Passaram cinco anos. E também hoje é um belo dia de Setembro. Clara acordou com os primeiros raios de sol, beijando a janela. Olhou à sua volta. Ao lado da cama, num berço de vime, o seu filho dormia o sono dos anjos. Saltou da cama, tomou banho e tratou de se embelezar um pouco. Nada de especial, que mulher de pescador, anda de cara lavada. Apenas um entrançado diferente no cabelo e um vestido mais alegre. Porque para ela, é um dia especial. Chega hoje o Gazela, um velho barco da pesca bacalhoeira, e nele, vem o seu marido. Enquanto espera que o bebé acorde, Clara vai recordando como conseguiu namorar Pedro e casar com ele. Não fora nada fácil. Gato escaldado de água fria tem medo, diz o povo e com razão.
Quando ele descobriu a traição, levou dois dias sem aparecer na rua, nem no trabalho. No terceiro dia quando voltou, não comentou nada com ninguém, e não falou mais da falecida. Era um homem diferente, não já revoltado, mas mais duro, mais duro, mais fechado, mais indiferente, como se o mundo à sua volta, tivesse deixado de lhe importar.
Clara, que desde os bancos da escola, sonhava o seu futuro com ele, propôs-se consegui-lo. Durante os meses que o navio levou até partir de novo para os bancos de bacalhau, quantas vezes ela se sentou a seu lado e ali ficou em silêncio como se fosse a sua sombra? E depois que ele partiu, quantas cartas escreveu, para o porto de St. John's, onde se abasteciam, sem receber resposta?
Quando ele voltou, Clara estava no cais, com a velha mãe de Pedro. E foi grande a desilusão quando ele agiu como se não a visse. Mas não desistiu. O amor que lhe tinha era demasiado grande. E a sua perseverança deu frutos, dois anos mais tarde.
Clara, que desde os bancos da escola, sonhava o seu futuro com ele, propôs-se consegui-lo. Durante os meses que o navio levou até partir de novo para os bancos de bacalhau, quantas vezes ela se sentou a seu lado e ali ficou em silêncio como se fosse a sua sombra? E depois que ele partiu, quantas cartas escreveu, para o porto de St. John's, onde se abasteciam, sem receber resposta?
Quando ele voltou, Clara estava no cais, com a velha mãe de Pedro. E foi grande a desilusão quando ele agiu como se não a visse. Mas não desistiu. O amor que lhe tinha era demasiado grande. E a sua perseverança deu frutos, dois anos mais tarde.
O bebé chorou, e ela sacudiu a cabeça, com se quisesse afastar as recordações e dirigiu-se ao berço. Mudou-lhe a fralda, e deu-lhe o peito. Acariciou a cabeça do filho, e enquanto ele se alimentava, deixou-se envolver de novo, pelas recordações. Um dia, Pedro olhou para ela, e pareceu vê-la de outra maneira. Ficou a fitá-la pensativo. O coração apaixonado de Clara ficou em sobressalto.
Uns dias depois pediu-lhe namoro. Não foi uma declaração apaixonada. Muito longe disso. Foi assim como se o homem, não visse nela a mulher, mas uma amiga, uma companheira. Alguém a quem se habituara, o único ser humano que parecia importar-se com ele, depois que a sua mãe morrera.
Clara aceitou. E teve que lutar contra os preconceitos dos próprios pais, que não viam com bons olhos, aquele namoro. Diziam eles, que um homem viúvo carrega recordações, sempre vai fazer comparações. Mas Clara manteve-se firme, contra tudo e contra todos. Confiou no seu amor, para lhe fazer esquecer as más recordações. E ganhou a batalha. Agora, - ela acreditava nisso, - Pedro amava-a tanto, quanto ela o amava. O filho acabou de mamar. Clara levantou-se, e com o filho ao colo foi até à janela.
O barco já tinha passado a ponte férrea que ligava o Barreiro ao Seixal, e dirigia-se para o local onde ia fundear. Clara apertou o filho ao peito, e correu para a velha ponte de madeira, que serve de cais, onde os pescadores vão desembarcar. Pelo caminho, Clara recordou aquele outro dia, cinco anos atrás. Mas que diferença entre um e outro. Hoje, Pedro, será dos primeiros a saltar para a lancha que o trará para terra. E como ela está ansiosa por o abraçar, e lhe mostrar o filhito, que ele ainda não conhece.
E ei-lo que galga as escadas, e chega perto dela. Abraça-a fortemente, de tal modo que o menino que ela tem no colo começa a chorar. Pedro pega o filho, com lágrimas nos olhos e ar desajeitado, e a criança chora ainda mais, assustada com aquele rosto desconhecido. Clara acalma o filho, e o marido enlaçando-a murmura emocionado, como numa prece:
E ei-lo que galga as escadas, e chega perto dela. Abraça-a fortemente, de tal modo que o menino que ela tem no colo começa a chorar. Pedro pega o filho, com lágrimas nos olhos e ar desajeitado, e a criança chora ainda mais, assustada com aquele rosto desconhecido. Clara acalma o filho, e o marido enlaçando-a murmura emocionado, como numa prece:
-Mulher...Mulher...
