte a menina passa pelo mesmo burro desta vez acompanhada pela mãe e diz toda confiante:
- ÓH mamã aquele burrito está doente!!
- Quem te disse tal coisa?
- Foi o papá.
Diz a mãe:
- Tomara o teu pai ter metade daquela doença minha filha!!


                                                   *******************


Na sala de aula, a professora pergunta aos seus alunos:

— Quem sabe dizer qual é a pessoa mais rápida do mundo?

— É o Schumacher! — diz o Pedro.

— É o Alonso! — diz a Maria.

 Começam todos a rir. 

Eu sei a resposta! — grita o Joãozinho, com convicção — A pessoa mais rápida do mundo é a minha tia! 

A tua tia? — pergunta a professora, espantada — Por quê? 

— Quando ela se pesa na balança, ela vai dos zero a cem em menos de um segundo!

27.5.22

MEDO DE AMAR - PARTE XIV


Laura conversou com a mãe, que se mostrou radiante por ela ter aceitado a proposta de Fernando e afirmou cuidar do neto, enquanto ela estivesse ausente.

Assim, pouco depois das nove ela chegava à clínica do psiquiatra e apresentava-se à sua assistente, que não se mostrou surpreendida pois um telefonema do chefe logo de manhã, tinha-a avisado.

Diana era uma jovem morena de estatura mediana, de olhos castanhos e sorriso fácil. O cabelo curto, era igualmente castanho, embora mais claro que os seus olhos. O seu enorme ventre, mostrava que devia estar muito perto do final da gravidez e fazia com que a jovem parecesse mais baixa do que realmente era.

Quando sorria, duas covinhas apareciam no seu rosto que parecia iluminar-se.

Laura gostou imediatamente dela.

- Já era tempo de que o doutor se decidisse a arranjar alguém para me substituir – disse. Mais um pouco e eu entraria de baixa e ele ver-se-ia na contingência de ter que ser ele a explicar o serviço. Podes ir buscar uma cadeira à sala de espera, para te sentares aqui ao pé de mim?

- Claro.

Laura fez o indicado e logo que se sentou, disse:

-Não pareces surpreendida por não vir de nenhuma agência temporária.

-Não. O doutor detestava ter de o fazer. Ele gosta de trabalhar com alguém conhecido, sente-se melhor. E eu sabia que ele te queria aqui, desde que o teu irmão lhe contou que querias regressar ao trabalho, mas não tinhas conseguido vaga numa escola aqui na cidade.

-Conheces o meu irmão?

- Como não? Os dois são tão amigos que quando comecei a trabalhar aqui, e o doutor Gonçalo passava quase sempre aqui no fim das consultas, pensei que eram irmãos. Foi há anos, o chefe já tinha a clínica e alguns clientes, embora na altura ainda fizesse serviço no Hospital de S. José.  O teu irmão tinha acabado o curso e estava a estagiar no hospital de Santa Maria. Segundo me disse deveria ter acabado o Curso mais cedo, mas um grave acidente de moto, interrompeu-lhe os estudos.                                  

Quando acabou o estágio, o teu irmão foi para um hospital no Porto, o chefe decidiu encerrar a clínica e foi para Londres, onde esteve dois anos, num hospital. Ele era na altura um homem muito amargo, eu só o sentia mais alegre, quando o teu irmão o visitava. Bom, vamos então começar?

- Claro, foi para isso que vim, - disse Laura embora tivesse gostado que Diana lhe continuasse a falar de Fernando. Na verdade, ela perdera todo o contacto com ele quando casara e viera viver para Lisboa. Na altura, ele já tinha terminado o curso, e embora já estivesse em Lisboa, ela tinha-lhe perdido o rasto.

- Aqui atrás de mim, está o ficheiro onde se guardam todas as fichas dos clientes por ordem alfabética. O chefe não usa estas fichas, ele escreve tudo no computador. Depois que as consultas acabam, tens que transcrever tudo para as fichas do doente. Isto porque pode haver uma falha do sistema, e sem uma ficha atualizada em papel, ele não teria acesso aos dados do doente.

