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25.9.18

ENTRE O AMOR E A CARREIRA - PARTE X



 Horas mais tarde, Ricardo encontrava-se na biblioteca, que também utilizava como escritório, quando a jovem entrou.
- Bom, agora que as crianças dormem, podemos ter a tal conversa que deveríamos ter tido antes do casamento. Ainda me surpreendo como podemos chegar a esta situação, sem que eu saiba nada de ti e das crianças. Não é justo, tanto mais que tenho a certeza o relatório do teu detetive deve ter trazido até a data em que me caiu o primeiro dente.
-Foi bem detalhado, mas não chegou a tanto - disse ele com um esgar que pretendia ser um sorriso. - Por exemplo, não me disse porque terminou o teu namoro, depois de quase dois anos. Se vou ter de te confiar os meus segredos, porque não começas por me esclarecer esse ponto?
- Primeiro, porque ele não tem qualquer interferência na minha missão de educar as crianças. Segundo, não te pedi que me falasses de ti, mas delas, porque quanto melhor as conhecer, melhor será a minha relação com eles.
-Esqueces que as suas histórias estão ligadas à minha?
-Não. Mas foste tu que falaste em segredos. E eu não quero imiscuir-me na tua vida, senão naquilo que às crianças diga respeito.
O silêncio reinou na sala durante alguns segundos. Sério, Ricardo olhava-a fixamente. Ela sustentou-lhe o olhar. Por fim, ele levantou-se e aproximou-se da janela. De costas para ela, começou a falar:
Não tenho nenhuma memória da minha mãe. Era ainda bebé quando ela faleceu. Três anos depois meu pai voltou a casar, mas a minha madrasta, não gostava de mim. Tinha ciúmes, não sei se do amor que meu pai me tinha, se por lhe recordar que o meu pai já tivera outra mulher antes dela. Fez-me a vida negra, durante dois anos, até que influenciado por ela, meu pai enviou-me para casa da minha avó materna.
Clara engoliu em seco. Na voz rouca do homem, estava latente o sofrimento, que aquelas recordações despoletavam. Imaginou como teria sido a vida do seu irmão, se após a morte dos pais, ela não tivesse cuidado dele, e sentiu pena do menino que Ricardo fora.
-Na minha família - continuou Ricardo, - o filho varão sempre seguiu a carreira militar. Foi assim com meu pai, meu avô e bisavô. De modo que mal fiz o ensino primário entrei para o Colégio Militar. Não era o que eu queria, mas quem mandava era o meu pai e não havia nada a fazer.  A minha juventude não foi muito diferente da de outros da minha geração, talvez mais solitária pela falta de apoio familiar e mais rígida por causa da educação militar. Terminado o Colégio, ingressei, na Academia Militar e acabado o curso, fui integrado no exército, onde participei em algumas missões em África, mas nada de muito importante. Tinha vinte e seis anos e vivia apenas para a carreira. Contrariamente aos meus colegas, que ou estavam casados, ou iam a caminho do altar, eu nunca tinha encontrado uma mulher por quem sentisse outro sentimento que não fosse apenas a satisfação de um desejo momentâneo. Mas nessa altura, durante umas férias, conheci a Céu. Era muito  bonita, mas o que me seduziu foi a sua doçura. Apaixonei-me. Namorámos  durante catorze meses, e a ideia de nos casarmos em breve, estava a ser encarada seriamente, mas nessa altura, fui destacado para o serviço permanente da NATO, por dois anos. Decidimos protelar o casamento para o fim da comissão. Despedimo-nos com juras de amor eterno, e promessas de que íamos estar em contato diário.  Apesar dos meus quase vinte e oito anos, era tão ingénuo que ainda acreditava em amores eternos.
Parti então, mas nesses dois anos, participei em missões no Afeganistão, em lugares tão remotos, onde não havia Internet, e o correio só chegava uma vez por semana, quando o avião de abastecimento nos levava os alimentos.



15 comentários:

noname disse...

Parece que a vida do Ricardo, não lhe tem deixado boas recordações e, isso explica muita coisa.

Boa tarde, Elvira

Joaquim Rosario disse...

Boa tarde
são estes capítulos que nos levam a apaixonarmos por estas historias !!
JAFR

Maria João Brito de Sousa disse...

Ainda e sempre muito atenta à sua criatividade, Elvira.

Abraço.

chica disse...

Uma história de vida que deixou marcas nele...Gostando muito ! bjs, chica

Janita disse...

Há sempre uma forte razão por detrás de uma incompreensível decisão!
É assim em todas as vidas.

Vamos aguardar que cheguem os dias felizes, para quem já teve o seu quinhão de sofrimento.

Um abraço, Elvira.

Larissa Santos disse...

Bem, será uma grande razão para tal acontecimento... Gosto:))

Hoje » Exaltação da Natureza

Bjos
Votos de uma óptima Terça-Feira

Tintinaine disse...

Histórias de amor e traição são terreno fértil para grandes obras literárias. E parece que estamos a entrar nesse capítulo. Vamos em frente!

Meu Velho Baú disse...

És mesmo uma verdadeira romancista
Está muito bom
Beijinhos

Teresa Isabel Silva disse...

Cada vez mais focada neste enredo!

Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram

Edum@nes disse...

Ainda agora o Ricardo começou o depoimento. Clara ouviu sem interromper. Começou falando de sua infância que não terá sido um jardim só com rosa, também tinhas espinhos. Não terá terminado aqui o depoimento, o qual, certamente, continuará nos próximos capítulos?

Tenha uma boa noite amiga Elvira.
Um abraço.

Anete disse...

... Retornei e li os capítulos anteriores para ficar a par do que vem acontecendo no momento.
Um trabalho diferente o que Clara abraçou. Vai dar em romance, certamente. Vidas sofridas que se encontram para mudanças de rumos...
Um abraço, querida Elvira. Boa noite...

Cidália Ferreira disse...

Estou mesmo curiosa para saber o próximo capitulo!!


Beijos - Boa noite!

Kique disse...

Aqui continuo seguindo mais uma bela historia
Parabéns
Bjs

Kique

Hoje em Caminhos Percorridos - Ejaculação Precoce - O Problema

sandra mayworm disse...

Puxa!!!
Quando está esquentando, acaba...fazer o que? Resta esperar até amanhã.
Bjs e uma ótima noite, Elvira!

Gaja Maria disse...

Oh. Está muito dorido...
Abraço Elvira