Esta escultura, recebe-nos na entrada do cemitério de S. Gonçalo em Lagos..
Não que esta história se passe em Lagos, mas é um bonito monumento composto por painéis. Chama-se A Passagem e simboliza exatamente isso .
A nossa passagem do mundo real da matéria, visível, para o mundo espiritual, o invisível.
Não que esta história se passe em Lagos, mas é um bonito monumento composto por painéis. Chama-se A Passagem e simboliza exatamente isso .
A nossa passagem do mundo real da matéria, visível, para o mundo espiritual, o invisível.
I
A urna desceu à terra, na presença de dois grupos
distintos de pessoas. Em tamanho e em idade. De um lado, meia dúzia de pessoas
de meia-idade. Do outro, um grupo mais numeroso de jovens, na frente dos quais
se encontrava uma jovem alta, esbelta, morena, de cabelos e olhos tão negros
quanto a roupa que tinha vestido.
Abeirou-se da sepultura, baixou-se e apanhou um punhado
de terra. Ergueu-se e jogou sobre a urna uma singela gerbera cor-de-rosa, e de
seguida o punhado de terra. Depois virou as costas e afastou-se, enquanto os
dois homens pegavam nas pás e começavam s fechar a sepultura. Não queria vê-los,
mas sentia no peito cada pá de terra que eles lançavam, enquanto lágrimas
silenciosas corriam pelo seu rosto pálido. Sentiu que alguém lhe passava um
braço pelos ombros, enlaçando-a em silêncio. Levantou o rosto e olhou o seu
tio. Era um homem de sessenta e cinco anos, mas o seu rosto precocemente envelhecido,
emoldurado por uma cabeleira totalmente encanecida, faziam com que aparentasse mais
idade.
Alberto fora casado, com uma irmã da sua mãe. A sua tia
Ana, falecera há dez anos, com a mesma doença que agora levara a irmã. O
maldito cancro.
Os homens acabaram o trabalho de sepultamento e colocaram
sobre a terra, as coroas, e demais ramos de flores. As pessoas começavam a
abandonar o local, não sem antes lhe darem um abraço e algumas palavras de
conforto, que não aliviavam a sua dor, mas que ela não deixava de agradecer.
- Vamos, querida, levo-te a casa, - disse Alberto. Já não
há nada que a gente possa fazer por ela, a não ser rezar pela sua alma.
Helena concordou com a cabeça. Tinha dificuldade em se
expressar. Começara a caminhar para o portão, mas de súbito parou e disse:
- Preciso falar primeiro com o agente funerário. Não sei
se é preciso alguma coisa mais.
-Espera aqui, vou lá falar com ele, - disse Alberto.
Voltou pouco depois.
-Ele diz, que a agência trata de todos os trâmites, com a
junta de freguesia, onde nasceu, para assinalar o óbito no registo, e com a
Segurança Nacional, para que possas receber o subsídio. Normalmente leva oito
ou dez dias até receberem a resposta, e então telefonam-te para te devolverem
todos os documentos que lhes deixaste. Agora vamos, Lena. Estás de rastos,
precisas descansar.
- Custa-me tanto voltar para casa, tio. Como é que eu vou
viver, sem ela?
-Embora agora te pareça que o mundo desabou sobre a tua
cabeça, vais encontrar forças para seguir em frente. Com tristeza, com muita
saudade, mas continuamos. Como pensas que eu vivo? Há dez anos quando perdi a
tua tia, encontrei força no teu primo para suportar a dor de ficar sem a única
mulher que amei, Pior foi há três meses, quando o teu primo morreu naquele
estúpido acidente.
- Perdoa, tio. Sou muito egoísta. Esqueci-me de que tu
também estás com o coração ferido.
- Não te desculpes querida. Eu entendo, - disse
abrindo-lhe a porta do carro.
23 comentários:
Bom dia
Esta historia vai com certeza mexer comigo , pois também eu ainda sofro de uma perda muito grande , que foi a minha companheira durante trinta e seis anos e que essa maldita doença a levou no dia oito de dezembro de 2013.
vou tentar acompanha-la , e talvez possa vir a ter uma ajuda para superar a tristeza . Quem Sabe ?
JAFR
Vou acompanhar com interesse e gostei bastante daquela escultura.
Um abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
A passar por cá para acompanhar mais uma história!
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Iniciando contigo mais uma história e pela mostrinha, será forte, emocionante e profunda... Vamos ver! bjs, chica
Todos nós temos princípio e fim, o fim é mais triste, mas temos que aceitar porque se não aceitarmos torna-se mais dolorosa a despedida.
Uma boa semana com aquele abraço.
Um conto que irá falar de vidas e começa num momento de MORTE!!!
bj
Ui este vai ser for e de muitas emoções!!!
Beijo e uma excelente semana!
Cá estou para seguir a nova história, que se inicia de modo triste, mas todos nós sabemos que há sempre um amanhã...Quem já passou por isso sabe que todo o luto tem o seu tempo.
Um abraço, boa semana.
Com um inicio diferenciado de qualquer outra história que já lhe li. Fiquei curiosa e cá estarei diariamente :-)
Boas férias, Elvira
Não gosto de funerais. Saio de fininho e amanhã volto!
Ora começamos com um funeral...Forte, mas vamos lá...
:))
Do Gil António:- Sonho de um amor inconstante
Bjos
Votos de uma óptima tarde.
Não conheço a escultura. Vou acompanhar com toda a atenção.
.
* Sonho de um amor inconstante *
A escultura é reflexiva e o novo conto começa fortemente...
Estarei acompanhando e, puxa, depois de uma manhã e início de tarde com algumas situações “desgastantes” por aqui, li o seu primeiro capítulo e fiquei mais pensativa... Coisas realistas da vida!
Vamos em frente... Bjs
Quando morre uma pessoa nascem duas. Se assim não fosse já o mundo estaria desabitado? Começa com um funeral. O fim não será feliz. Porque, a morte é triste e não felicidade!
Tenha uma boa noite amiga Elvira.
Um abraço.
Gosto deste tipo de começos!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Boa noite Elvira.
Um introdução magnífica para uma história que se adivinha intensa!
Vamos aguardar o desenvolvimento da mesma.
Beijinhos,
Ailime
Um inicio forte para mais uma historia que vou acompanhar com deleite
Bjs
Hoje em Caminhos Percorridos - Gaj@ de Mini Saia
Bom ler você. Aprendo mais sobre Portugal, terra dos meus avós maternos.
Boa semana!
Cá estamos com mais um Romance que de certeza me vai absorver
Obrigada Elvira e obrigada também pela descrição da Estátua conheço-a mas não sabia de todo o seu significado
Beijinhos
Esse conto que se expressa forte em emoções vai nos conduzir, a cada capítulo, a reflexões existenciais. E essa escultura já nos abre esse leque de reflexões sobre o mistério da vida terrena e a espiritual.
Beijos carinhosos!
Mais uma história a começar e já estou a gostar :)
Oi Elvira,
Eu não aceito a morte de crianças, mas aceito-a para velhos que sofrem muito
Beijos no coração
Lua Singular
Uma escultura bem curiosa. A história deve ser muito boa.
Bjs!
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