 É a velha história, os computadores são rápidos e eficientes, mas quando o sistema falha o que salva qualquer negócio, são os registos em papel. Quando fazes a inscrição, se for a primeira vez, abres esta gaveta, tiras uma ficha destas e preenches com o nome e idade do doente. Se já é doente é só procurares no ficheiro.

- Não parece difícil.

-Nada. Tenho a certeza que é bem mais difícil preparar uma aula nova todos os dias.

25.5.22

MEDO DE AMAR - PARTE XIII


Quando Fernando chegou para levar as crianças à escola, já se tinha decidido.

- Bom dia! -saudou ele

- Bom dia, - respondeu. Entra, vieste mais cedo, hoje. As meninas estão a acabar o pequeno-almoço. Queres beber um café, enquanto esperas?

-Aceito, obrigado. Tenho uma notícia para a Matilde.

- Aconteceu alguma coisa? Tiveste notícia dos noivos? - perguntou assustada enquanto fechava a porta atrás dele que já se encaminhava para a cozinha.

- Não, descansa, não é nada grave. O Sérgio ligou-me ontem à noite. A Sofia tinha acabado de dar à luz um rapagão com quase quatro quilos.

- Meu Deus, outro menino. E ela tinha tanta esperança que desta vez fosse uma menina.

- Queres dizer que eles não sabiam que era um menino? Ela não fez ecografias?

- Fez. Mas o bebé estava sempre em má posição e o médico nunca conseguiu ver. E toda a gente lhe dizia que quando é assim, é menina! Deve ter sido uma desilusão.

-Pois ele pareceu-me muito feliz, quando me deu a notícia.

- E tenho a certeza que a Sofia também estará. Na verdade, o desejo de qualquer mãe ou pai, é que o seu bebé seja perfeito e saudável.

Tinham parado no corredor, e preparavam para entrar na cozinha quando Matilde saiu, seguida da prima.

-Olá! Que fazem vocês aí a bichanar no corredor? Aconteceu alguma coisa com os meus pais? – perguntou preocupada.

-Não, - respondeu a tia. O Fernando estava a contar-me que o teu tio Sérgio lhe ligou, a informá-lo de que já tens mais um primo.

- Outro rapaz? Coitada da tia Sofia! Queria tanto uma menina! Bom, tio Fernando, esperas um pouco, enquanto nós vamos lavar os dentes e buscar as mochilas?

- Claro Matilde não te preocupes. Enquanto isso vou aceitar o café que a Laura me ofereceu. Temos tempo, eu hoje vim mais cedo.

Enquanto elas se dirigiam à casa de banho, os dois entraram na cozinha. Laura tirou do armário uma chávena que encheu com o aromático café e colocou-a na mesa em frente dele.

-Bebes só o café, não queres comer nada?

- Não, obrigado!

- Tens consultas de manhã?

-Não. Vou ter uma vídeo conferência com outros psiquiatras de várias partes do mundo, sobre o desenvolvimento de novas doenças mentais e quais as melhores terapias. Porquê?

- Porque decidi aceitar a tua proposta, e tencionava ir esta manhã ao teu consultório, se os meus pais ficarem com o Miguel.

-Mas é claro que podes ir na mesma. A Diana está lá e põe-te ao corrente de tudo. Fico muito feliz com a tua decisão. Custava-me ter de recorrer à empresa de trabalho temporário, e ter que trabalhar com uma desconhecida.

Naquele momento as duas adolescentes apareceram à porta da cozinha.

-Já estamos prontas, tio Fernando. Podemos ir quando quiseres.

Ele levantou-se e encarou-as.

- Claro, quando eu ganhar o meu beijo das duas princesas.

Rindo elas beijaram-no, e depois fizeram o mesmo com Laura e os três encaminharam-se para a porta da rua, seguidos pela dona da casa.

-Juizinho, - recomendou-lhes antes que entrassem no carro. Elas voltaram-se e atiram-lhe um beijo na ponta dos dedos entrando no veículo em seguida e fechando a porta.

Logo de seguida o carro arrancou suavemente. Laura ficou na porta até vê-lo entrar na estrada e desaparecer. Só então fechou a porta e voltou à cozinha.