Amorosamente o olhar de Clara envolve o marido, e diz com emoção.
- Pedro! Meu Pedro!
Fim
Elvira Carvalho
Elvira Carvalho
30 comentários:
UAU!!! Emocionante e muito lindo esse final! valeu acompanhar mais essa! Adorei! bjs, chica
Uau... Afinal teve um final feliz. Adorei. Por vezes a vida dá voltas impensáveis.
Hoje:- Silenciada nas águas do rio.
.
Bjos
Votos de uma feliz Quinta-Feira.
boas
embora homem não me escapou uma lagrima no canto do olho. !!1
JAFR
Boa tarde Amiga Elvira!
O meu aplauso para mais um final feliz. Adorei este conto. Um final até emocionante! :)
Beijo e um excelente dia
Adorei a história, tão bem contado como é seu costume.
E fez-me recordar histórias parecidas, dado que morriam bastantes pescadores no bacalhau (sou de Viana e, por isso, vivi muito de perto essas e outras tragédias dos pescadores). E, por experiência profissional, sei como eram as condições de habitabilidade, de higiene e de segurança dos navios bacalhoeiros daquele tempo. Eram autênticas prisões flutuantes em que os ocupantes só faziam trabalhos forçados. E o cheiro erra terrível, indescritível... Uma das poucas coisas boas que fizeram foi o navio hospital Gil Eanes, construído em 1955, que dava apoio aos pescadores doentes e acidentados. Como escritora destes temas (já li vários contos seus que abordavam estes temas, desde a seca do bacalhau, etc.), devia visitar o Gil Eanes, que foi recuperado e está numa doca em Viana (se calhar já lá foi...).
Desculpe comentário tão comprido, mas saiu assim...
Continuação de boa semana, amiga Elvira.
Beijo.
Estou voltando, hoje, aqui,
no fim desde conto maravilhoso
gostei das palavras que aqui li
diga as verdades não sou mentiroso!
Tenha uma boa tarde amiga Elvira.
Um abraço,
Bonito conto e com um belo final. Gostei!
Olá, Elvira
Cheguei mesmo no final desta história e.ainda bem um final feliz.
Fui ler o conto que pôs a concurso e gosteimuito. Bj Olinda
Estava aqui em expectativa até ao fim! Adorei!!! Lindo!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Maravilhoso eu adoro histórias com final Feliz pena só ter chegado no final.
Bjs
Mais uma bela história, Elvira. Parabéns pela produtividade.
Beijinhos
Uma bonita história de amor e perseverança, com um final lindo e feliz, como se deseja.
Por morrer uma andorinha não acaba a Primavera, e o Pedro merecia uma nova chance da vida: ser amado e respeitado. Muito bem!
Um abraço e que venha o seguinte.
Vidas sofridas e um final feliz.
Cumps
Que lindo final. Gostei tanto.
Até o coração mais empedernido derrete perante a visão de um filho.
Bfds
E que venha a próxima história!
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Bom dia. Tudo é esquecido e lindo de viver quando acaba bem.
E se o marido chega da pesca... adivinha-se que...lá vai vir outro bebé, lol
.
* Rascunhos poéticos, estados de alma, em livro fechado *
.
Votos de uma Feliz Sexta Feira.
Mais um final feliz para esta bela história.
Um abraço e bom fim-de-semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Que bom que os dois conheceram o amor-companheirismo... E foram felizes p sempre!
Gostei do conto que foi curtinho e com um fim muito alegre...
Bjs e bom final de semana
Vidas de grandes desgostos mas que são foram compensados pelo amor que os uniu.
Mesmo ao meu jeito.
Beijinho grande e bom fim de semana.
Simplesmente divino, terno e emocionante, amei!
Oi Elvira.
Quando faço postagens polêmicas, mas não deu tempo o Gil postou. Depois não deixei fazer mais por segurança.( só eu as vejo).
Uma linda noite
Beijos
Lua Singular
Gostei do conto, Elvira ! ... Muita realidade. Aquele tempo era mesmo assim.
Mulher de pescador bacalhoeiro também sofre de muitas maneiras, assim como eles !
E aqui, mais uma prova de que o amor acaba por vencer e também que a iniciativa da mulher, por vezes e contra o hábito, é muito importante para que tudo se concretize !
Abraço
Muito lindo Elvira.
O final foi emocionante. Parabéns por mais um conto tão bem escrito.
Um abraço!
Parabéns, gostei muito!
Boa tarde Elvira,
Dou por terminada a leitura deste emocionante conto!
Parabéns mais uma vez!
Adorei.
Beijinhos,
Ailime
Ola Elvira estou sempre me atrasando ultimamente nos comentários, o que não significa que não leio. Leio e gosto muito de tudo que você escreve, isto meus atrasos se devem a problemas pessoais, mas aqui estou lendo postagens atuais e outras.
Desculpe o meu mau jeito, amo ler seus contos.
Com carinho Léah
Mais um bonito final. Gostei da história :)
Que lindo final,Elvira
O universo conspirou a favor e o amor venceu !
Adorei
Mais uma história/estória que se finda e deixa a gente com cara de quero mais. Adorei Elvira! Parabéns!
Abraços,
Furtado
Enviar um comentário