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16.3.20

DIVIDA DE JOGO - PARTE IX



Tinham passado à sala, onde, em cima da pequena mesa, continuava a carta de despedida de Alfredo. Sem uma palavra, Eva apanhou-a e estendeu-a ao homem. Ele leu-a, e devolveu-lha.
- Não te merecia. Um homem como ele não merece mulher alguma. Hoje, conhecendo-te, alegro-me pelo impulso que tive, naquele dia. Porque apesar de tudo, estás segura comigo. Tremo só de pensar o que te podia acontecer se tivesses caído em algumas mãos que conheço. Agora, se me dás licença, vou-me vestir e sair. Tens outras chaves, além das tuas, que me emprestes?
- Vou buscar. Estão com os documentos dele, que a polícia me entregou.
Abriu uma gaveta e retirou as chaves. Estendeu-lhas, e voltou para a sala, enquanto ele se dirigia para o quarto. Pegou num livro e tentou embrenhar-se na leitura. Vinte minutos mais tarde, André, impecavelmente vestido, bem barbeado e penteado, apareceu à porta.
-Até amanhã. Dorme bem.
-Até amanhã. Boa sorte.
Ouviu a porta a fechar-se, e ficou a pensar na volta que a sua vida tinha dado em vinte e quatro horas. No dia anterior ela era uma jovem viúva, com um bom emprego e a sua casa, que podia viver serenamente durante o tempo suficiente para fazer o luto e tentar refazer a sua vida. Agora perdera a casa, a sua auto estima fora jogada e perdida, numa mesa de casino, e até a dor do luto, fora substituída pela raiva. Estava à mercê dum desconhecido, obrigada a viver com ele durante seis meses, sem saber o que lhe ia acontecer durante esse tempo, e depois disso. 
A clínica onde trabalhava, fechava duas horas para almoço. Habitualmente, ela vinha almoçar a casa, já que a clínica ficava perto e sempre aproveitava parte do tempo para adiantar as coisas para o jantar. Nessa noite decidiu que não o faria no dia seguinte. Tinha que ir à instituição, ver a Irmã Madalena. Contar-lhe tudo o que lhe tinha acontecido, mostrar-lhe a carta de despedida do falecido. Decerto ela saberia aconselhá-la.  
E André? Que pensar de um homem que jura que nunca lhe fará mal, que consigo não corre perigo, e ao mesmo tempo se assume como um aventureiro? Barco sem rumo certo, capaz de mudar de direção ao sabor de um qualquer vento? O que fará ele com a casa, quando se cansar de Portugal? Vendê-la-à? E se assim for, poderá ela conseguir um empréstimo bancário que lhe permita ficar com a habitação? Tantas interrogações, põem-lhe a cabeça em água.
Fechou o livro, e guardou a carta na sua bolsa. Dirigiu-se para o quarto. Escovou os dentes e preparou-se para se deitar. Antes porém, fechou a porta do quarto à chave. Depois fez o mesmo à porta que comunicava com a sala de leitura. Só depois se deitou e apagou a luz.




16 comentários:

noname disse...

Dormir, deverá ser um acto descansado, e o seguro morreu de velho, por isso haja chaves eheheheh

Boa noite, Elvira

Pedro Coimbra disse...

Essa porta fechada à chave por quanto tempo??
Boa semana

cong1992 disse...

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Os olhares da Gracinha! disse...

Interrogações que por certo motivam a continuidade desta história!!! Bj

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história.

Isabel Sá  
Brilhos da Moda

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Continuo a acompanhar.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Maria João Brito de Sousa disse...

Passando para acompanhar o desenrolar da história, deixo o meu forte abraço.

chica disse...

Chavear o quarto...Precaução bem bolada! Gostei! bjs, lindo dia! chica

Edum@nes disse...

Para reler este conto, estou passando por aqui para lhe desejar um bom dia de Segunda-feira amiga Elvira. Um abraço.

Janita disse...

Seguindo os passos dos personagens, cá vou lendo com interesse.

Boa semana e um abraço, Elvira.

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Mais uma história que estou a gostar de ler e que cativa.
Tenho pena da Eva pelo momento por que está a passar.
Eu não confiaria no André e jamais dormiria naquela casa:))!!
Beijinhos,
Ailime

" R y k @ r d o " disse...

E tendo ele umas chaves da casa, será que a mulher consegue dormir descansada?
Será que ainda - se calhar só eu - existem homens tão respeitadores do sexo oposto?
Parece-me pureza a mais por parte do homem. Vamos ver até onde irão os seus - por agora - louváveis sentimentos

Vamos acompanhar a Estória
.
Uma semana feliz

Cidália Ferreira disse...

Mais um episódio interessante! :)
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Nesta senda feita de curvas e rectas
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Beijos...Boa noite! :)

João Santana Pinto disse...

Este texto começa a responder a algumas questões. Será que está mesmo segura? Ainda não sabemos. Porque razão se mantém numa casa que já não é dela? E, o que é que estará na mensagem escrita do marido?


Gostei muito deste texto, contém vários pormenores que eu gosto (a nível de escrita e de pensamento para o desenvolvimento do conto)

Abraço e boa semana

Rosemildo Sales Furtado disse...

Mistério! O melhor é aguardar os futuros acontecimentos.

Abraços,

Furtado

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

História maravilhosa, acompanhando com interesse!
Beijos!