 

24.5.22

POESIA ÀS TERÇAS - DIVA CUNHA

Em casa sozinha

Em casa sozinha
para matar meu desejo
leio poesias
não beijo
Me masturbo
e me contorço
leio poesias
não ouço
a voz
onda da pele clara
que aflora
sobre meus ossos
Em casa
entre coqueiros e arcos
ouço o desejo e passo
pelo fim do meu desejo
portas adentro atravesso
prendo sonhos entre paredes
minhas mãos prendem nos versos
os meus desejos inda verdes.


Diva Cunha


Biografia DAQUI





   Nascida em 10 de dezembro de 1947, em Natal, (RN), Diva Cunha está se revelando uma das principais poetas da contemporaneidade. Formou-se em Letras, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e fez a pós-graduação na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, defendendo a dissertação Dom Sebastião: a metáfora de uma espera. Foi professora de Literatura Portuguesa no curso de Letras da UFRN, até aposentar-se, e, atualmente, faz o curso de doutorado na Universidade de Barcelona, e integra os quadros da Universidade Potiguar, onde ensina História da Literatura do Rio Grande do Norte e Cultura Brasileira, temas que se tornaram objeto de inúmeras pesquisas.
Seu primeiro livro — Canto de página — revelou uma poetisa madura, com extrema capacidade de manejo do verso e com uma dicção própria. Os seguintes — Palavra estampada e Coração de lata — reforçam a noção de uma poética que trabalha a emoção e a razão, tentando atingir o equilíbrio possível entre elas. Seus principais temas poderiam ser assim resumidos: a poesia, a cidade, a mulher.



23.5.22

MEDO DE AMAR - PARTE XII

 


Rolou na enorme cama de casal. Quim fora um homem muito apaixonado e talvez porque durante dez anos experimentara as delícias do amor, para ser sincera consigo própria sentia a falta de um companheiro.

Afinal tinha trinta e três anos, era uma mulher jovem e saudável, o seu corpo sentia a falta das carícias de umas mãos e uma boca apaixonada.

Sabia que Fernando a desejava, tinha-o lido nos seus olhos há quase dois anos e por isso mesmo o afastara. Quim tinha falecido há meio ano, ela sentira-se ofendida, como se estivesse a atraiçoar a memória do marido.

Agora Gonçalo tinha-lhe pedido para ele levar as meninas à escola e isso obrigava-a a uma convivência que a estava a desorientar.

Depois havia aquela proposta de emprego temporário. E ela ficara desgostosa ao não conseguir vaga para lecionar naquele ano letivo. Não que ela precisasse de emprego para viver, felizmente a sua situação económica, não era problema. A casa estava paga, e tinham recebido uma herança razoável quando a tia-madrinha de Quim morrera, além das próprias economias do casal. Podia continuar em casa, mas agora que o filho ia entrar na creche a solidão ia ser ainda maior.

Pensando nisso, aquele emprego podia ser uma boa ideia. O pior é que desde que voltara a ver Fernando, todos os dias, e especialmente depois das conversas trocadas, ela sentia-se cada vez mais inquieta na presença dele e receava que essa inquietação aumentasse com a convivência diária no consultório.

Todavia sabia que o psiquiatra tinha fama de ser um dos melhores profissionais da cidade, logo ele não iria misturar os seus possíveis desejos com o trabalho.

 Devia ou não aceitar a proposta de Fernando?  Bom o melhor seria aproveitar os dias que os pais estavam lá em casa, para ir até à clínica, falar com a sua assistente, saber em que consistia exatamente o seu trabalho, ver se o horário era compatível com ir buscar o filho à creche, enfim pesar todos os prós e os contras e só então tomar uma decisão.

Por fim, cansada, acabou por adormecer.

Apesar de ter adormecido tarde acordou um pouco antes do relógio despertar. Saltou da cama, abriu a persiana e olhou a rua, que não obstante a hora matutinal. já fervilhava de gente que passava apressada, decerto rumo aos seus empregos.

Retirou da comoda um conjunto de roupa interior e do armário, umas calças de ganga e uma T-shirt azul, que levou para a casa de banho, onde procedeu à higiene pessoal vestindo-se em seguida.

Antigamente quando o irmão vinha buscar a sobrinha para a levar à escola, sempre a encontrava de pijama e robe, mas agora parecia-lhe que receber assim o amigo, não seria próprio e daria ideia de uma intimidade que a afligia.

