Miguel aproximou-se. Colocou-lhe um dedo debaixo do queixo, obrigando-a a olhá-lo.
O desespero que viu no seu olhar, foi tão grande que ele sentiu uma vontade imperiosa de cuidar e proteger a jovem. Era um sentimento estranho e avassalador.
“Deve ser, assim que um pai se sente, perante o sofrimento da sua filha” - pensou enquanto a olhava.
- Não se preocupe, - disse tentando incutir nela uma tranquilidade que ele mesmo não sentia. Logo ou amanhã lembrará.Venha comigo. A minha casa não é lá grande coisa, mas nela encontrará abrigo até que se lembre de quem é e onde mora. Aqui sozinha não está bem. Este local é muito belo, mas às vezes é traiçoeiro, - disse enquanto dava voltas à cabeça, indeciso, sem saber se devia ou não contar à jovem, que meia hora antes, ele a salvara de se esborrachar no fundo da falésia.
Por fim decidiu que era melhor, seria nada dizer. Colocou a maleta sob o braço esquerdo, pegou o cavalete com a mão esquerda e estendeu a mão direita à jovem.
- Venha.
Como um autómato a jovem deu-lhe a mãe e começaram a caminhar em direção à estrada, onde Miguel tinha o seu veículo.
Aí chegado, abriu a porta do velho “carocha” e fez entrar a jovem. Depois guardou o material de pintura e sem uma palavra, sentou-se ao volante e arrancou em direcção à sua casa nos arredores da cidade.
Era uma habitação antiga, à qual se tinha acesso por dois altos degraus em pedra, ladeados por um pequeno corrimão de ferro, que já fora verde, mas que agora apresentava largos pedaços ferrugentos.
- A casa é muito antiga. Era de minha avó, foi aqui que nasceu meu pai. Este corrimão, foi posto aqui,quase no fim da vida da avó Ermelinda, para a ajudar na subida, - disse Miguel enquanto galgava os dois degraus com facilidade. Venha, não tenha medo- disse abrindo a pesada porta de madeira
A jovem seguiu-o e encontrou-se num pequeno patamar donde partiam três degraus de pedra que davam acesso à sala. Embora a casa fosse um rés-do-chão, no exterior, no interior estava quase ao nível do primeiro andar.
Subidos os três degraus, encontraram-se numa sala, com uma grade de ferro, à volta do fosso da escada.
15 comentários:
Estou a acompanhar e a gostar desta "folha em branco".
Um abraço e continuação de boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Bem me lembro desta passagem e da casa muito "sui generis" do nosso artista.
Boas férias, Elvira!!!
E lá vou acompanhando a história, embalada pelo calor que, por tardia, chegou em brasa :)
Bom dia, Elvira
Relendo e gostando! Há detalhes sempre novos! bjs, chica
Lá vai ele mais ela,
no carocha do Miguel
na bagageira leva a tela
junto dela colocou o pincel?
Tenha um bom dia de férias amiga Elvira.
Um abraço.
Bom dia
Não me canso de dizer que há cenas que parece que as estamos a viver .
vai ser mais uma historia de suspense até ao fim !!
JAFR
Já entrou no carocha, vai ajudá-lo nas pinturas!
Aquele abraço.
Impressionante a forma como escreve e relata os pormenores , estou a ler e está tudo à minha frente.
Beijinhos
Estou muito curiosa para saber as origens da moça. Oxalá ele não esteja metido em alhadas. Amei!
Beijo e um excelente dia!
Boa tarde Elvira,
Mais uma bela história cujo início já me prende.
Boas férias.
Beijinhos,
Ailime
Imagino a aflição do jovem. O facto de não saber sequer como se chama ela.. Mais um conto instigante ;))
Do Gil António. Amor: Oásis de frescura em secos areais
Bjos
Votos de uma boa noite.
Uma casa muito especial se bem me lembro...
Abraço
Quantas recordações do carocha! Bons tempos aqueles.
Bom, querida amiga, que te posso dizer se sabes o quanto me agrada a tua forma de narrar e de establecer os diálogos.
Lá me vou enganchando...
Um grande abraço
Acompanhando e amando!
Beijos!
Pormenores tão bem descritos que é uma delícia lê-los!!!bj
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