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14.3.18

A TRAIÇÃO - PARTE XIX




Uma hora mais tarde passeavam junto à ria. Não como um casal, mas como dois amigos conversando serenamente. Como se ambos tivessem feito um pacto secreto de passar aquele fim-de-semana em paz e harmonia. A jovem que não conhecia a cidade estava encantada, e o marido estava contente por vê-la feliz. No seu coração, morava a esperança de que, se ela se sentisse feliz, não voltaria a abandoná-lo, quando a sua mãe já estivesse curada.
- Queres dar um passeio pela ria?- Perguntou
 Ela fitou-o. Não precisou responder, os seus olhos eram demasiado expressivos.
Ele pegou-lhe pela mão e puxou-a para o cais, mesmo em frente do belíssimo edifício do Museu Arte Nova, onde se encontravam os moliceiros, uns barcos muito bonitos, cheios de cor, que outrora eram utilizados na apanha do moliço.(1)  Com as obras de reconstrução da ria, o moliço quase desapareceu, e o pouco que restou é essencial à vida da mesma. Os barcos foram então adaptados ao turismo, e esses passeios são agora o sustento dos antigos apanhadores de moliço.
Entraram num dos barcos, já com meia dúzia de turistas, prontos para o passeio. Embalada pela beleza da paisagem, ou talvez porque tenha reparado no olhar intenso com que uma mulher atraente, brindara o seu marido, Odete encostou a cabeça no peito dele, que respondeu apertando um pouco o seu corpo de encontro ao dela.
Durante o passeio, ao mesmo tempo que admiravam da ria, o belo casario que se estende ao longo do canal, todos eles, foram brindados com a prova das raivas, um biscoito fino e crocante, com sabor a canela, enrolado à mão, uma especialidade da terra,  e uma tentação dos deuses.
Quando o moliceiro regressou ao cais de partida, ambos sentiram que o passeio tinha sido demasiado curto. Era como se tivessem voltado atrás no tempo à época em que eram um casal que se amava e respirava felicidade.
Odete estava entusiasmada, queria ver tudo, e João logo prometeu que voltariam depois do jantar. Era verão as noites estavam quentes, apetecia passear, e depois, à noite, a ria transformava-se num imenso espelho, onde a margem se reflete, exibindo vaidosa luzes e sombras. Porém agora eram horas de regressar. As duas idosas, eram rigorosas com a hora do jantar.


1) Moliço, nome dado ao conjunto de algas e outras plantas marinhas, que era depois usado para adubar as terras.


19 comentários:

noname disse...

É mesmo uma linda cidade :-)
Vamos ver o que lhes traz a noite :-))

Boa tarde, Elvira

Cidália Ferreira disse...

Tinha que ser a Minha Cidade de Aveiro. Lindo... Amei este capitulo!!

Beijinhos

Os olhares da Gracinha! disse...

Tão bem descrito que até eu passeei com eles!bj

chica disse...

Gostei de passear com eles...Não entendi o biscoito das raivas...Que nome para um biscoito,rs...bjs,. chica ( Fui no google e pesquisei,.Devem ser bons!!!)

Larissa Santos disse...

Vá lá, hoje foi menos tenso :)) Adorei

Hoje:- Mãos entrelaçadas... Amor sentido...
.
Bjos
Votos de uma boa Quarta-Feira

Cantinho da Gaiata disse...

Gostei deste episódio, vamos ver o passeio da noite.
Bjs

Janita disse...

Um bonito passeio de 'namorados' que é, simultâneamente, uma alegoria à linda cidade de Aveiro e à beleza da sua Ria.

Siga a história.
O fim já está à vista...
...E que bela vista!!

:)

Edum@nes disse...

Passeando no moliceiro. Juntos Odete e João, se sentiam felizes, lá na ria de Aveiro!
Tenha uma boa noite amiga Elvira.
Um abraço.

Gaja Maria disse...

Estive a passear em Aveiro o verão passado. É de facto lindo :)

Pedro Coimbra disse...

Estou há muitos anos a dever uma visita a amigos que vivem em Aveiro.
Uma cidade encantadora.
Abraço

Joaquim Rosario disse...

bom dia
Os protagonistas estão a começar a entender-se , até porque o doutor está a usar uma estratégia muito especial para reconquistar a sua amada , e com certeza quando numa conversa mais intima se esclarecerem as coisas vai ser muito romântico.
Gosto muito de Aveiro que é uma linda cidade , mas confesso que a Costa Nova ali ao lado me deixa fascinado com aquelas casinhas pintadas de uma forma especial e comer um robalinho grelhado na esplanada de um restaurante junto á ria em dia de sol ,é algo que não se pode perder.
JAFR

_ Gil António _ disse...

Não conheço in-locco Aveiro, mas dizem ser uma cidade muito bonita. Um dia visitarei. Gostei demais de ler.
.
* Se te amar for pecado ... Então sou um Pecador *
.
Cumprimentos poéticos

Fatyly disse...

Gosto imenso de Aveiro e os barcos são de facto o ex-libris da região. Nunca andei em nenhum.

Beijos

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história.

Isabel Sá
Brilhos da Moda

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Aveiro uma cidade encantadora e com bastantes edifícios em estilo arte nova.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Um capítulo lindo com o casal, sereno, a passear.
Aprecio muito os seus apontamentos explicativos.
Beijinhos,
Ailime

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Amei esse capítulo cheio de serenidade entre eles.
Beijos!

Andre Mansim disse...

Legal, bom passeio.

redonda disse...

Gostei do passeio :)