Foi para a cozinha e deu início ao novo dia preparando o pequeno almoço para a filha e sobrinha.

 

22.5.22

HUMOR AOS DOMINGOS





Vai um padre a passear pela rua, e vê três jovens a discutir e prestes a se zangarem. Numa tentativa de acalmar os ânimos, aproxima-se e pergunta a um:
 - Como é que tu te chamas?
 - João.
 - Então anda aqui e beija-me a mão. - Diz o padre, e vira-se para outro:
 - E tu como te chamas?
 - André.
 - Então anda a qui e beija-me o pé.
 E o terceiro começa a fugir.
  - Ei, aonde vais, anda aqui, como é que te chamas. - Grita o padre.
  - Não, não, - grita o outro já longe - eu chamo-me Ramalho.


                                    *****************************


Um homem vai ao médico:
-Doutor o problema que me fez consulta-lo é que tenho graves tendências suicidas e não sei como lidar com isto. O que é que eu faço?- pergunta. Ao que o médico responde:
Em primeiro lugar, pague a consulta.


                                             ************************


Uma mulher vai ao ginecologista  muito preocupada:
 - Sr. Doutor, quando eu era solteira tive que abortar 6 vezes. Agora que casei, não consigo engravidar. Qual será o motivo?
Responde o médico depois de a examinar:
 - O seu problema é muito comum. O problema é que a senhora não reproduz em cativeiro

                                 ***************************

A beata e piedosa Mª Antónia ia pela rua quando se cruzou com o sacerdote maduro.
 O padre disse-lhe: - "Bom dia. Por acaso vc não é a Mª Antónia, a quem casei já há dois anos na minha antiga diocese?" 
Ela respondeu: - "Efetivamente, Padre, sou eu". 
O sacerdote perguntou: - Mas não me lembro de ter batizado um filho seu. Não teve nenhum?" 
Ela respondeu: - "Não Padre, ainda não." 
O padre disse: - "Bem, na próxima semana viajo para Roma. Por isso se vc quiser, acendo lá uma vela por si e seu marido, para que recebam a bênção de poder ter filhos." 
Ela respondeu: - "Oh Padre, muito obrigada, ficamos ambos muito gratos.
 " Alguns anos mais tarde encontraram-se novamente.
 O sacerdote ancião preguntou: - "Bom dia Mª Antónia. Como está agora? Já teve filhos?" 
Ela respondeu: - "Óh, sim Padre, 3 pares de gémeos e mais 4. No total 10!" 
Disse o padre: - Bendito seja o Senhor. Que maravilha. E onde está o seu marido? - "Vai a caminho de Roma, a ver se apaga a p**a da vela"


                                              *************************



Num autocarro um casal de namorados sentam-se num banco e a mãe dela senta-se num outro mais à frente.

Quando o revisor chega ao pé dela para lhe cobrar o bilhete, diz a filha:

- Oh mãe, não é preciso que o Mário já tirou os três!

O condutor olha pelo retrovisor para a rapariga (que por acaso era boa como o milho) e respira fundo:

- Ah grande Mário!


                                                 **********************



Um belo dia, a Catarina, uma bela e inocente jovem de 15 anos convida o Pedro, seu primeiro namorado da mesma idade a ir jantar a sua casa e pedir a seus pais autorização para namorar com ela. E com os desejos carnais à flor da pele diz ao Pedro que essa noite será de amor e sexo logo após o jantar, quando os pais saírem...... 

O Pedro excitado e para se precaver vai à Farmácia em busca de preservativos e apesar de ainda ser virgem e inexperiente, compra uma caixa de preservativos Familiar(24 unidades) e responde ao Farmacêutico que tem muita pujança, rodagem e que vai "comer" mais uma menina nessa noite....

À noite, ao chegar a casa da Catarina é recebido por esta de forma efusiva e segue para a mesa de jantar onde se encontram já os pais. Após sentar-se o Pedro oferece-se para dar as Graças pela refeição que iam tomar e baixando a cabeça começa a rezar intensamente.... 

