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11.3.20

DIVIDA DE JOGO - PARTE VI



Calou-se. Eva estava confusa. O coração dizia-lhe que o homem era sincero e podia confiar nele, a cabeça lembrava-lhe que o seu coração era muito ingénuo, e já a enganara uma vez, quando a levara a confiar no marido. E enquanto ela se debatia com estas contradições, ele poisou as chaves com que abrira a porta, em cima da mesa, virou-lhe as costas e começou a caminhar para a saída.
O facto de ele pousar as chaves que ela mesma lhe entregara, fez com que a levasse a confiar nele.
-Espera – disse pondo-se de pé. - Vem conhecer a casa. Se quiseres podes mudar-te hoje. 
A casa não é muito grande. Além desta sala, temos aqui uma sala de refeições, e aqui o quarto principal. É o único com casa de banho, - disse enquanto ia abrindo as portas, para lhe mostrar os respetivos aposentos. Esta parte da casa, bem como a cozinha e a casa de banho, foi remodelada e mobilada por nós, antes do casamento. Aqui é uma salinha de leitura,  que comunica com o quarto principal e o quarto de hóspedes. Estas duas divisões, como podes ver, estão mobiladas com um estilo diferente. Clássico, os móveis são antigos, já  estavam assim, quando o Alfredo herdou a casa, da madrinha, e não lhe mexemos, em parte porque o dinheiro para a reforma não abundava, e em parte porque enquanto não viessem os filhos, não precisaríamos delas. Aqui em frente temos uma casa de banho e  a cozinha. Podes ficar com o quarto principal, eu mudo as minhas coisas para o quarto de hóspedes.
-De modo nenhum. Eu fico no segundo quarto. De certeza que posso vir hoje? Não queres mais um dia ou dois para te habituares à ideia?
- Não! Hoje, amanhã, ou daqui a um mês, a dor e a vergonha, do que aconteceu, não diminuirão. Além do mais vai ser uma festa para a vizinhança, a tua presença aqui. Parece que já estou a ouvir os comentários. "Há uma semana enterrou o marido e já meteu outro lá em casa. Se calhar foi por causa dela que ele se matou."
- Se te preocupas com isso, podes dizer que sou da família.
- De modo algum. Não me preocupa o que pensem, estou de consciência tranquila.
- Bom, como já te disse, não quero prejudicar-te.  Peço-te que me desculpes se te pareci rude à bocado. Penso que estavas à beira de um ataque de nervos e foi a melhor maneira que encontrei para te tranquilizar.  Agrada-me a casa. Os hotéis são muito impessoais. Devo dizer-te que saio todas as noites e regresso tarde. Como te disse sou jogador profissional, uma profissão noturna. Procurarei não fazer barulho, quando entrar.
- Farei o mesmo de manhã, para que possas descansar. Agora vai.
Logo que André saiu, ela foi até ao quarto de hóspedes, e trocou a roupa da cama. Depois levou toalhas limpas para a casa de banho, verificou se estava tudo em ordem, e só depois voltou à sala e pegou na carta do marido. Deu-lhe várias voltas, antes de ter coragem de a abrir.
Por fim decidiu-se. E leu.

“Querida Eva:
Deves estar muito zangada comigo. Sei que fui um canalha, traí a tua confiança, destruí os teus sonhos, pus-te em perigo, e não consigo viver com o remorso daquilo que fiz. Não te peço perdão, porque eu próprio não me perdoo. Tenta esquecer que eu existi. Só assim poderás ainda ser feliz. Adeus.”

Escondeu o rosto entre as mãos e chorou amargamente.


15 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Terra de jogo, Macau conhece muitas tragédias ligadas ao mesmo.

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história.

Isabel Sá  
Brilhos da Moda

Os olhares da Gracinha! disse...

Ai se o arrependimento matasse!!! Bj

Tintinaine disse...

Gostei da carta do suicida! Parece que uma vez na vida foi sincero!

chica disse...

Pobre Eva, só podia ficar mais triste ainda...bjs, chica

Maria João Brito de Sousa disse...

Passando para acompanhar o desenrolar da história, deixo um forte abraço, amiga.

noname disse...

Carta, curta e concisa, as verdades precisam de poucas palavras.

Bom dia, Elvira

" R y k @ r d o " disse...

Olá. Tudo caminha para acontecer um amor abrasador. Aguardemos o desenrolar da Estória com mais um capítulo

Cumporimentos

Janita disse...

A Eva livrou-se do pó e vai meter-se na poeira...acontece a muito boa gente!

Abraço e a ver vamos, como diz o cego! :)

Edum@nes disse...

Foi uma surpresa amarga,
porque, Eva nele confiou
pensando que ele a amava
pelos vistos nunca a amou!

Tenha uma boa tarde amiga Elvira. Um abraço.

Cidália Ferreira disse...

Gostei do episódio. Acho que a carta a tranquilizou!
-
Beijos. Boa noite!

silvioafonso disse...

Eva, minha Eva. Abre o olho com
esse cara. Conheço gente iguais
a ele...
Elvira, um beijo e vamos torcer
pela incauta criatura.(será?)

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Passando para colocar a minha leitura do conto em dia.
Estou a gostar.
Beijinhos,
Ailime

Rosemildo Sales Furtado disse...

Pensei que na carta tivesse algo mais. Alguma coisa com relação ao André.

Abraços,

Furtado

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Retomando a leitura! Maravilhoso este capitulo.
Beijos!