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23.7.19

LONGA TRAVESSIA - PARTE V






O homem acordou a tremer. Esticou o braço e acendeu a luz.
Quatro da madrugada. Passou a mão tremente pela testa. Há um bom tempo que não sonhava com aquilo. Será que não ia apagar nunca aquela cena da sua memória? Será que o fantasma do passado o ia atormentar toda a vida? Fugira da terra, do país, deixara para trás a vida de miséria, era um homem rico e bem-sucedido, temido no mundo dos negócios, mas onde quer que estivesse, de vez em quando o passado batia-lhe à porta para o atormentar.
Lembrava-se daquela noite como se a estivesse a viver agora. Do momento em que a vizinha entrou em casa depois de ter telefonado à polícia, da história que a mãe contou, da retirada do corpo do pai, do momento em que a mãe algemada partiu com a polícia, de ter ficado dois dias na casa da vizinha, até que os tios o foram buscar, do tempo que viveu com eles, até a mãe ser libertada, após o julgamento por ter dado como provado que não houve intenção de matar, apenas se tratara de uma acidente, provocado por um gesto de legitima defesa. Apesar disso, e porque eles não tinham dinheiro para um bom advogado, a mãe tinha aguardado julgamento em prisão preventiva durante quase três anos.
Foi nessa altura que ele jurara a si próprio que havia de ser um homem muito rico, nem que para isso tivesse que passar por cima dos seus próprios sentimentos.
Trabalhou de dia, estudou de noite. À medida que ia progredindo nos estudos, ia melhorando no emprego. Vivia com a mãe, que depois da prisão nunca mais foi a mesma. Estava sempre apática, ausente, como se a vida à sua volta tivesse deixado de ter importância. Ele sentia-se responsável pela mãe. Acreditava que era o único culpado, do seu sofrimento. Devia ter dito a todo o mundo que fora ele quem matara o pai. 
Tinha vinte anos quando a mãe morreu, Pouco depois conseguiu emprego num banco, o ordenado aumentou e passou a frequentar a Universidade à noite. Queria ser economista. E consegui-o. Ia de casa para o trabalho, do trabalho para a Universidade. Não tinha amigos, não frequentava festas. Não parou após ter-se formado.
Voltou a matricular-se e desta vez em Letras. Inglês e Alemão, eram o seu objetivo. Que ele concretizou à custa de muitas horas de sono roubadas ao corpo. E da abstenção de outros prazeres, próprios da juventude. 
Quando conheceu Teresa, tinha vinte e nove anos e um pequeno pecúlio amealhado, não só graças ao bom ordenado no banco, como ao que auferia de uma conhecida editora, pela tradução para português de obras estrangeiras, e ainda por algumas aplicações na bolsa, bem sucedidas.
Dois anos depois, pensou ter o suficiente para se lançar no mundo dos negócios, e escolheu para começar uma nova vida a Inglaterra.


Aqui termina por agora a apresentação do personagem masculino. Um homem com uma vontade de ferro para atingir os seus objetivos, mas que guarda lembranças que são feridas abertas na sua alma. Presente na sua memória a lembrança de Teresa, que através dele, vos vem acompanhando.
Curiosos? Quem voltar amanhã, vai conhecê-la


18 comentários:

noname disse...

Já marquei lugar :-)

Boa noite, Elvira

Como está a situação do seu marido?

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Estou a gostar imenso da história que tem muito enredo e deveras interessante.
Parabéns pelo seu talento.
Desejo-lhe uma noite bem descansada.
Beijinhos,
Ailime

redonda disse...

Ele parece ser uma pessoa muito só

Pedro Coimbra disse...

Um homem assombrado por um passado muito presente.
Abraço

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Um até amanhã !
JAFR

Tintinaine disse...

Há sempre uma Teresa na vida de cada um !

Maria João Brito de Sousa disse...

Cá voltarei amanhã para conhecer a Teresa, a menos que o meu remendado coração se lembre de voltar a parar...

Forte abraço, amiga.

Olinda Melo disse...


Uma vida sofrida a deste homem.

Virei saber mais...

Bj

Olinda

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Está interessante e aproveito para desejar uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Larissa Santos disse...

Bem podia ser "dores" da vida real. Adorei.Voltarei sim :))



Bjos
Votos de uma óptima Terça - Feira.

Edum@nes disse...

Mais vale ser pobre e feliz. Do que ser rico e infeliz. A quem a não tem, o dinheiro não dá felicidade. Nem tudo na vida resolve?

Tenha uma boa tarde amiga Elvira. Um abraço.

chica disse...

Estou gostando e não sei ainda se já li antes! bjs praianos,chica

Teresa Isabel Silva disse...

Gostei de conhecer este personagem! Fico à espera para saber mais!

Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram

Cidália Ferreira disse...

São cicatrizes que ficam até à morte!
Gostei!

Que tudo esteja bem convosco!

A linha que me determina
Beijos e uma boa noite!

Rosemildo Sales Furtado disse...

A História/estória promete ser muito boa. Aguardemos.

Abraços,

Furtado

Os olhares da Gracinha! disse...

Uma personalidade que promete!!! Bj

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Maravilhosa e emotiva essa história. A apresentação do personagem masculino foi divina.
Beijos afetuosos!

lis disse...

Lendo atrasada para entender tudinho,Elvira,
Vamos em frente.
beijim