Passam uns minutos e o Pedro continua a rezar e cada vez mais intensamente...... Após 10 minutos de constante reza, a Catarina algo intrigada, murmura  entre lábios

-Não sabia que eras tão religioso!

O Pedro, sem abandonar a posição de respeito, diz:

-E eu não sabia que o teu pai era o Farmacêutico!!!!

20.5.22

MEDO DE AMAR - PARTE XI


Depois Fernando levantou-se e aproximou-se de Laura que se encontrava de costas, olhando através da janela da cozinha.

- É verdade o que a tua mãe disse. Ainda tens as mensagens do teu marido no telemóvel?

-Não. Mas tive-as durante muito tempo e ouvia-as, sim. Ajudaram-me a passar os tempos mais críticos quando me custava a crer que nunca mais o veria. Tu não sabes o que é amar uma pessoa de corpo e alma e de um momento para o outro perdê-la.

- Não, - disse ele com voz rouca, - mas sei o que é amar assim, alguém que nunca me amou. A gente não vive, sobrevive.

E dizendo isto virou-lhe as costas e foi-se embora, deixando-a  sem palavras.

 Laura fechou a porta e regressou à cozinha, pôs a loiça na máquina, e limpou a mesa. De seguida dirigiu-se ao quarto da filha para o limpar, tentando  esquecer-se do que Fernando lhe tinha dito, mas por mais que se ocupasse das tarefas domésticas, não  o conseguiu.

Claro que os pais, principalmente a mãe, também não ajudaram nada. Ela amava os pais, mas estava desejosa de que eles voltassem para casa e a deixassem em paz.

Nunca um dia lhe parecera tão longo. E quando finalmente chegou a hora de se deitar, e se recolheu ao quarto, continuava com mil ideias contraditórias na cabeça.

Tomou banho, vestiu o curto pijama de seda, lavou os dentes e dirigiu-se para o enorme leito onde todas as noites se perdia de saudade. Antes, porém, pegou na moldura com a foto de Nuno que tinha em cima da cómoda e acariciou o seu rosto, enquanto murmurava.

-Sinto-me tão perdida sem ti. Toda a minha família insiste em que te devo esquecer e seguir em frente, procurar um novo amor, dar uma figura masculina ao nosso filho, que não chegaste a conhecer. Sei que o Fernando Novais, aquele nosso amigo de infância, que andava sempre com o meu irmão, me ama, toda a gente o sabe na família, embora eu só o tenha sabido, muitos meses depois da tua partida. Não que mo tenha dito, mas li-o nos seus olhos e por isso o afastei, renunciando a todo o apoio que como psiquiatra me podia dar. Mas agora que o Gonçalo encontrou a mulher da sua vida, casou e foi de lua de mel, pediu-lhe para ele me ajudar com as crianças, vejo-o todos os dias.  

Fez uma pausa enquanto se sentava na cama, com a foto nas mãos e os olhos rasos de água

- A nossa menina, está uma mulherzinha, tão linda e estudiosa que terias orgulho dela. O Miguel é um menino lindo, mas um pouco rebelde. Os meus pais insistem em que ele precisa de uma figura masculina.  E sei que o Fernando seria bom com as crianças, e elas gostam dele. Não quero trair a tua memória, mas não sei que fazer, deixaste-me tão sozinha.

Pousou os lábios delicadamente sobre a foto como se beijasse o rosto do falecido, e de seguida pousou a moldura de novo sobre a cómoda.

Puxou a roupa da cama para trás, deitou-se e apagou a luz.  Já passava da meia-noite e no dia seguinte teria que se levantar cedo para tratar do pequeno almoço das crianças que iam para a escola. Mas não conseguia dormir. Pensava na proposta de emprego do amigo. Sabia que depois que os pais regressassem a Braga e o filho fosse para a creche se ia sentir ainda mais só do que se sentira nos últimos tempos.

18.5.22

MEDO DE AMAR - PARTE X


-Sinceramente não sei.  A minha vocação sempre foi o ensino, não sei se me vejo a fazer outra coisa. Tenho que pensar.

Naquele momento ouviu-se a campainha da porta.

-Devem ser os meus pais. Resolveram ficar comigo até que os noivos voltem da viagem de lua-de-mel.- disse Laura enquanto se dirigia para a porta.

