Terminaram a refeição com o café. Depois, Helena levantou a mesa, levou as loiças para cozinha e meteu-as na máquina. Voltou então para a sala, agarrou na caixa de cartão e sentou-se junto do tio. Sem uma palavra, retirou as certidões e estendeu-lhas.
Este leu-as em silêncio e devolveu-lhas.
- Eu sou filha deste Jorge Noronha, não é verdade?
-Sim.
-O meu pai morreu?
-Que eu saiba, não. Pelo menos, até há uns meses estava
vivo. Encontrei-o na Feira Agrícola de Santarém.
- Ele sabe que eu existo?
-Não. A tua mãe não lho quis dizer antes de se
divorciarem, e fez-nos jurar que nunca lho diríamos.
- A mim disse-me que não sabia quem era o meu pai. Contou-me que tinha
ido a uma festa com alguns amigos, bebeu de mais, e não se lembrava com quem
tinha dormido. Sabias, disto?
-Não. O que nos disse foi que nunca te diria quem era o teu
pai. E quando a tua tia lhe disse que não te podia esconder a verdade toda a vida,
que ia chegar a hora em que começarias a fazer perguntas, ela respondeu que
quando chegasse essa altura, inventaria qualquer coisa para te dizer. Quando a
tua tia morreu há dez anos, eras ainda uma criança e depois disso, eu não ia
fazer perguntas dessa índole, à tua mãe.
- Descubro com tristeza que não conhecia a minha
mãe. Que mulher esconde da filha, quem é
o seu pai? Que mágoa pode desculpar tal facto? Que crime pode ter cometido este
homem para que ela lhe ocultasse a minha existência? Ela contou-vos porque se
divorciaram?
- A tua mãe disse-nos que foi traída, e que nunca mais queria
vê-lo, sequer ouvir o seu nome. Foi ela quem pediu o divórcio. Parece que
surpreendeu o marido abraçado a outra mulher. O teu pai não queria o divórcio.
Jurou-me que a pessoa em questão era uma familiar, que estava a despedir-se
dele porque ia partir nesse dia. Disse
que ia ligar para essa senhora e a tua mãe falaria com ela. A tua mãe não quis
ouvi-lo. Eu sei que ela foi uma mulher de coragem, que trabalhou muito, que te
amou acima de todas as coisas. Mas a verdade é que ela não tinha um feitio
fácil, era muito teimosa e foi intransigente com o teu pai. Durante uns anos
ele manteve contacto comigo, mas eu tinha jurado à tua mãe que nunca lhe falaria sobre
ti. Tinhas três anos quando ele se casou, com uma viúva que tinha um filho com
uns nove ou dez anos. Convidou-me para o casamento e tive que inventar uma
viagem de trabalho para que a tua tia não soubesse e não fosse contar à irmã. Conversámos
um pouco e ele disse-me que tinha conhecido aquela senhora há seis meses. Penso que se a tua mãe tivesse acreditado nele, teriam os três, vivido uma vida completamente diferente, com menos dificuldades e decerto mais feliz.
Dizem que Deus escreve direito por linhas tortas. Não sei se algum dia
entenderei os seus desígnios.
- Ainda se escrevem?
- Não. Desde o seu casamento nunca mais soube nada dele
até há três meses quando o encontrei na feira de Santarém.
24 comentários:
Será que ela vai atrás do pai???... cenas do próximo capitulo
Bjs
Hoje em Caminhos Percorridos - Triste Sina
Claro que vai atrás do pai. E faz muito bem. Já estou a vê-la em Santarém à procura.
Começa o suspense!
A história tá tomando rumos bem familiares ...Quando tinha 39 anos, minha mãe me contou que meu pai não era o meu verdadeiro pai e assim por diante... Estou curiosa! beijos, tudo de bom,chica
Boa noite. Bem, eu acho que ela vai querer saber do paradeiro do pai. Tenho em mim que, na verdade, nem foi traição...Se nunca colocaram os pontos nos is. AMEI!
[ Estou sempre à espera!! :)]
Beijos.
Interessante. Decisão muito radical. Não se pode julgar os outros sem antes ter certeza dos fatos. Penso que deva ter destruído a família em vão,por falta de maturidade. Mas, acompanhemos, vamos ver o desenrolar da história.
Boa noite Elvira,
O véu já está meio destapado.
Vamos ver como vai reagir a Helena e as medidas que vai tomar.
Um beijinho e continuação de boa semana.
Ailime
Colocando em dia a leitura desse conto tão interessante...
Veremos a reação dela a partir de agora... A mãe não quis explicações, puxa! Tanta coisa poderia ser diferente se houvesse a conversa...
Bjs e boa terça-feira...
Vamos ver se tenho possibilidades de acompanhar durante as férias...
Abraço
Bom dia
penso que deve haver mais algum motivo para a sua mãe tomar uma decisão tão radical .
Haver vamos , a historia ainda está a começar.
JAFR
A passar por cá para acompanhar a história.
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Acho que ele vai tentar encontrar o pai.
Fico à espera do desenrolar da história.
Abraço Elvira
Infelizmente que não é caso único e querer saber a verdade é um direito!!!
bj
Nada melhor que ir ao seu encontro.
Um abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Vai encontrar o pai, fico à espera que seja vivo!
Abraço.
Ninguém tem o direito de privar uma criança de conhecer o pai e/ou a mãe.
Beijinho, boa semana
Gostei do episódio e acho que ela vai querer saber quem é o Pai. Oxalá depois não se arrependa :))
O meu olhar triste, reflecte no coração
Bjos
Votos de um óptima Terça-Feira
Xa imos coñecendo personaxes. Agora a ver como se enlea e desenlea a trama.
Un saúdo.
No meu entender Helena tem toda a razão. Nenhuma mãe deve esconder a um filho qual é o seu verdadeiro pai!
Tenha uma boa tarde amiga Elvira.
Um abraço.
Uma história diferente das habituais, neste espaço, e deveras interessante.
Seguirei o desenrolar dos acontecimentos...sem quaisquer manifestos, acerca da atitude da mãe obstinada, característica, essa sim, já habitual nestas personagens femininas! :)
Um abraço.
Capítulo esclarecedor, porém, deixa muitas perguntas no ar e o mistério continua.
Beijos!
Estou a gostar, vai dar uma longa história.
Bjs
Acho que ela tem o direito, e até mesmo o dever de procurar o pai, principalmente depois da conversa que teve com o tio, quando soube que o pai desconhecia a existência dela. Continuo gostando e aguardando os acontecimentos.
Abraços,
Furtado
Ainda tem muitas verdades pra ser dita.
Bjs !
Sempre com enredos interessantes e muito bem escrito. Beijo
Enviar um comentário