Eram realmente Aníbal e Teresa Bacelar, os pais de Laura. Depois dos cumprimentos iniciais, a jovem disse aos pais:

- O Fernando, prometeu ao Gonçalo que levava e ia buscar as meninas à escola enquanto durasse a lua-de-mel. Voltou para me fazer uma proposta de trabalho temporário enquanto a sua assistente vai de baixa e posterior licença de parto. Já lhe disse que não seria necessário cumprir a promessa, pois com vocês cá em casa, tenho a certeza de que quererão essa tarefa para vocês.

O casal trocou um olhar rápido e foi Teresa quem respondeu.:

-Não tenhas tanta certeza disso. Já estamos na idade em que não nos apetece levantar cedo e queremos aproveitar esta semana em Lisboa para fazer algumas compras, e visitar algumas exposições, enfim aproveitar um pouco este tempo que temos de férias, coisa que não fazemos há muitos anos.

 Se o Fernando prometeu ao Gonçalo fazê-lo, é porque não interfere com o seu trabalho e nós agradecemos que continue a fazê-lo. E como agradecimento podemos depois jantar todos juntos num qualquer restaurante aqui perto.

- Por mim está ótimo, não preciso reagendar a minha agenda, pois logo que o Gonçalo falou comigo, a minha  assistente tratou disso. Além do mais, se a Laura aceitar a minha proposta e vocês cuidarem do Miguel, ela podia ir algumas horas à clínica para que a Diana lhe explique como funciona. A Diana é a minha assistente – explicou

-Eu penso que fazes asneira de não aceitares, filha. – disse a mãe. Eu sei que não teres conseguido colocação em nenhuma escola aqui perto, te deixou triste, mas não é uma tragédia, o Quim deixou-te uma situação financeira razoável e se assim não fosse, eu e o teu pai cuidaríamos para que não vos faltasse nada.

Todavia para a semana o Miguel vai para a creche, o teu irmão volta da lua de mel e a Matilde vai viver com os pais. A Sara estará na escola, e tu ficas todo o dia em casa a fazer o quê? A curtir a saudade e a chorar o dia inteiro?

- Não levo a chorar o dia inteiro, mãe. Aliás se o fizesse tenho a certeza de que o Fernando não me teria oferecido o emprego. Já lhe disse que vou pensar.

-Bom, já é alguma coisa, - disse a mãe. E voltando-se para o jovem perguntou:

-  Fernando, porque não aproveitas esta semana que estamos aqui, para ficarmos com as crianças e convidas a Laura para sair uma noite destas? Não sei mas há anos que ela não sai de casa, uma ida ao teatro, ou ao cinema, faziam-lhe bem.

-Mãe! Não acredito nisto, - gritou Laura corando envergonhada

- Não sei porquê. O Quim não vai ressuscitar, por muito que te feches para a vida e continues a ouvir as suas mensagens todas as noites. Depois, o Fernando foi criado contigo e com o teu irmão, conhece-te desde que nasceste, Não te vai fazer nenhum mal.

- Vamos amor, é melhor irmos dar uma volta, deixa que eles resolvam as coisas sozinhos, estás a constrangê-los – interrompeu o marido dando-lhe o braço e quase a arrastando em direção ao quarto.

O silêncio reinou por longos segundos após a saída do casal.


17.5.22

POESIA ÀS TERÇAS - LUÍS RODRIGUES

                                         Foto e poema de Luís Rodrigues

A minha nudez



Despi-me para mim próprio ___ 

___ no meu todo que conheço 



na contemplação das cicatrizes

compreendi o percurso do corpo 

as imensas colisões do meu corpo

os rasgões passajados

no peito as notícias do passado

no ventre a marca de várias fomes 



da fragilidade dos ossos 

nada pude apreciar

essa é a surpreendente 

resistência do oculto 

do alicerce osso mente ___ 

___ e tudo o mais vive 

ao sabor desta relação estrutural



Despi-me para mim próprio 

e o que vejo é o mapa

de um velho território quase deserto

minas abandonadas

riachos sem fio de água 

árvores de tronco seco



mas de tudo um perfume apaziguador 

e pó 

a minha nudez

em pó.


Luís Rodrigues

Brancas Nuvens negras